Como os lobos podem ajudar a salvar um ecossistema

Por , em 12.05.2014

Parece que ninguém gosta muito dos predadores de topo: as pessoas geralmente têm medo de tubarões e não ligam se eles são mortos; os grandes felinos, como leopardos e tigres, são caçados por suas peles e bigodes; os leões viram fantoches de dominadores em circos, e assim por diante.

Mas você sabe o que acontece quando eliminamos um predador de topo? O delicado equilíbrio que existe em quase todos os ecossistemas é perturbado, e os próximos organismos da cadeia alimentar se proliferam sem controle. Com uma população em expansão, todos os organismos abaixo deles sofrem.

Enquanto os cientistas têm apontado os efeitos negativos da queda ou perda de um predador de topo por muitos anos, não é muito frequente que podemos observar o oposto e ver um predador recuperar território e restaurar a ordem em um habitat.

Mas foi isso que aconteceu no Parque Nacional de Yellowstone (EUA), quando lobos cinzentos foram colocados de volta no ambiente há quase 20 anos.

Os lobos não somente abateram a população crescente de alces do parque, como ajudaram a reestruturar onde os animais viviam. Isto permitiu que espécies de animais e plantas que estavam sofrendo pudessem voltar a florescer.

O predador que ataca é o que também defende

A partir do século XX, as pessoas conseguiram erradicar os lobos de Yellowstone. Na ausência dos predadores, alces e veados invadiram as terras selvagens remanescentes, desnudando árvores ribeirinhas e arbustos e acelerando a erosão e degradação do habitat das aves e peixes adaptados ao antigo ambiente.

Em 1995 e 1996, o Fish and Wildlife Service (órgão dos EUA dedicado a preservar a vida selvagem) capturou lobos no Canadá e lançou-os de volta nos 2,2 milhões de hectares do Parque Nacional de Yellowstone e nas áreas de deserto de Idaho.

Com isso, os alces reaprenderam a ter cautela enquanto percorriam o campo aberto. Esta “paisagem do medo” mudou seu comportamento. Em cantos do parque frequentados por lobos, álamos e salgueiros começaram a se recuperar.

Com a volta das árvores, vieram castores, pássaros, rãs e peixes. O parque ainda enfrenta muitas dificuldades, mas o retorno dos predadores de topo tem, sem dúvida, ajudado a melhorar seu ecossistema.

A história do lobo em Yellowstone tornou-se um estudo de caso ecológico, uma manifestação terrestre do conceito de espécie-chave de Robert Paine.

Mortes equilibradas

Ao longo de 2008, os agentes do Fish and Wildlife Service confirmaram 569 mortes de gado e de ovelhas feitas por lobos no oeste do país. Isso totalizou menos de 1% das mortes de gado na região. No mesmo ano, 264 lobos foram mortos por atacar o gado nos estados de Montana, Idaho, e Wyoming. Esse é um número grande, mas foi tirado de uma população de lobos que agora cresceu para cerca de 1.600, vagando pela região em mais de 200 matilhas.

Amantes da vida selvagem e turistas não poderiam estar mais felizes. Somente em Yellowstone, dezenas de milhares de pessoas fazem visitas para ver os lobos a cada ano, somando cerca de US$ 35 milhões (mais de R$ 70 mi) para a economia da região.

Enquanto isso, cientistas estão documentando mudanças ecológicas ligadas a devolução deste predador de topo que podem conter o potencial para reparar terras selvagens desequilibradas, tornando-as mais estáveis e biologicamente diversificadas.

Um mar de rosas, não?

Dúvidas

O sucesso da história tem alimentado mais pesquisas sobre este sistema complexo, que revelaram que ele é mais complicado que parece.

Os lobos não são a única influência sobre os alces. Seca, ursos e caçadores, além do desenvolvimento do parque, também influenciam seus números.

Não estamos dizendo que os lobos têm que ser extintos e que não servem para nada. Eles certamente ajudaram a equilibrar o ambiente de Yellowstone, mas muitos outros fatores podem estar envolvidos.

Matthew Kauffman, do Wyoming Cooperative Fish and Wildlife Research Unit, desafiou a história de recuperação de árvores no ambiente em 2010, com uma pesquisa mostrando que os padrões de crescimento das plantas não correspondem aos períodos de desaparecimento e retorno dos lobos.

Além disso, pesquisadores descobriram que os arbustos de salgueiro não estão se recuperando tão bem na área. Os que estão, inclusive, podem ter se desenvolvido graças a proteção conferida pela água alta das represas feitas por castores.

No geral, os cientistas acreditam que a perda original dos lobos não é tão facilmente revertida assim.

Ambientalistas questionam essa “história de sucesso”, argumentando que ela apenas substituiu a lenda do lobo mau com outro mito, em detrimento da ciência.

“Sabemos agora que alces são mais resistentes e que Yellowstone é mais complexo do que lhes deram créditos. Ao focar nesta história sobre os lobos de Yellowstone, desviamos a atenção de problemas maiores, enganamo-nos sobre os verdadeiros desafios da gestão de ecossistemas, e adicionamos mais mitologia em torno dos lobos, em detrimento da compreensão científica”, adverte Arthur Middleton, ex-aluno de pós-graduação no laboratório de Kauffman, em Wyoming Cooperative Fish and Wildlife Research Unit. [IFLScience, NatGeo, ESA]

3 comentários

  • Cesar Grossmann:

    A ciência é interessante, ela não se contenta com a primeira explicação nem mesmo com as aparências, e trata de descobrir se há explicações alternativas ou se as aparências confirmam o que realmente está acontecendo.

    É preciso ir além das aparências, e tentar não ficar cego com o que parece ser uma boa notícia.

  • otavio junior:

    Hail Stark!

  • Cecilia Forte:

    Matéria muito boa! Eu amo os lobos!!!!

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