10 idiomas com peculiaridades muito bizarras

Por , em 16.03.2015

Como qualquer um que já tentou pode dizer, a aprendizagem de uma língua é difícil. Mesmo algo como o inglês, que tem uma estrutura frasal mais simples do que o português, são necessários alguns semestres de dedicação para que alguém seja semi-fluente.

E quanto mais longe nos afastamos de línguas com raízes latinas, mais as regras gramaticais são de deixar qualquer um louco. Veja:

10. O tuyuca exige que você explique tudo

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Quando ensinamos nossas crianças a falar, passamos mensagens superfáceis. É por isso que os livros de bebês estão cheios de frases básicas, como “o menino brincava com a bola”. Se os nossos filhos conseguem entender essas frases curtas e simples, podemos, eventualmente, movê-los para coisas mais complexas. Não é assim para os falantes do Tuyuca. Desde o início, até mesmo as frases mais simples exigem que você explique tudo.

Tuyuca é uma língua falada por menos de mil indígenas no Brasil e não permite que você simplesmente afirme alguma coisa. Em vez disso, você é obrigado a incluir referências a como você sabe daquilo. Então, ao invés de dizer “o menino brincava com a bola”, você tem que dizer algo como “o menino brincava com a bola e eu sei disso porque eu o vi”. A coisa mais próxima que eles têm para situações hipotéticas é “o menino brincava com a bola, eu presumo”.

E não são apenas as explicações que fazem do Tuyuca difícil de aprender. De acordo com algumas contagens, ele tem até 140 gêneros, incluindo um exclusivamente para objetos que se assemelham à casca de árvore.

9. O chalcatongo mixtec faz perguntas impossíveis

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Você já pensou no quão fácil é fazer perguntas em português? Basicamente, só precisamos colocar a interrogação no final e mudarmos a entonação da frase. Mas uma pergunta em voz alta na chalcatongo mixtec é bastante confusa. Isso porque esta língua não tem nada para indicar se a pessoa está interrogando ou apenas fazendo uma declaração.

Falada por alguns milhares de pessoas em toda a região de Oaxaca, no México, a chalcatongo mixtec foi estudada o suficiente para ter garantido a publicação de pelo menos um livro de gramática. Em toda esta pesquisa, ninguém jamais encontrou qualquer evidência para perguntas de sim ou não na língua. As questões, em si, existem, mas cabe a você identificá-las, porque o cara que está perguntando com certeza não vai ajudá-lo. Não há entonação ou variáveis de tom para que você saiba se estão esperando que você responda ou não. A única coisa que você tem como aliado é o contexto.

8. Línguas aborígines da Austrália são como um jazz insano

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Graças a seu isolamento quase total por dezenas de milhares de anos, as línguas aborígenes da Austrália são um grupo único. Embora não tão loucas como algumas línguas baseada em cliques, elas ainda soam bastante esquisitas aos nossos ouvidos ocidentais. Elas também contêm uma peculiaridade linguística totalmente estranha às nossas raízes latinas e germânicas. De acordo com a Enciclopédia Britânica, a maioria das línguas aborígenes têm absolutamente nenhuma ordem fixa de palavras.

Na prática, isso significa que uma conversa pode pular e fluir e se embaralhar como um solo de jazz particularmente intenso, com palavras que aparecem ao menor capricho. Então, ao invés de dizer “esta linguagem livre é bastante impressionante”, você poderia dizer “linguagem livre é impressionante bastante esta”, ou “linguagem bastante livre é esta impressionante” ou qualquer uma das diferentes combinações possíveis. E as pessoas ainda vão saber exatamente o que você quer dizer.

Agora, continuando com nossa analogia, devemos salientar que há regras. Assim como jazz exige uma estrutura subjacente à qual você pode improvisar ao redor, as línguas aborígenes exigem que você adicione sufixos que indiquem às pessoas como decodificar suas declarações. Mas, uma vez que você dominar esses instrumentos, pode dizer as coisas em qualquer ordem desejada.

7. O tailandês tem uma forma especial que você usa somente com o rei

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É difícil dizer com alguma objetividade quão popular o rei da Tailândia realmente é. Por um lado, as pessoas muitas vezes falam dele com profundo afeto. Por outro lado, ele já foi alvo de 10 tentativas de golpe e a lei proíbe a qualquer pessoa falar mal dele. No entanto, não há nenhuma ambiguidade sobre a sua posição quanto à linguagem, porque o tailandês tem uma forma especial que você só usa quando se discute ou fala com o rei.

Conhecido como rachasap, o “vocabulário real” já tem mais de 700 anos de idade. Em todo esse tempo, ele mudou pouco. Usando uma combinação de antigas palavras Khmer e prefixos ligados ao tailandês comum, ele é ao mesmo tempo muito semelhante e notavelmente diferente de outras formas da língua. Apesar de muitas pessoas que vivem na Tailândia conseguirem compreender facilmente o rachasap, é aparentemente muito complicado falar perfeitamente, algo que não é ajudado pela falta de oportunidades para a maioria dos tailandeses de praticá-lo (quantas vezes você vai ao cinema ou dá uma voltinha no parque com um rei?). No entanto, ele ainda é usado regularmente em programas de notícias e durante anúncios oficiais sobre o que o déspota anda fazendo.

