Doenças podem agir de forma diferente em homens e mulheres?

Por , em 8.05.2014

Apesar de uma história bem documentada a respeito de uma decadência genética dramática, o cromossomo Y humano conseguiu, ao longo de milhões de anos de evolução, preservar um pequeno conjunto de genes que garantiu não só a sua própria sobrevivência, mas também a sobrevivência dos homens. Além disso, a grande maioria destes genes perseverantes parece ter pouco ou nenhum papel na determinação do sexo ou na produção de esperma.

Analisados em conjunto, estes resultados notáveis, publicados há pouco tempo na revista Nature, sugerem que, porque estes genes ligados ao cromossomo Y são ativos em todo o corpo, eles podem realmente estar contribuindo para as diferenças de suscetibilidade e severidade de doenças observadas entre homens e mulheres.

Doenças agem de forma diferente em homens e mulheres

“Este estudo nos diz que o cromossomo Y não só veio para ficar, como é preciso o levar a sério, e não apenas na questão reprodutiva”, diz o diretor do Instituto Whitehead, ligado ao MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets) David Page, cujo laboratório conduziu a pesquisa com colaboradores da Universidade de Washington e da Escola de Medicina de Baylor, nos Estados Unidos.

“Há cerca de uma dúzia de genes conservados no cromossomo Y que são expressos em células e tipos de tecidos em todo o corpo”, ele continua. “Estes são os genes envolvidos na decodificação e interpretação da totalidade do genoma. Quão penetrantes seus efeitos são é uma questão aberta, que não podemos mais ignorar”.

Page acredita que esta pesquisa irá finalmente permitir que seu laboratório possa fazer a transição entre provar que os teóricos que afirmam que o cromossomo Y está definhando estejam errados para, de fato, uma nova era na biologia deste cromossomo. Ao longo da última década, Page, que também é professor de biologia no MIT e investigador do Instituto Médico Howard Hughes, e seu grupo têm desbancado o argumento mal apoiado, mas muito popular que, porque o cromossomo Y tinha perdido centenas de seus genes ao longo de cerca de 300 milhões de anos de evolução, sua extinção final seria inevitável.

A perda de conteúdo genético no Y não está em discussão. De fato, um estudo recente do próprio laboratório de Page mostrou que o cromossomo Y humano retém apenas 19 dos mais de 600 genes que já foram compartilhados com o seu parceiro autossômico ancestral, o cromossomo X. No entanto, comparando a sequência do cromossomo Y humano com o do chimpanzé e do macaco rhesus, o laboratório descobriu que o Y humano perdeu um único gene ancestral durante os últimos 25 milhões de anos. Desde então, o Y tem se segurado.

Tendo mostrado que os cromossomos Y humano, do chimpanzé e do macaco rhesus compartilham um conteúdo com gene ancestral quase idêntico, o laboratório estabeleceu neste último trabalho um mapeamento da evolução dos cromossomos Y de cinco mamíferos mais distantes: o sagui, o camundongo, o rato, o touro e o gambá. Uma comparação das porções ancestrais destes cromossomos Y revelou um conjunto de genes largamente expressos em todas as oito espécies. Tal estabilidade genética e conservação não é por acaso.

“Esta não é apenas uma amostragem aleatória de repertório ancestral do Y”, diz Page, observando que cada um dos genes conservados descobertos têm uma contrapartida no cromossomo X. “Este é um grupo de elite dos genes”.

“A evolução está nos dizendo que esses genes são realmente importantes para a sobrevivência”, acrescenta Winston Bellott, um pesquisador científico do laboratório de Page e principal autor do artigo da Nature. “Eles foram selecionados e purificados ao longo do tempo”.

Bellott e Page dizem que a próxima fase de sua pesquisa é determinar o que este conjunto de genes Y está realmente fazendo, o que eles admitem que simplesmente ainda não está claro o suficiente. O que está claro, eles argumentam, é que as células de fêmeas (que, com dois cromossomos X, são chamadas de células XX) são sutilmente, mas fundamentalmente, diferentes das células que são XY nos machos. E são diferentes em todo o corpo, em tecidos e órgãos que não apresentam diferenciação anatômica óbvia.

“Elas são semelhantes, mas biologicamente diferentes”, diz Bellott. “No entanto, temos biólogos e bioquímicos que estudam ativamente células sem qualquer ideia se são XX ou XY. Isto é fundamental para a biologia e a biomedicina, e ainda assim ninguém realmente prestou muita atenção nisso”.

Page e Bellott dizem que é necessário um catálogo bioquímico das diferenças entre células XX e XY, incluindo a variabilidade em processos como a expressão dos genes e produção de proteínas. Page acredita que essa busca pode ter enormes implicações para a saúde humana.

“Há uma clara necessidade de ir além de um modelo unissex de pesquisa biomédica”, Page diz. “O que significa que precisamos ir além de um modelo unissex da nossa compreensão e tratamento das doenças”. [Phys.org]

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