O que aconteceu por trás de 10 imagens históricas

Por , em 24.06.2015

Será mesmo que uma imagem vale mais que mil palavras? Em alguns casos, como o das imagens abaixo, talvez não. Confira as histórias interessantes por trás de algumas das mais emblemáticas imagens da humanidade:

10. “The Roaring Lion”, por Yousuf Karsh

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Muitas pessoas não sabem que o título desta fotografia é “The Roaring Lion” (em português, algo como “O Leão Rugindo”), mas ainda assim ela é uma das imagens mais icônicas de Winston Churchill, por mostrar um líder de olhos de aço em um momento de crise.
Na realidade, porém, Churchill não estava querendo revelar seu punho firme, mas sim estava apenas aborrecido porque o fotógrafo lhe tirou seu charuto.

A imagem foi feita em 30 de dezembro de 1941. Churchill estava em turnê pelos Estados Unidos e Canadá para discutir a guerra e tinha acabado de dar um discurso para a Câmara dos Comuns em Ottawa. Ele entrou em uma sala com um charuto e uma bebida na mão e deu de cara com um fotógrafo ajeitando suas luzes. Era Yousuf Karsh, um famoso retratista, que percebeu que Churchill não tinha sido informado da sessão de fotos. Mesmo assim, o primeiro-ministro concedeu-lhe dois minutos. Colocou de lado seu copo, mas recusou-se a abrir mão de seu charuto. O ousado Karsh, no entanto, pouco antes de fazer a foto, se esgueirou até Churchill, pediu perdão e arrancou o fumo de seus lábios. O resultado foi um líder irritado e uma das imagens mais alegóricas da história.

9. “Retrato de Colombo”, por Sebastiano Del Piombo

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A pintura acima é a imagem mais conhecida de Cristóvão Colombo, feita pelo mestre veneziano Sebastiano del Piombo. O único problema é que pode não ser de Colombo.

Embora a inscrição na pintura seja “da Ligúria Colombo, o primeiro a entrar num barco para o mundo dos Antípodas 1519”, a data sugere que a pintura foi feita 13 anos depois que Colombo morreu, o que por sua vez indica que del Piombo pintou Colombo a partir de descrições. Isso sem contar que a inscrição foi provavelmente acrescentada muito depois de a pintura ser concluída, de forma que ela poderia não ter sido de Colombo.

O fato é que não existe nenhum retrato definitivo de Colombo. Há uma lenda que a rainha Isabel ordenou um retrato do almirante, mas nenhuma pintura do tipo foi encontrada. Apesar de ser tão conhecido hoje, Colombo foi considerado um fracasso na sua época por não cumprir sua promessa de vastas riquezas, por isso é possível que o seu retrato, se é que existiu, tenha sido destruído ou apagado para ser reutilizado em outra pintura.

No total, cerca de 70 pinturas que pretendiam mostrar Colombo foram recolhidas ao longo dos anos, mas nenhuma pode ser certificada como autêntica.

8. Lennon e Yoko na capa da “Rolling Stone”, por Annie Leibovitz

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A imagem de um John Lennon nu deitado sobre Yoko Ono foi uma das capas mais controversas (e bem sucedidas) da Rolling Stone. A sessão de fotos aconteceu em 8 de dezembro de 1980. A imagem foi feita pela famosa fotógrafa Annie Leibovitz, responsável por algumas das imagens mais emblemáticas da cultura pop.

Uma história diz que, apesar de Lennon estar totalmente confortável em tirar sua roupa, Ono queria permanecer vestida. Outra afirma que Ono estava disposta a tirar sua blusa, mas Leibovitz achou que a foto ficaria melhor se ela mantivesse suas roupas.

Seja qual for a verdade, Leibovitz só fez uma única foto. Ela a mostrou para Lennon, que ficou em êxtase com o resultado, proclamando que tinha “capturado a sua relação exatamente”, insistindo que fosse a capa da revista. Todos ficaram felizes com o resultado e a sessão de fotos acabou. Apenas cinco horas mais tarde, John Lennon foi declarado morto após ser baleado por Mark David Chapman, tornando essa a última fotografia tirada do ex-Beatle.