6. O berik é obcecado com o tempo

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Uma das coisas mais legais do português é o quão ambíguo ele pode ser. Quando alguém pergunta onde nós estivemos, podemos apenas dizer: “Eu estava no bar”, sem ter que adicionar “até a hora de fechar, quando eu acabei a noite vomitando na sarjeta”. Mas nem todos os idiomas têm essas brechas convenientes. Para os falantes do berik, na Nova Guiné, muitas vezes é obrigatório indicar exatamente quando algo aconteceu.

Uma vez que as frases temporais são codificadas no final dos verbos berik, é frequentemente impossível afirmar algo sem dar esta informação vital. Assim, enquanto podemos dizer, “Eu fui beber”, falantes do berik teriam que dizer especificamente, “Eu fui beber no meio do dia”. E não para por aí. Quando objetos estão envolvidos, os verbos berik são alterados para indicar o tamanho deles, de modo que você pode ter uma única palavra curta que significa “Eu dei seis objetos para uma menina ao luar”.

Como uma última peça de confusão, alguns verbos também exigem que você indique o lugar. Isto significa que qualquer pessoa que você está falando saberá automaticamente não só quando e onde a ação que você está descrevendo ocorreu, mas também o quão grande quaisquer objetos envolvidos eram. Com uma linguagem tão específica, quaisquer ambiguidades que poderiam estar escondidas nas entrelinhas vão pelos ares.

5. ABSL quebra todas as regras conhecidas


Embora o português contenha cerca de 600 mil palavras, o número de sons que usamos é muito limitado. O sistema fonológico do português contém somente 31 ruídos que compõem a totalidade absoluta da comunicação na nossa língua mãe. Imagine um monte de blocos de lego: coloque três juntos de um jeito e você vai fazer uma palavra. Ao montá-los de outra maneira você consegue uma palavra diferente. Este método de construir palavras a partir da repetição de sons simples é a forma como todas as línguas vocais na Terra funcionam. No caso das línguas de sinais, as coisas ficam mais complexas – mas nenhuma se compara à Língua dos Sinais dos Beduínos de Al-Sayyid (ABSL, do inglês Al-Sayyid Bedouin Sign Language).

Uma nova língua falada apenas por um punhado de pessoas no deserto do Negev, em Israel (onde um número insano de crianças são surdas desde o nascimento), a ABSL contém zero sinais de repetição. Se para você é difícil entender como isso funciona, imagine se cada palavra neste artigo tivesse o seu próprio som, completamente original, para representá-la. Não haveria repetição de sons, e até mesmo os mais onipresentes praticamente desapareceriam. Isso é a ABSL: cada substantivo, verbo e adjetivo tem o seu próprio sinal único que não empresta nem mesmo um pouquinho de outro sinal.

O que é realmente incrível é que mesmo outras linguagens de sinais usam o método dos blocos de lego para a construção de palavras e frases mais longas. Alguns têm teorizado que ABSL é simplesmente demasiado nova para ter chegado a este ponto e estará de acordo com o modelo padrão quando seus falantes ficarem sem sinais. Por enquanto, porém, esta linguagem escondida nos confins da Terra Santa continua a ser absolutamente única.

4. O tempo não existe no pirarrã

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Falada somente por uma única tribo brasileira, o pirarrã é único em muitas, muitas maneiras. Nós já contamos um pouco da sua história e da sua falta de palavras para cores e números, mas a parte mais estranha é que a língua desta tribo amazônica não tem qualquer noção de tempo.

Isso significa que é fisicamente impossível para falantes construírem uma frase referindo-se ao passado ou ao futuro. Embora possamos dizer algo como “Eu prometo que vou trabalhar um pouco assim que eu terminar de ler esta lista”, os pirarrã – também chamados de piraãs, pirahãs ou mura-pirahãs – só conseguiriam dizer: “Eu termino esta lista, eu faço o trabalho”. Não há nenhuma maneira de indicar se você trabalhou, está trabalhando ou está indo trabalhar; todas as comunicações estão firmemente presas no momento presente.

O resultado é uma cultura que não tem quase nada a dizer sobre o seu próprio passado ou futuro. De acordo com o linguista Daniel Everett, que viveu com os pirarrã em idas e vindas durante sete anos, “toda a experiência está ancorada no presente”. As mães pirarrã não contam contos de fadas, os homens pirarrã não se gabam a respeito de feitos do passado e as crianças pirarrã basicamente esquecem dos seus avós assim que eles morrem. Embora tenha havido um processo de abertura e mudança na cultura graças a um projeto de educação do governo, ainda é desconhecido como essas novas tentativas afetarão o futuro da língua piararrã.

