Máquina caseira contra o câncer parece promissora

Por , em 22.10.2009

John Kanzius não tinha uma formação em medicina ou ciência, e nem foi à universidade. Mesmo assim, quando teve que encarar uma forma letal de leucemia, ele criou uma máquina caseira para o que ele acreditava ser uma cura para câncer.

Utilizando as formas de torta de sua esposa e equipamentos de emissão de ondas de rádio, o seu objeto de trabalho, Kanzius construiu uma máquina na sua garagem. A sua esperança era que sua criação pudesse acabar com as células cancerosas sem os terríveis efeitos colaterais da quimioterapia e da radioterapia convencional.

Ele foi diagnosticado com leucemia em 2002 e perdeu a luta contra o câncer em 18 de fevereiro de 2009, mas neste tempo, em vez de se contentar com o tratamento que recebia, Kanzius quis criar algo novo. Depois de mais de 30 sessões de quimioterapia, Kanzius afirmava que a doença estava destruindo a sua mente e seu corpo. “Eu achava que ninguém poderia estar tão mal e ainda vivo”, disse ele em uma ocasião.

Foi então que ele resolveu experimentar sozinho a maquina que havia construído. Em agosto de 2008, Kanzius já havia utilizado o seu tratamento alternativo nove vezes, e seus exames tinham melhorado durante aquele período. “Estou de férias do câncer agora. Não sei se será uma saída permanente, mas agora estou livre”·

A máquina de Kanzius

O seu tipo de câncer, extremamente difícil de tratar, foi o que deu ânimo para que Kanzius criasse a sua máquina. A sua ideia era que as ondas de rádio, transmitidas através de um pequeno campo magnético, criassem energia suficiente para acender uma lâmpada fluorescente, por exemplo. Essas ondas de rádio, que ele insistia que eram inofensivas, têm a capacidade de aquecer metal.

Foi então que ele pensou que, se injetasse algum tipo de metal nas suas células cancerosas, ele poderia esquentar e matar essas células com as ondas de rádio. A primeira experiência de Kanzius foi com uma salsicha de cachorro-quente. A “cobaia” recebeu uma injeção de metais e depois uma sessão na máquina de Kanzius. Quando a máquina foi usada, a temperatura aumentou apenas no local onde o metal tinha sido injetado.

A criação intrigou Steven Curley, cirurgião especializado em câncer de fígado do Instituto de Câncer em Houston, nos Estados Unidos. Curley achou que a ideia de Kanzius tinha tanto potencial que começou a utilizá-la para fazer pesquisas próprias, utilizando nanopartículas de ouro que eram atraídas pelas células cancerosas.

Kanzius, entretanto, não queria ter que esperar por todas as aprovações formais e testes clínicos com sua máquina, que poderiam demorar anos. Assim, ele começou a testar a máquina sozinho, sem contar ao médico. Neste caso, ele fazia os experimentos sem injetar nenhum tipo de metal em seu corpo. Kanzius tinha uma teoria – não comprovada – que as células de leucemia atraem as ondas de rádio naturalmente.

Para verificar se a sua sensação de melhora era verdadeira, ele realizava testes sanguíneos após as sessões na sua máquina. O patologista Peter Depowski comparou os resultados dos exames de Kanzius de antes e depois de usar a máquina. Ele afirma que, na comparação, os exames se aproximam cada vez mais daqueles de uma pessoa saudável.

Mas isso significa que a máquina funcionou? Depowski afirma que não: apesar da euforia do paciente, os nódulos linfáticos do seu estômago estavam cheios de células cancerosas. Além disso, Curley afirma que a melhoria do paciente poderia estar relacionada ao fato que ele tinha parado de fazer sessões de quimioterapia há alguns meses, o tempo que o corpo leva para se recuperar e voltar a um estado normal e saudável.

O médico acredita que o tratamento caseiro feito por Kanzius, sem a injeção de metal nas células da leucemia, não teve o efeito esperado pelo paciente.

Quando voltou a fazer quimioterapia para tratar as células cancerosas no seu estômago, Kanzius resolveu utilizar a sua máquina junto com o tratamento convencional. Uma semana depois, John foi internado com 40° de febre, e seu corpo começou a parar de funcionar. Curley afirma, entretanto, que foi a doença e a quimioterapia que desabilitaram o corpo de Kanzius, e não o seu tratamento por conta própria.

Quando teve uma melhora significativa, ele foi encaminhado para fazer uma tomografia, que mostrou que as células do seu estômago continuavam praticamente iguais, independente do ataque duplo contra a doença. Algumas semanas depois, exames mostraram que a medula óssea de Kanzius estava tomada por células cancerosas, e ele morreu alguns meses depois.

O legado

Desde a morte de seu marido, Marianne Kanzius continua a levar para a frente o seu projeto, tentando arrecadar dinheiro para realizar a pesquisa.

Curley afirma que, em John, a máquina não teve nenhum efeito, maléfico ou benéfico. Ele afirma, entretanto, que a ideia inicial de injetar as células cancerosas com nanopartículas metálicas e “queimá-las” com as ondas de rádio está sendo desenvolvida. “Esta é a ideia mais animadora que vi em 20 anos de pesquisa com câncer”, afirma o médico. “Isso não mudou”, diz.

