O que a ciência já sabe sobre essa tal felicidade?

Por , em 17.09.2015

Há um debate filosófico enorme sobre o que realmente significa “ser feliz”, mas se você está à procura de respostas concretas, ele pode não ser o suficiente. Em uma matéria publicada no site Life Hacker, o redator Patrick Allan foi procurar o que a pesquisa científica diz que a felicidade é, e – talvez mais importante – o que ela não é.

Todos sabemos o que sentimos quando estamos felizes, mas a verdadeira fonte de nossa felicidade sempre foi difícil de identificar. Podemos nos tornar mais felizes? Se sim, como? Como explica um professor de História da Universidade Estadual da Flórida, Darrin M. McMahon, os povos antigos, na verdade, enxergavam essa tal felicidade mais como um sinal de sorte.

“É um fato marcante que em todas as línguas indo-europeias, sem exceção, chegando até o grego antigo, a palavra para a felicidade é um cognato com a palavra para a sorte… O que este padrão linguístico sugere? Para muitos povos antigos – e para muitos outros bem depois disso – a felicidade não era algo que você poderia controlar”, aponta o pesquisador.

Esse tipo de pensamento ainda é bastante comum hoje em dia. Um monte de gente assume que ser feliz significa que você teve sorte ou que a sua vida foi abençoada. A psicologia positiva, em combinação com outras áreas científicas, como neurologia, tem feito muito progresso em descobrir o que constitui a felicidade, e que temos algum controle sobre ela.

Como medir e estudar essa tal felicidade

Por mais abstrato que o conceito de felicidade possa parecer, ele é estudado da mesma forma que qualquer outro conceito científico: com uma grande variedade de experiências. Dacher Keltner, professor de Psicologia na Universidade de Berkeley, na Califórnia, explica em seu curso online “A Ciência da Felicidade” que existem quatro tipos principais de estudos sobre a felicidade:

– Observação e experiência de amostragem: captura de pessoas em um momento de suas vidas diárias. “O quão feliz você está quando está lavando a louça? E no trabalho?”

– Estudos transversais / de correlação: estudos de levantamento nos quais as pessoas respondem a um monte de perguntas sobre como se sentem em um momento específico.

– Estudos longitudinais: quando a vida das pessoas é estudada ao longo do tempo para encontrar a trajetória de uma vida feliz.

– Estudos experimentais: experiências que permitem a prospecção de relações causais entre felicidade e fontes externas.

Até aí tudo bem, mas como é que realmente se mede a felicidade? A resposta é extremamente simples (e imperfeita): autorrelato. Geralmente, esses estudos fazem perguntas como “O quão satisfeito você está com sua vida?” e “Diariamente, que tipo de emoções positivas e negativas você sente?”. Não há liberações de energia para medir a felicidade, nem há como contá-la em sua corrente sanguínea. Eles simplesmente utilizam questionários para perguntar aos participantes do estudo se eles estão felizes em um momento específico.

Pode parecer insuficiente, mas é o melhor que temos. A única pessoa que pode dizer se você está se sentindo feliz ou não é você. Isso significa que você é a ferramenta mais confiável para medir os seus próprios níveis de felicidade (pelo menos até agora). Estes autorrelatos podem ser feitos como apenas um levantamento, durante a experiência de amostragem (ligando aleatoriamente para participantes e perguntando “O que você está fazendo?” e “O quão feliz você está se sentindo agora?”), ou às vezes relatado por outros por meio de indicadores comportamentais (o que é particularmente bom no estudo de bebês e crianças).

Subdivisões da felicidade

O autorrelato está longe de ser perfeito, no entanto. Afinal, sentir-se “feliz” pode significar coisas diferentes. É por isso que o psicólogo vencedor do Prêmio Nobel Daniel Kahneman desenvolveu a análise dos “quatro níveis de sentir”. Quando se trata de felicidade, ela pode ser dividida em quatro domínios conceituais para esclarecer que tipo de felicidade está sendo examinada. Por exemplo:

– Bem-estar: “No geral, minha vida está indo bem”.

– Traços: “Eu sou uma pessoa entusiasta e positiva”.

– Emoções: “Eu sinto gratidão e apreço”.

– Sensações: “É bom sentar nesta banheira de hidromassagem”.

Todas essas quatro coisas são meio que um sinônimo de felicidade, e permitem que os participantes do estudo identifiquem mais cuidadosamente que tipo de felicidade estão experimentando (ou sentindo falta). Geralmente, os pesquisadores usam esses métodos para estudar a satisfação com a vida e bem-estar em geral de uma pessoa, mas para ter uma boa visão da felicidade de alguém, todos os domínios conceituais precisam ser considerados. Por exemplo, saber que alguém com um alto nível de satisfação com a vida também sente gratidão regularmente e passa algum tempo em uma banheira de hidromassagem poderia ser útil para determinar correlações e, talvez mais adiante, a causalidade.