7. “O coração do Rei”, por Luiz Paulo Machado

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Essa fotografia é certamente uma das imagens mais clássicas de Pelé e uma de suas fotos mais conhecidas no mundo. Para o rei do futebol, “é um registro que só Deus pode explicar”. Para Luiz Paulo Machado, é sua obra-prima. “É uma foto reconhecida mundialmente. Sem dúvida, é minha foto mais importante”.

O que mais chama a atenção na imagem é o suor na camiseta de Pelé, que forma o desenho de um coração. A versão que a foto teria sido simulada já foi desmentida dezenas de vezes. “Ainda hoje há quem me pergunte se não foi Photoshop, sempre tenho de explicar que isso nem existia naquela época”, afirmou o fotógrafo.

Outro fato curioso sobre a foto é que ela foi inúmeras vezes atribuída à data errada, inclusive em um livro com edição limitada caríssimo que reúne imagens de Pelé. Primeiro, se acreditava que o flash tinha ocorrido em 18 de julho de 1971, durante o empate em 2 x 2 entre Brasil e Iugoslávia no Maracanã, na despedida do rei com a camisa da seleção brasileira. Depois, foi dito que a imagem era de 30 de setembro de 1970, durante o jogo Brasil 2 x México 1, também no Maracanã. A verdade?

A PLACAR, revista responsável pelo clique, arquivou a imagem na Editora Abril em branco, sem qualquer informação que pudesse esclarecer a questão. A confusão reinou até o pessoal da editora fazer uma extensa pesquisa e chegar à conclusão de que a foto “O Coração do Rei” foi feita no dia 6 de outubro de 1976, no amistoso beneficente Brasil 0 x 2 Flamengo, em memória ao craque flamenguista Geraldo “Assoviador”, falecido tragicamente após uma malsucedida operação de retirada de amídalas. A foto original, sem cortes, é a prova incontestável de que Pelé ganhou o registro de Machado naquele dia, já que mostra um jogador do Flamengo no canto esquerdo da imagem (veja abaixo).
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6. “Provérbios Neerlandeses”, por Pieter Bruegel, o Velho

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Muitos artistas gostam que suas obras tenham uma interpretação aberta. Não é o caso do pintor holandês do século 16 Pieter Bruegel, o Velho, como evidenciado por uma de suas mais famosas pinturas, “Provérbios Neerlandeses”.

Feita em 1559, a imagem mostra uma aldeia cheia de seres humanos envolvidos em várias atividades. O que eles estão realmente fazendo é ilustrando literalmente provérbios e expressões idiomáticas do holandês. Muitas dessas frases não estão mais em uso ou não são conhecidas fora dos Países Baixos. No entanto, há algumas expressões populares em vários lugares até hoje.

Por exemplo, “Bater a cabeça contra a parede” é destaque no canto inferior esquerdo da pintura. “Armado até os dentes” está ao lado. Acima, dá para identificar a expressão “O mundo virou de cabeça para baixo”.

Existem mais de 110 provérbios e expressões idiomáticas escondidos na pintura. Apenas uma imagem pode ilustrar vários provérbios. Por exemplo, perto do canto superior direito, dois bumbuns saem de uma janela. Isso por si só tem três significados. “Ele paira como uma latrina sobre uma vala” significa que algo é óbvio. A mão que aponta através do buraco da mesma janela significa “Qualquer um pode ver através de uma tábua de carvalho, se houver um buraco nela”, ou seja, não há nenhuma razão em afirmar o óbvio. A terceira expressão é “Eles defecam/fazem porcaria pelo mesmo buraco”, que significa que duas pessoas são melhores amigas/inseparáveis.