O pesquisador agora conseguiu financiamento e um laboratório de última geração para colocar em prática ao menos 15 projetos diferentes, todos ligados à ideia inicial de Kanzius. Curley firma que seu objetivo principal é tratar o câncer em estágio de metástase, quando a doença já se espalhou pelo corpo inteiro. Para fazer isso, ele vem trabalhando em moléculas especiais, que conseguem identificar células cancerosas e ligá-las a nanopartículas metálicas.

Os primeiros testes com esta técnica estão sendo realizados com células de cânceres de fígado e pâncreas, com resultados preliminares animadores. Curley ainda lembra que estes são alguns dos tipos da doença mais difíceis de serem tratados, mas que os testes ainda serão feitos com câncer de mama, próstata, leucemia e linfomas, por exemplo.

O médico afirma ter prometido a Kanzius que realizaria a pesquisa e faria testes em humanos, mas ele diz que testes deste tipo só poderão ser feitos em dois ou três anos, na melhor das hipóteses.

Embora animado com o possível tratamento, Curley é muito cuidadoso ao dizer que a técnica poderia ser uma cura para o câncer. “John me deixava muito nervoso quando dizia ter encontrado uma cura para o câncer”, explica o pesquisador. “Eu afirmo sem rodeios: não sei se encontraremos uma cura, mas acho que teremos um tratamento eficiente”, diz. Curley ainda completa: “Espero que seja um tratamento minimamente tóxico para os pacientes, diferente dos tratamentos que temos atualmente”.

Para conferir detalhes sobre a história de Kanzius e a evolução dos testes com a sua máquina, confira uma reportagem televisiva sobre o tema – em inglês – abaixo. [CBS News]

8 comentários

  • felipe:

    descordo do colega cesar cristo quando veio a terra tambem não recebeu a atenção que merecia e todos sabemos oque ele passou oque eu quero diser e que ele esta totalmente certo porque e justamente isso que a ciencia esta fasendo entrodusir metais ou condutores de calor dentro das celulas com cançer e depois aquecelas com ondas magneticas levandoas a morte mas mesmo que ainda não de cem por cento certo não podemos esquecer . tudo que aprendemos hoje são frutos de erros do passado

  • César:

    Morreu. De câncer.

    Em outras palavras, o tratamento que ele fez não foi eficaz. Mais ainda, pode ser que saia um tratamento eficaz daí, mas se sair, não será da forma que ele pensou.

    Notem que o cara nutria alguns delírios: achava que as células cancerosas “atraíam” as ondas de rádio… Estava errado.

    Qual a lição disto tudo? Que o câncer mata, e que não existe “bala mágica” para câncer – nenhum tipo deles. Sobre os supostos complôs da indústria farmacêutica, eu me reservo o direito de desconfiar de quem faz afirmações sem ter provas.

  • @AtomicBlue:

    Criatividade é tudo. Conhecimento, sem criatividade, não é nada. Junte toda a inteligência do mundo, e esqueça a criatividade… Nada muda. Reinventa-se a roda, ao invés de passá-la pra trás e conceber algo novo.

    História incrível, estou muito orgulhoso dele.
    Deixou sua marca, contribuindo, antes de partir, com a pesquisa no combate a esta doença terrível – e contribuindo de forma brilhante.

    Sou muito grato a você!
    Que Deus te receba de braços abertos 🙂

  • Cássio Godinho:

    Não era essa a mesma “maquina que queimava agua”?
    Se realmente queimar a agua salgada pode muito bem ser usada pra outros propositos.
    Vou procurar o link da materia que fala sobre isso depois posto outro comentario se achar.

  • Clement:

    Realmente o “lobby”, ou poder de decisão da indústria farmacêutica no meio médico é bem presente, a ponto de acobertar-se outras pesquisas.
    Agora ponderemos que câncer é uma condição de difícil tratamento, principalmente em estadios mais avançados.
    Ocorre que, na maioria das vezes, pensamos apenas em bombardear o tumor, e nos esquecemos que o tumor é uma resposta do próprio organismo contra inúmeras agressões.
    Daí que a mesma arma que diminui a população de células cancerosas, acaba criando um mecanismo de adaptação e selecionamento das células tumorais mais resistentes.
    Aí elas cabam se alojando em níveis mais profundos e resultando na morte da pessoa.
    Haverá um dia em que os meios que utilizamos hoje estarão bem direcionados especificamente contra as contra as células cancerosas.
    Agora se as pessoas corrigerem seus hábitos, com exercícios regulares, alimentação mais de base vegetariana e reconexão espiritual, certamente a incidência de câncer estará bem minimizada.

  • AllMors:

    Maravilha. Realmente romper os paradigmas que reinam absolutos em determinadas áreas é algo especial e, neste caso, notório. Vi uma notícia que tratava desta nova descoberta para o tratamento de câncer mas que não dava o crédito para aquele que de fato foi o idealizador do feito. Parabéns pela reportagem.

  • VAMBERTO DE BARROS SOUTO:

    gostei do artigo acima, so porador de cancer de prostata, a esperanca e que o tratamento nao seja tao doloroso, porque nao pesquisas outros meios: emoterapia, o leite de aveloz para ajudar a camada mais pobre da populacao que e a mais sofrida que morre em cima de uma cama em sua casa, quem tem certa condicao vai a um hopital e tenta tratar, vamos ajudar a maioria da populacao do mundo, a pobresa, ou sera que a medicina e os grandes grupos nao tem interesse de procurar uma medicina alternativa, por saber, se funcionar vai ser uma grande queda da medicina e grandes grupos famaceiticos que empobrece os povos.

  • Luiz Carlos:

    Incrivel…

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