Para tornar essa tal felicidade um pouco mais fácil para os pesquisadores medirem, Edward F. Diener, professor de psicologia na Universidade de Illinois em Urbana Champaign, nos Estados Unidos, desenvolveu um índice chamado de bem-estar subjetivo. Ele permite que psicólogos definam com mais precisão a felicidade como uma combinação de satisfação com a vida e a frequência relativa de emoções positivas e negativas com vários métodos de autorrelato. Há duas partes:

– Escala de Satisfação com a Vida: este é um questionário de autorrelato de cinco partes que torna possível medir numericamente a sua satisfação geral com a vida.

– Escala de Afeto Positivo Afeto Negativo: a EAPAP também é um questionário de autorrelato que pergunta que emoções você está sentindo naquele momento.

A combinação dos dois é o que compõe o seu bem-estar subjetivo. O seu “nível de felicidade” em qualquer momento é igual a sua Satisfação com Vida mais a sua pontuação no EAPAP. Claro, sua felicidade flutua, então sua pontuação só mede o quão feliz você está se sentindo naquele momento. Você pode responder os questionários várias vezes para ter uma pontuação média ao longo de dias ou meses. Com o conhecimento de como a ciência explora a felicidade, você pode começar entender como a ciência psicológica a define (e como você pode usar isso para ficar mais feliz).

Apesar disso, têm existido controvérsias no campo de estudos psicológico ultimamente. Um grande estudo recente conhecido como Reproducibility Project e publicado na íntegra na revista “Science” encontrou poucos estudos psicológicos que poderiam ser reproduzidos com resultados semelhantes. Como o “The New York Times” observa, os principais focos deste estudo foram estudos realizados sobre a aprendizagem, memória e cognição, e não estudos sobre a felicidade ou outros ramos da psicologia positiva. É sempre bom ter em mente que não importa o que os estudos possam sugerir, os resultados não são sempre absolutos.

O não é felicidade, segundo a ciência

Talvez a melhor maneira para a ciência de tentar definir a felicidade, ou qualquer outra coisa, é com o processo de eliminação. Se você aprender que não é felicidade, você vai, pelo menos, conseguir restringir o seu conceito do que é felicidade. Emiliana Simon-Thomas, diretora de ciência no Greater Good Science Center da Universidade de Califórnia Berkeley, explica que existem algumas regras básicas que os estudos determinaram ao longo dos anos sobre o que a felicidade não é:

– Ter todas as suas necessidades pessoais atendidas;

– Sentir-se sempre satisfeito com a vida;

– Sentir prazer o tempo todo;

– Nunca sentir emoções negativas.

Surpreso? Se a resposta for sim, a sua definição de felicidade pode estar um pouco errada. O que o Greater Good Science Center da Universidade de Berkeley descobriu com suas pesquisas é que a verdadeira felicidade é mais sobre a paz geral da mente, focando no bem maior. A felicidade não é sobre querer mais, sempre se sentir “bem”, ou até mesmo estar satisfeito com cada aspecto de sua vida. Hedonismo, ou a busca do prazer e auto-indulgência, provou trazer surtos temporários de felicidade, mas como a pesquisa de Kahneman explica, não é eficaz em manter sua felicidade geral ao longo do tempo.

Uma parte muito importante da equação da felicidade são os sentimentos negativos que você pode estar sentindo agora. Por mais agradável que possa parecer, a felicidade não é a ausência de sentimentos negativos. Segundo Vanessa Buote, pós-doutoranda em psicologia social, a verdadeira felicidade está em lidar com o bem e mal: “Um dos equívocos sobre a felicidade é que a felicidade é estar alegre, contente e bem disposto o tempo todo; sempre ter um sorriso em seu rosto”, diz ela. “Não é – ser feliz e ter uma vida rica é sobre lidar com o bem e o mal, e aprender a reformular o mal”.

Você pode ter sentimentos negativos e estar feliz em geral com a sua vida ao mesmo tempo. Na verdade, aprender a fazer isso é essencial para ser uma pessoa mais feliz.

As limitações de buscar a felicidade

Agora já sabemos como a ciência define essa tal felicidade, mas isso é apenas a primeira metade da equação. A questão mais importante é: você pode se tornar mais feliz? A resposta curta é sim, mas exceto por medicamentos destinados a ajustar os desequilíbrios químicos, não há nenhuma “pílula mágica” para isso. É preciso algum esforço consciente, e mesmo assim, existem algumas limitações.

