Como a Disney matou vários lêmingues e disse que eles se suicidaram

Por , em 7.08.2014

Pobres e infelizes lêmingues. Um dia, a Disney inventou que eles cometiam suicídio em massa, mas na verdade os assassinou e ainda ganhou um prêmio por isso.

Hoje, muitos pensam que esses roedores de fato se jogam no mar, o que passa longe da verdade. Charlatões aproveitadores e cruéis 1, ciência 0.

Estamos falando de uma produção da Disney de 1958 intitulada “White Wilderness” (“Selvageria Branca”, em tradução livre), destacando a vida e a natureza no Subártico Norte, dirigida por James Alga e vencedora do Oscar de Melhor Documentário.

No entanto, muito pouca documentação aconteceu. A famosa cena que promoveu o filme promoveu também várias ideias erradas, por exemplo, de que lêmingues migram regularmente e de que cometem suicídio em massa.

O documentário foi filmado em Alberta, no Canadá. Lêmingues não são nativos dessa região, de forma que a equipe de produção importou uma dúzia de animais para as filmagens. Pior, a espécie que eles gravaram não migra. Algumas espécies migram quando seu crescimento populacional é muito grande e pressiona alguns indivíduos a se deslocar para áreas menos movimentadas, onde possam arrumar mais comida.

Mas como a espécie em questão filmada não fazia isso, a equipe usou uma plataforma giratória coberta de neve para fazer parecer que os bichos estavam “migrando”, quando eles estavam na verdade apenas correndo em círculos.

Depois disso, os animais foram conduzidos até a margem de um rio próximo e sem a menor cerimônia jogados na água, onde se afogaram. Assim, nasceu o mito dos lêmingues suicidas.

Cruel? Definitivamente. Mas tenha em mente que, em Hollywood na década de 50, a crueldade animal era tragicamente comum. Os estúdios fizeram de tudo, desde matar mais de 100 cavalos para gravar uma única cena para “Ben Hur” a esfaquear um leão até a morte para “Tarzan”, de modo que matar algumas dezenas de roedores para a diversão do público aparentemente não era grande coisa.

Em 1982, o programa de jornalismo investigativo da Canadian Broadcasting Corporation, “The Fifth Estate”, expôs o tratamento doentio que Hollywood dava aos animais. Nessa época, a história dos lêmingues foi esclarecida, mas, a essa altura do campeonato, eles já eram consagrados suicidas.

E como toda mentira tem uma ponta de verdade, podemos pelo menos afirmar que o pessoal do documentário não cometeu essa atrocidade totalmente à toa.

Os pequenos roedores, que habitam os países escandinavos, podem cair no mar por acidente. Isso não ocorre frequentemente, só quando acontecem as já mencionadas explosões populacionais. O número grande de animais significa que falta comida para todos, e eles podem iniciar movimentos migratórios em busca de alimento. Esse deslocamento nem sempre é ordenado e muitos caem de bordas de penhascos e afundam.

Há também quem diga que alguns podem se jogar na água em busca de comida, que eles normalmente conseguem em terra. Seja como for, a ocorrência desta natação coletiva ou desse cai-cai no mar tem diminuído drasticamente nos últimos anos. Os episódios de superpopulação têm se repetido menos e, com isso, as maratonas aquáticas dos roedores. [Gizmodo, ScienceBlogs, MundoEstranho]

2 comentários

  • Cesar Grossmann:

    Definitivamente cruel…

    A propósito, lemingue e lêmingue estão certos, segundo o dicionário Priberam e o Caldas Aulete. Pelo Michaelis, só a versão sem acento está certa, e pelo dicionário do Chrome, só a versão com acento está certa.

    Antes que alguém reclame…

  • Julio Barone Neto:

    Que coisa feia! Eu não sabia disso! A Disney, então, enganou muitas crianças e jovens!

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