Cientistas criam órgão funcional pela primeira vez

Por , em 26.08.2014

Segundo pesquisadores da Escócia, um órgão funcional inteiro foi cultivado a partir do zero dentro de um animal pela primeira vez.

Um grupo de células se desenvolveram em um timo – órgão linfático essencial do sistema imunitário – ao serem transplantadas em camundongos. Os resultados, publicados na revista “Nature Cell Biology”, podem abrir caminho para alternativas ao transplante de órgãos.

Encontrado perto do coração, o timo produz células T, componentes do sistema imunitário que combatem infecções. Especialistas dizem que a pesquisa é promissora, mas ainda está há anos de distância de terapias funcionais em humanos.

Cientistas do Conselho de Pesquisa Médica do centro para a medicina regenerativa da Universidade de Edimburgo começaram com células de um embrião de rato. Elas foram geneticamente “reprogramadas” e começaram a transformar-se em um tipo de células encontradas no timo. Misturadas com outras células com papel de suporte, foram colocadas dentro de camundongos. Uma vez lá dentro, o conjunto de células se desenvolveu em um timo funcional.

Esse feito é semelhante a um do ano passado, quando cérebros humanos cultivados em laboratório atingiram o mesmo nível de desenvolvimento de um feto com nove semanas de idade. O timo é um órgão muito mais simples e, nestas experiências, ficou totalmente funcional. Estruturalmente, produziu células-T.

Clare Blackburn, que fez parte da pesquisa, disse que foi “tremendamente excitante” quando a equipe percebeu o que tinha conseguido. “Foi uma completa surpresa para nós que tenhamos sido realmente capazes de gerar um órgão totalmente funcional e totalmente organizado com células reprogramadas de uma maneira muito simples”, conta. “Este é um avanço muito emocionante e também é muito tentador em termos de medicina regenerativa”.

Pacientes que precisam de um transplante de medula óssea e crianças que nascem sem um timo funcional poderiam se beneficiar. Maneiras de aumentar o timo também poderiam ajudar pessoas idosas, já que o órgão diminui com a idade e deixa o sistema imune mais fraco.

No entanto, há uma série de obstáculos a superar antes que esta pesquisa saia de estudos com animais e chegue a terapias hospitalares. A técnica atual usa embriões, o que significa que o timo desenvolvido artificialmente não seria um tecido compatível com o do doente. Os pesquisadores também precisam ter certeza de que as células transplantadas não representam um risco de câncer caso cresçam descontroladamente.

Robin Lovell-Badge, do Instituto Nacional de Pesquisa Médica do Reino Unido, diz que este parece ser um excelente estudo. “É uma conquista importante, tanto para demonstrar como fazer um órgão, embora relativamente simples, e por causa do papel fundamental do timo no desenvolvimento de um sistema imunológico em bom funcionamento”, opina. “No entanto, é pouco provável que os métodos sejam fáceis de traduzir para pacientes humanos”.

Avanços

O campo da medicina regenerativa tem se desenvolvido rapidamente. Já existem pacientes com vasos sanguíneos, traqueias e bexigas cultivadas em laboratório, “semeadas” a partir de células do paciente e implantadas em seguida. Já para o timo, só foi preciso uma injeção de células.

Paolo de Coppi, pioneiro de terapias regenerativas no Hospital Great Ormond Street, em Londres, acha que este tipo de pesquisa demonstra que a engenharia de órgãos poderia ser um substituto para o transplante no futuro. “Um tipo de engenharia de órgãos relativamente simples já foi adotado por um pequeno número de pacientes e é possível que, dentro dos próximos cinco anos, órgãos mais complexos sejam projetados usando células especializadas derivadas de células-tronco de modo semelhante ao descrito neste artigo”, afirma. [BBC News]

1 comentário

  • Eneida Melo:

    Espero ansiosamente por esse tratamento. Quando ele estiver disponível, aí pode ser que comecem a tratar pacientes com lesões cerebrais graves como pacientes a serem salvos e não como baú de órgãos a serem transplantados.

    A hipotermia vem sendo usada para tratar traumatismos cranianos em outros países com altas taxas de sucesso.

    Aqui se recusam a usar, porque ela impediria o diagnóstico de morte cerebral e, consequentemente, o transplante.

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