Em primeiro lugar, você provavelmente tem um “padrão” definido geneticamente determinando a sua felicidade. Isso significa que, conforme aponta Sonja Lyubomirsky, pesquisadora da Universidade da Califórnia, Riverside, os seus genes herdados podem ser o que te mantém em seu estado atual, ou “crônico”, de felicidade. Se você vem de uma longa linhagem de pessoas melancólicas, você pode simplesmente ser uma pessoa um pouco melancólica. Os seus genes também podem definir um limite máximo para o quão feliz você poderá ser. Essencialmente, sua felicidade é parte de sua personalidade, parte de quem você é. De acordo com Lyubomirsky, estudos longitudinais têm demonstrado que a felicidade das pessoas permanece bastante estável ao longo de suas vidas, então nada vai fazer você ir de miserável para a pessoa mais feliz do mundo.

Em segundo lugar, você pode definir limitações para você mesmo quando tenta demais ser feliz. Lahnna I. Catalino, da Universidade da Califórnia em San Francisco, sugere que buscar excessivamente a felicidade pode se voltar contra você. Ela adverte que você deve evitar tratar a sua felicidade de maneira extrema. Não estabeleça metas irreais para si mesmo e não tente apenas sentir emoções positivas o tempo todo: você com certeza irá falhar, o que vai – ironicamente – levar à infelicidade.

“O importante não é qual terapia você segue, mas que você fique fundamentado no senso comum, e seja qual for a terapia ou terapias que você está seguindo, pergunte-se repetidamente, ‘Já cheguei ao meu limite?'”, afirma Michael Bennett, psiquiatra e coautor do livro “F*ck Feelings”. “Assim, você não fica preso no ‘se eu fizesse isso melhor’ ou ‘se eu fizesse mais’ ou ‘se eu encontrasse um terapeuta melhor’. É mais ‘Essa terapia me levou tão longe quanto eu posso ir, então o que eu vou fazer agora?'”

Lembre-se, você tem um limite que você não pode controlar. Não quebre a cabeça com isso: você está apenas sendo você mesmo. Em vez de tentar forçar-se a ser feliz, Catalino aconselha que simplesmente reflitamos sobre os momentos e atividades que nos dão alegria.

Os fatores comuns das pessoas mais felizes

A verdadeira felicidade e contentamento não é uma única coisa. É o culminar da genética, sentimentos, emoções, personalidade e outras variáveis ​​da vida e circunstâncias. O pequeno segredo sobre a felicidade é que os pesquisadores ainda estão debatendo sobre isso e nós não ainda sabemos exatamente o que ela é. Mas as pesquisas que já existem nos dão uma boa ideia. Mesmo que todo mundo tenha suas próprias limitações, existem coisas que você pode fazer para tentar conseguir o seu nível máximo pessoal de felicidade.

Especificamente, praticar muito exercício (especialmente com um objetivo definido em mente), dormir bastante, desenvolver a inteligência emocional e investir em experiências ao invés de bens materiais são bons lugares para começar. Se você ainda não tem certeza do que você deveria estar fazendo, temos mais um método. Este, chamado PERMA, foi criado por Martin Seligman, fundador da psicologia positiva, e publicado em seu livro “Flourish”, e representa os cinco elementos principais que compõem o bem-estar:

– Emoção positiva: paz, gratidão, satisfação, prazer, inspiração, esperança, curiosidade e amor se enquadram nesta categoria.

– Engajamento: nos perdermos em uma tarefa ou projeto que nos proporciona uma sensação de “tempo desaparecido” por estarmos tão altamente engajados.

– Relacionamentos: as pessoas que têm relações significativas e positivas com os outros são mais felizes do que as que não o fazem.

– Significado: o significado advém de servir uma causa maior do que nós mesmos. Seja uma religião ou uma causa que ajuda a humanidade de alguma forma, todos nós precisamos de significado em nossas vidas.

– Realização: para sentir satisfação significativa na vida, devemos nos esforçar para melhorar a nós mesmos de alguma forma.

Ainda há muito para aprendermos quando se trata da ciência da felicidade, mas, até agora, estudos têm provado que é mais do que sorte. De fato, muitos pesquisadores argumentam que a questão não é nem mesmo quais são as circunstâncias da sua vida, mas como você encontra uma maneira de desfrutá-la de qualquer forma. [Life Hacker]

1 comentário

  • Rodrigo Andrade de Oliveira:

    Clomipramina, Sertralina, Citalopram, ajudam em ultima saída, Mas ser otimista e realista é fundamental, ótimo artigo!

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