China e EUA concordam ao menos nisto, e é assustador

Por , em 29.09.2015

Durante anos, a China e os EUA têm mantido um impasse regulamentar sobre mudança climática.

Como rivais políticos, nem um dos maiores emissores de carbono do mundo queria ceder, a menos que tivesse certeza de que todas as medidas tomadas para reduzir suas emissões não deixariam o outro disparar na frente economicamente.

Como são eles que têm o dinheiro, podiam muito fazer isso para manter sua dominação à custa de toda a população mundial.

Já estávamos perdendo as esperanças e dando um beijo de adeus à Terra, quando, no prazo de 60 dias um do outro, os presidentes Barack Obama e Xi Jinping lançaram planos detalhados para conter suas usinas de carvão.

Será que eles finalmente ficaram sãos?!

Se essas superpotências admitem…

A coisa está realmente feia.

Em agosto, Obama anunciou o “plano de energia limpa”, um regulamento que limita a quantidade de carbono que cada estado americano pode emitir, mas permite que esses estados decidam sozinhos as maneiras de atingir tais metas. Em setembro, Xi Jinping divulgou o compromisso de seu país de reduzir suas emissões, no mesmo dia que o Papa Francisco deu uma palestra nos EUA sobre como a mudança climática está afetando os pobres do mundo.

As duas superpotências provavelmente esperam que seu latido combinado agrupe o resto do mundo em um acordo global de emissões nas próximas negociações sobre o clima das Nações Unidas, a serem realizadas em uma conferência em Paris a partir do final de novembro.

Até agora, as tentativas de acordos globais falharam porque nem os EUA nem a China queriam segurar um balde de regulamentos de água fria em sua economia.

Eles retardaram essa decisão o máximo possível, mas, agora, os efeitos da mudança climática estão começando a ofuscar os benefícios de ignorá-la. O QUE É ASSUSTADOR.

Envolvendo o mercado: boa ou má ideia?

A China quer criar um sistema baseado no mercado para diminuir suas emissões. Entre outras coisas, envolve permitir que usinas de energias mais poluentes comprem créditos obtidos por aquelas que emitem menos carbono.

Muitos ambientalistas são a favor desse sistema, porque dizem que salva a economia e os consumidores de um monte de dificuldades financeiras que vêm com a transição para reduzir as emissões. “Se você deixar que o mercado tome a decisão, a transição irá ocorrer com o menor custo”, diz Mark Tercek, CEO da Nature Conservancy e ex-banqueiro de investimentos.

Tercek também acha que soluções baseadas no mercado empurram a inovação e podem resultar em coisas como chaminés de purificação de carbono e turbinas eólicas mais baratas, por exemplo. Seráááááááá?

Nem todo mundo está convencido. Ted Nordhaus, presidente do Breakthrough Institute, instituto ambiental baseado em Oakland, crê que a noção de criar incentivos de mercado para a energia limpa é baseada em uma premissa falsa: que a energia renovável está perto de competir com as fontes tradicionais.

Problemas

A energia solar já percorreu um longo caminho em termos de custo e eficiência, mas ainda está longe de substituir os combustíveis fósseis. Esta disparidade substancial significa lucros mais baixos para as empresas, que se transformam em preços mais elevados para os consumidores.

A ajuda governamental pode atrapalhar mais que ajudar. O mesmo sistema que a China propôs funcionou terrivelmente na Europa, em parte porque o programa calculou mal as previsões de emissões e deu muitos créditos de carbono. Ao mesmo tempo, a Europa fortemente subsidiou energias renováveis, o que não levou a inovação, mas sim a mais gastos do governo. “O impacto líquido sobre as emissões foi nulo”, afirma Nordhaus.

A China já está despejando dinheiro em sua energia nuclear, gás de xisto e programas de energia renovável. Esses subsídios poder criar alternativas de baixo preço que o mercado não pode competir. A indústria de energia baseada em carvão teria pouco incentivo à inovação, porque os seus concorrentes já estariam operando com uma vantagem.

O que esperar da próxima reunião da ONU em Paris?

Os fracassos anteriores se deveram principalmente aos maiores emissores – Estados Unidos e China, além da Índia – responderem com não compromissos que podem ser resumidos como o equivalente burocrático de uma ¯ \ _ (ツ) _ / ¯.

Desta vez, pode ser diferente. Os anúncios desses países significam que eles estão prestando atenção nos efeitos que a mudança climática já está causando – como poluição, seca, fome e aumento do nível do mar que pode engolir infraestrutura urbana.

Lógico, esse câmbio de pensamento não é de forma alguma um súbito ataque de consciência. É porque está doendo no bolso. Esses efeitos têm consequências no desempenho econômico-político dessas potências.

Ou seja, a mudança climática já é tão péssima que os autointeressados finalmente estão valorizando regulamentos caros a energia barata. Só esperamos que não seja tarde demais. [Wired]

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