5. “O suicídio de Vladimir Herzog”, por Silvaldo Leung Vieira

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Essa fotografia famosa tornou-se um símbolo da repressão promovida pela ditadura militar no Brasil. Feita em 25 de outubro de 1975 nas dependências do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações — Centro de Operações de Defesa Interna), em São Paulo, ela mostra o jornalista Vladimir Herzog enforcado com um cinto.

Mais de três décadas depois, a verdade finalmente veio à tona, inquestionável: o fotógrafo Silvaldo Leung Vieira, autor do registro, afirmou em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo” ter sido usado pela ditadura para forjar uma cena de suicídio.

É claro que a suspeita já existia há muito mais tempo. Logo depois do DOI-CODI divulgar nota oficial informando que Herzog havia cometido suicídio na cela em que estava preso, essa versão da morte foi refutada por movimentos sociais de resistência à ditadura militar. Uma semana após a morte do jornalista, cerca de oito mil brasileiros participaram de uma missa ecumênica organizada por D. Paulo Evaristo Arns, pelo reverendo James Wright e pelo rabino Henri Sobel.

4. Pessoas jogando tênis nas asas de um biplano

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Talvez você já tenha visto essa imagem sem nome, tirada em 1925, na qual duas pessoas jogam tênis nas asas de um biplano em pleno voo. Na época, não era realmente esperado que a foto ficasse famosa, mas ela acabou se tornando o símbolo dos barnstormers – pilotos que voavam pelos EUA vendendo passeios de avião e realizando acrobacias neles.

A prática começou a tornar-se popular na década de 20. Um homem chamado Ormer Locklear popularizou as acrobacias de avião extremas, particularmente andar sobre a asa, algo com o qual ele havia se acostumado durante a Primeira Guerra Mundial, quando saía da cabine de seu avião para corrigir problemas mecânicos.

As duas pessoas nessa foto são Gladys Roy e Ivan Unger. Roy foi uma das barnstormers mais populares de sua época. Ela era conhecida por criar novas acrobacias radicais, desafiando a morte. Entre suas façanhas mais notáveis estão andar de uma asa para outra do avião com os olhos vendados e dançando. Na imagem acima, Roy e Unger estavam fingindo jogar tênis para posar para um cartão postal. Infelizmente para Gladys, ela não desfrutou muito de sua fama, morrendo dois anos depois, quando se chocou com uma hélice girando devido à desatenção.

3. “Retrato de Adele Bloch-Bauer I”, por Gustav Klimt

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O simbolista austríaco Gustav Klimt pintou este quadro em 1907, junto com um outro retrato de Adele Bloch-Bauer, a mando de seu marido, o industrial Ferdinand Bloch-Bauer. Ferdinand também foi um dos principais apoiantes de Klimt. Durante a maior parte do século passado, a pintura ficou no centro de uma batalha longa e controversa por sua posse.

Os Bloch-Bauer tinham cinco pinturas feitas por Klimt. Adele queria que todas fossem para o Museu de História da Arte em Viena depois de suas mortes. Ela morreu em 1925, e Ferdinand viveu mais 20 anos. No entanto, em 1938, a Alemanha nazista anexou a Áustria e prontamente confiscou as pinturas de Klimt, enquanto Bloch-Bauer fugiu para Zurique. Em 1941, os nazistas venderam as pinturas para a galeria austríaca.

Quando Bloch-Bauer morreu, ele queria que as pinturas ficassem com seus herdeiros. Na hora de devolver os bens roubados pelos nazistas, no entanto, o governo austríaco decidiu manter as pinturas de Klimt. Isto provocou uma longa batalha judicial entre a Áustria e os herdeiros de Bloch-Bauer. Cada lado tinha seus próprios argumentos convincentes. O governo austríaco afirmou ter comprado as pinturas legalmente (mais ou menos…) e que Adele Bloch-Bauer às tinha legado à sua galeria de qualquer maneira. Os herdeiros, por sua vez, diziam que Ferdinand era o verdadeiro proprietário das pinturas roubadas pelos nazistas, e ele as havia legado para seus filhos. A questão foi finalmente resolvida em 2006, quando os tribunais decidiram a favor dos herdeiros. O retrato então rendeu US$ 135 milhões em leilão.

