Code Club ensina as crianças uma habilidade para a vida toda

Por , em 1.01.2014

A tecnologia transformou a educação, mas, ao mesmo tempo em que os alunos aprendem a usá-la, raramente sabem como funciona. Agora, uma percepção crescente entre os educadores de que essa lacuna precisa ser preenchida está levando a uma nova revolução.

A partir de setembro, a Inglaterra será o primeiro país do mundo a tornar programação de computadores uma disciplina escolar obrigatória em todos os níveis. De acordo com as diretrizes curriculares, a partir do momento em que começam a escola, aos cinco anos de idade, até quando completam o ensino público aos 16, as crianças aprenderão a codificar e compreender algoritmos simples, e usar linguagens de programação para resolver problemas computacionais.

Já nos Estados Unidos, de acordo com o Code.org, apenas uma em cada 10 escolas americanas ensina programação às crianças, apesar das previsões de que o emprego em informática vai aumentar em 22% até 2020, com a demanda mais forte sendo para desenvolvedores de software.

Apesar de especialistas recomendarem que a informática esteja no currículo das escolas no mundo todo, a maior parte do trabalho está sendo feito fora das instituições de ensino públicas.

Clare Sutcliffe e Linda Sandvik, criadoras do Code Club, tentam ensinar habilidades de programação a crianças desde o ano passado. A organização funciona como uma rede de atividades extracurriculares gratuitas completamente gerenciada por voluntários. É destinada a crianças com idade entre 9 e 11 anos, e já existem mais de 1.500 escolas no mundo todo, inclusive no Brasil.

Por aqui, são 26 Code Club (em português: Clube do Código ou Clube de Programação) espalhados pelo Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte e Minas Gerais. Qualquer um pode usar o material disponibilizado pela organização, que é gratuito, assim como qualquer um pode criar um clube, em qualquer ambiente que tiver disponível, desde que ele seja também gratuito.

De acordo com os voluntários, o ensino de programação é muito mais do que ajudar as crianças a entender a tecnologia que estão usando. Sutcliffe acredita que isso lhes dá habilidades para a vida. “Em um nível básico, melhora habilidades de pensamento e resolução de problemas. Competências digitais também melhoram suas chances de ser contratado no futuro”, diz ela.

Além disso, o contato com o assunto tem o potencial de trazer uma mudança fundamental na forma como vemos a tecnologia, transformando as crianças de consumidores passivos em produtores ativos. “Há uma enorme diferença entre consumo de conteúdo e ser capaz de criá-lo”, acrescenta Sutcliffe. “É importante ter agência sobre as ferramentas que você está usando”.

Laura Kirsop deixou o emprego como professora para se juntar ao Code Club. Ela viu em primeira mão o impacto que as habilidades de programação tem, inclusive em fazer as crianças resolverem as coisas por si mesmos. “Nas primeiras sessões, as crianças colocam as mãos para cima e dizem: ‘Não está funcionando!’. Leva um tempo para elas perceberem que, se não está funcionando, é porque elas fizeram algo errado”, explica.

Laura também notou a capacidade da programação de inspirar. “Na primeira sessão do Code Club, as crianças fazem seu próprio jogo de computador e isso lhes dá uma sensação incrível”, conta.

Mas nem tudo dão rosas. Há também desafios em se ensinar programação nas escolas. Para que isso seja possível, é preciso um esforço enorme em termos de formação de professores. Kirsop atesta para a falta de tempo gasto em habilidades de programação em seu próprio curso de formação. “Há um longo caminho a percorrer antes dos professores se sentirem confiantes o suficiente para ensinar essas habilidades”, argumenta.

Mark Clarkson, diretor de computação na Escola Egglescliffe, em Stockton, no nordeste da Inglaterra, concorda. Membro do conselho que trabalhou com o governo para a elaboração do novo currículo inglês, ele é apaixonado por programação, mas está ciente dos obstáculos ainda a serem superados.

Alterações aos cursos de formação de professores e desenvolvimento profissional contínuo são cruciais para garantir que o currículo seja entregue de forma eficaz. Mas ele vê os benefícios potenciais como enormes. A oportunidade está aí para equipar uma geração com as habilidades para não apenas usar a tecnologia, mas fazê-la trabalhar a nosso favor. “A ideia é que todos terão uma compreensão básica que irão levar pelo resto de suas vidas”, diz Clarkson. Se funcionar, é um exemplo que o resto do mundo pode em breve ter que seguir.

A história da informática na educação brasileira já tem mais de 20 anos e foi baseada em políticas utilizadas nos EUA e na França. No entanto, apesar do Programa Brasileiro de Informática em Educação ser bastante ambicioso, tendo o computador como recurso para auxiliar o processo de mudança pedagógica, críticos dizem que ainda não impregnou as ideias dos educadores e, por isso, não está consolidado no nosso sistema educacional.

Enquanto o currículo não muda por aqui, os pequenos programadores podem se apoiar no material do Code Club para obter conhecimento. Quem quiser saber mais sobre a missão da organização, apoiá-la ou até mesmo encontrar um clube, pode acessar seu site ou curtir sua página no Facebook. [Forbes, geogebra]

4 comentários

  • Leo Mark:

    Também existe a SuperGeeks (http://SuperGeeks.com.br) a primeira escola focada em KIDS & TEENS para aulas de programação por meio da criação de jogos 2D, 3D e robótica. Cursos online e presencial.

    • Marcelo Ribeiro:

      Bem interessante a proposta. Meu filho te 8 e me parece complicado ele fazer aulas online de programação com vídeos. Já fizemos alguns jogos básicos no Scratch tempos atrás usando um livro em inglês, mas não foi fácíl, mesmo comigo junto.

  • breno:

    Que coisa ótima! Fico imaginando como será o mundo daqui a 100 anos. Cada ano as pessoas vão ficando mais inteligentes. Só uma coisinha que eu estranhei no texto. A parte que diz “apenas uma em cada dez escolas americanas ensina programação”. Uma em cada dez é muita escola pra um país que não é obrigado por lei, como será o caso da Inglaterra. Se compararmos com o Brasil, provavelmente só em pouquíssimas particulares e nunca tão jovens quanto com apenas 5 anos de idade.

    O Brasil tinha que urgentemente copiar essas novidades boas.

    • Cesar Grossmann:

      Antes a gente precisa de professores motivados, valorizados e preparados.

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