Asas inteiras de pássaros pré-históricos são encontradas

Por , em 2.07.2016

Duas pequenas asas conservadas em âmbar revelam que a plumagem (a estratificação, padronização, coloração e arranjo de penas) vista em aves de hoje já existia em pelo menos alguns dos seus antecessores quase uma centena de milhões de anos atrás.

Um estudo das asas mumificadas, publicado na edição de 28 de junho da revista Nature Communications e financiado em parte pelo Conselho de Expedições da National Geographic Society, indicou que as asas provavelmente pertenciam a Enantiornithes, um grupo de dinossauros aviários que foram extintos no fim do período Cretáceo.

“Extremamente legal”

Enquanto o fato de que muitos – se não quase todos – os dinossauros tinham penas tem sido geralmente aceito desde os anos 1990, o nosso conhecimento da plumagem pré-histórica até agora vinha de impressões de penas em fósseis de compressão carbonizados e penas individuais fossilizadas em âmbar.

Mas, enquanto podem mostrar seu arranjo, os fósseis geralmente não têm detalhes muito precisos e raramente preservam informações sobre as cores, enquanto as penas individuais em âmbar não podem ser associadas com o animal a que pertenciam originalmente.

As duas novas amostras, pesando apenas 1,6 e 8,51 gramas, contêm a estrutura óssea, extensões de plumas e tecidos moles. Elas são as primeiras amostras de plumagem do Cretáceo a ser estudadas que não são simplesmente penas isoladas, de acordo com o coautor Lida Xing, da Universidade de Geociências da China.

“O maior problema que enfrentamos com penas em âmbar é que normalmente temos pequenos fragmentos ou penas isoladas, e nós nunca temos certeza a quem elas pertenciam”, diz o coautor Ryan McKellar, curador de paleontologia de invertebrados no Royal Saskatchewan Museu, no Canadá. “Nós não conseguimos algo como isto. É extremamente legal”.

Penas familiares

Uma análise de microtomografia de raios-X revelou que as duas amostras pertenciam a animais jovens, com base no tamanho dos ossos e na fase de desenvolvimento. As semelhanças na estrutura óssea e proporção, bem como algumas características da plumagem, sugerem que podem pertencer à mesma espécie.

Pele, músculo, garras e eixos das penas são visíveis em ambas as amostras, juntamente com os restos de linhas de penas primárias assimétricas de voo, penas secundárias e penas da plumagem. Todas são semelhantes no arranjo e nas microestruturas às penas das aves modernas.

Embora as penas pareçam pretas a olho nu, a análise microscópica revelou que as de voo eram predominantemente castanho-escuro, enquanto as da plumagem variavam de um marrom um pouco mais pálido a prata ou branco.

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Uma fonte generosa de fósseis em uma área problemática

A maioria dos fósseis em âmbar birmanês vêm de minas no Vale Hukawng no estado de Kachin, no norte de Mianmar. O vale está atualmente sob o controle do Exército da Independência de Kachin, que tem estado em conflito intermitente com o estado há mais de 50 anos.

Devido ao conflito, a mineração e venda de âmbar birmanês é, em sua maior parte, não regulamentada. A maioria do material é vendido aos consumidores chineses que o valorizam para joias e esculturas decorativas.

Xing e sua equipe de pesquisa coletaram as amostras fossilizada das asas utilizadas no estudo em um mercado de âmbar conhecido em Myitkyina, a capital do estado de Kachin.

Para os cientistas, o apelo do âmbar birmanês reside no fato de que ele provavelmente contém a maior variedade de vida animal e vegetal do período cretáceo, de acordo com David Grimaldi, curador de zoologia de invertebrados do Museu Americano de História Natural. “Cerca de 70% do âmbar birmanês é estéril, mas os outros 30% possuem biodiversidade fenomenal”, diz Grimaldi. “Nunca eu iria ter previsto esse nível de diversidade”, afirma ele.

Precioso para ciência, impuro para os consumidores

Uma vez que a maioria do âmbar birmanês é usado em joias e esculturas, a maioria das partes fossilizadas, como insetos e plantas, são consideradas impurezas que reduzem o valor da peça acabada. Os fósseis podem ser parcialmente ou completamente destruídos durante o polimento. A escuridão relativa das partes fossilizadas dentro do âmbar escuro também pode torná-los difíceis de detectar antes da amostra ser cortada ou polida, observa McKellar.

Mas as penas em âmbar birmanês são valorizadas pela sua raridade e beleza, e são cortadas e polidas para destacar o valor estético da plumagem pré-histórica. Pouca consideração é dada a manter a maior parte possível do espécime.

A menor das duas amostras no estudo atual foi apelidada de “Anjo” pela equipe de Xing porque um designer de joias originalmente iria transformá-la em um pingente chamado de “asas de anjo”. Quando os pesquisadores analisaram o fóssil, eles observaram superfícies da asa truncadas diretamente na superfície do âmbar, o que sugere que esta parte tinha sido tirada de um âmbar maior, que pode ter originalmente incluído todo o espécime.

Ainda assim, o que Xing viu na análise fez seu coração acelerar: não apenas penas individuais, mas várias penas associadas com a estrutura óssea de uma asa de quase 100 milhões de anos de idade. “É um verdadeiro anjo”, o pesquisador orgulhosamente conclui.

Os planos futuros incluem o estabelecimento de um instituto onde os investigadores no terreno dos mercados de Myitkyina possam verificar espécimes do Cretáceo no âmbar proveniente das minas, e manter aqueles com valor de pesquisa em Mianmar para serem estudados em parceria com universidades locais. [National Geographic]

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