2. “Retrato de Dr. Gachet”, por Vincent Van Gogh

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Paul Gachet foi um médico bem-sucedido do século 19. Vivendo em Paris, Gachet costumava tratar artistas, incluindo Cézanne, Manet, Renoir e Pissarro. O profissional também cuidou de Vincent van Gogh, nos meses que antecederam seu suicídio (o que levou a um debate de quão útil o médico realmente era).

Cartas de Van Gogh a seu irmão, Theo, diziam que Gachet era inútil, pois era ainda mais doente do que o seu paciente. Independentemente disso, Gachet até posou para dois retratos do pintor. Um deles permaneceu na família Gachet até que foi legado ao governo francês. Esse quadro foi acusado de ser uma farsa, talvez até mesmo pintado pelo próprio médico.

O mais famoso retrato passou algumas décadas no Museu Städel, em Frankfurt, até que foi confiscado em 1937 pelos nazistas. Herman Goering vendeu a pintura a um banqueiro, que, por sua vez, vendeu-a ao coletor Siegfried Kramarsky. Siegfried trouxe o quadro para a América onde ele ficou até 1990, quando foi vendido por um preço recorde de US$ 82,5 milhões para um empresário japonês, que causou uma grande polêmica quando anunciou que queria levar a pintura com ele quando morresse. Desde sua morte, em 1996, o paradeiro da pintura é um mistério.

1. “Pálido Ponto Azul”, por Voyager 1

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Voyager 1 é uma sonda lançada pela NASA em 1977 para uma missão ainda em curso hoje. Ela é o objeto mais distante no espaço feito pelo homem.

A principal meta da sonda era fazer voos rasantes de Júpiter e Saturno, tirar algumas fotos e estudar os planetas. Depois que nos forneceu muitas informações sobre o nosso sistema solar, Voyager continuou passeando para fora dele. Neste momento, ela está viajando a cerca de 17 quilômetros por segundo, em direção a Nuvem de Oort.

Em 1990, a Voyager 1 estava a cerca de 6 bilhões de quilômetros de distância de nós. Por insistência de Carl Sagan, que fazia parte da equipe da Voyager, a sonda estava programada para virar e fotografar um mosaico de nosso sistema solar com 60 frames individuais, mostrando seis planetas. Uma vez que a Voyager gravou as imagens, enviou-as lentamente ao longo dos próximos três meses para a equipe na Terra.

Dos 60 frames, um deles mostrava nosso minúsculo planeta. Nomeada “Pálido Ponto Azul”, a imagem tem 640 mil pixels, sendo que a Terra representa menos do que 1 pixel (estamos no meio da faixa marrom claro). Sagan baseou todo um livro em torno desse frame, ponderando como uma imagem é capaz de mostrar o nosso verdadeiro lugar no universo.

Bônus: “A garota de Ipanema”, por Milan Alram

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Essa imagem está aqui por uma curiosidade histórica. Feita em março de 1960 pelo fotógrafo francês Milan Alram, na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, ela mostra a bela Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto Pinheiro, mais conhecida como Helô Pinheiro, que só dois anos depois seria imortalizada por Vinícius de Moraes e Tom Jobim na canção “Garota de Ipanema”, uma das músicas mais executadas no mundo.

Parece que Helô era uma modelo, mas não. Ela era uma simples menina de doce balanço que encantou os poetas. Considerada o hino da bossa nova, a canção dedicada a ela composta por Vinicius e musicada por Tom Jobim estourou no mundo todo, que queria mais do que tudo saber quem era a tal garota. Muitas mulheres se disseram musa inspiradora da canção, mas foi o próprio Vinicius quem fez a revelação pública do nome de Heloísa Pinheiro. Diversos nomes da época se revelaram apaixonados por ela, incluindo o maestro Jobim, que chegou a pedi-la em casamento. [Listverse, OVersoDoInverso, PLACAR, G1]

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