3. Frases alemãs são como correr uma maratona

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Para uma linguagem tão intimamente relacionado com o inglês, tão ensinada no mundo todo, o alemão certamente traz um monte de problemas para quem está começando o aprendizado. Um problema advém do uso de palavras compostas. Em alemão, é totalmente possível dizer:

Rindfleischetikettierungsüberwachungsaufgabenübertragungsgesetz

Isso é uma única palavra, com 63 letras, que significa “a lei sobre a delegação de atribuições para a supervisão da marcação de gado e à rotulagem da carne”. Mas tudo isso sem nenhum espacinho para respirar? É, nem uma pausinha para os mais fracos.

E se nós dissermos que mesmo essas palavras compostas dignas de maratonistas são mamão com açúcar quando comparadas às sentenças alemãs, que não só continuam para sempre, mas também o deixam em um estado de suspense até o fim?

Graças a um capricho da estrutura frasal, os verbos alemães aparecem no final das frases. Então, ao invés de dizer “Eu jogava futebol na casa do meu pai na terça-feira”, você diria algo como “Na casa de meu pai na terça-feira, eu jogava futebol”. Embora isso não seja um problema em frases curtas, faz uma baita uma diferença nas mais longas – e algumas frases alemãs parecem durar até o fim dos tempos. Isto significa que você tem que esperar pacientemente, conhecendo todos os detalhes de quando, onde, como, porquê e para quem algo aconteceu antes de finalmente descobrir o que era esse “algo”.

Como uma dor de cabeça adicional, o negativo também aparece no final da frase. Então, podemos suportar dois minutos de uma história complicada apenas para descobrir, no fim, que nada disso realmente aconteceu. O equivalente mais próximo na língua portuguesa seria uma aquisição recente, muito comum na internet: ouvir alguém contar uma história longa e complexa, só para o narrador, de repente, gritar: “Só que não!” ao terminar.

2. Burushaski é incrivelmente sensível ao ruído

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Uma língua paquistanesa falada por cerca de 90 mil pessoas que vivem no norte do país, a burushaski é completamente original. Até hoje, os linguistas ainda tentam encontrar outra língua com quaisquer semelhanças genéticas com esta, uma afirmação que é duplamente impressionante quando você percebe que mesmo algumas das línguas mais estranhas nesta lista são parte de famílias de línguas maiores. Ela também tem várias características totalmente alheias à nossa maneira de falar, a mais proeminente delas sendo, provavelmente, a sua sensibilidade ao ruído.

Em português, temos a tendência de indicar o volume através do uso de intensificadores e descrição. Poderíamos dizer “A porta se abriu suavemente” ou “A porta se abriu com um rangido”, ou mesmo apenas “Ele ouviu a porta abrir”. Para falantes burushaski, esta não é uma opção. Em vez disso, a própria palavra muda de acordo com o quão alto ou suave é aquela ação.

Para usar o nosso exemplo da porta, o burushaski tem três palavras diferentes para representar a abertura de uma porta: aquela que você usa quando ela se abre muito suavemente, aquela que você usa quando ela se abre suavemente (mas não muito suavemente) e aquela que você usa quando ela se abre com um barulho alto. Isso muitas vezes faz com que o sentido das frases seja muito preciso, especialmente se você está falando de algo que envolve muitos sons.

1. O klingon é completamente insano


Provavelmente a mais famosa linguagem ficcional do mundo, o klingon tem três dicionários, uma tradução de “Hamlet” e uma ópera publicada. Criado pelo linguista Marc Okrand para “Jornada nas Estrelas III” em meados dos anos 1980, ela vai buscar suas referências em dezenas de línguas reais, incluindo (mas não limitada a) japonês, turco, moicano, hindi, árabe e iídiche. É também uma das línguas mais difíceis para aprender no mundo, porque a gramática é totalmente insana.

Em muitas línguas românicas modernas, as terminações de verbos podem mudar para indicar o numeral. Por exemplo, verbos espanhóis, assim como em português, mudam um pouco, dependendo se você quer dizer “eu” fiz algo ou “nós” fizemos alguma coisa. A maioria das línguas que usam este método tem talvez seis ou sete formas diferentes de conjugar o verbo – na nossa norma culta: “eu”, “tu”, “ele”, “nós”, “vós”, “eles”; além disso, temos o informal “a gente”. O klingon tem 29.

Como os verbos klingon exigem que você indique a identidade e número tanto do sujeito quanto do objeto, falar uma frase coerente rapidamente se torna um pesadelo linguístico. Para piorar a situação, há 36 sufixos verbais adicionais que indicam coisas como causalidade, posse e o quão precisa o orador julga que é a sua declaração.

Como é tão insanamente complicada, estima-se que apenas entre 20 e 30 pessoas na Terra possam falar klingon com algum grau de fluência. E isso independente de quantas vezes você já a tenha visto em fóruns de “Jornada nas Estrelas”. [Listverse]

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