Consenso surge espontaneamente, de acordo com cientistas

Por , em 17.02.2015

Um novo estudo da Universidade de Pensilvânia (EUA) descobriu que convenções sociais podem surgir de repente, do nada, sem forças externas dirigindo sua criação.

A pesquisa utilizou um experimento para testar se e como populações grandes chegam a um consenso – esse consenso pode envolver de tudo, desde nomes do bebê aceitáveis a padrões de conduta profissional.

“É um equívoco comum que esse processo depende de algum tipo de líder, ou fonte de mídia centralizada, para coordenar uma população. Nós mostramos que pode depender de nada mais do que as interações normais em redes sociais”, explica Damon Centola, um dos pesquisadores do estudo, junto com Andrea Baronchelli, da City University London (Reino Unido).

O experimento

Para entender como as normas sociais surgem, Centola e Baronchelli inventaram um jogo online que recrutou participantes de toda a WWW usando anúncios. Em cada rodada, os participantes eram pareados, viam uma fotografia de um rosto humano e tinham que dar-lhe um nome. Se ambos os jogadores dessem o mesmo nome, ganhavam uma pequena quantidade de dinheiro. Se não, perdiam dinheiro e viam a sugestão do parceiro. O jogo continuava com novos parceiros por até 40 rodadas.

Os pesquisadores queriam ver se alterar a interação dos jogadores afetava a capacidade do grupo de chegar a um consenso.

Assim, criaram três novas versões do jogo com 24 jogadores, cada um dos quais posto em uma posição particular dentro de uma “rede social”. Os participantes não estavam conscientes de sua posição.

Na versão “rede geográfica”, os jogadores interagiam repetidamente com seus quatro vizinhos mais próximos (onde foram postos no jogo).

Na versão “pequena rede mundial”, os participantes jogavam com apenas quatro outros jogadores, mas escolhidos aleatoriamente.

E na versão “mistura aleatória”, os jogadores não estavam limitados a quatro outros parceiros, e jogavam cada novo ciclo com um novo parceiro, selecionado aleatoriamente entre todos os participantes.

Conforme os jogos caminhavam, os pesquisadores observaram padrões claros no comportamento das pessoas nas diferentes redes.

Nas versões “rede geográfica” e “pequena rede mundial”, os participantes facilmente coordenavam com os seus vizinhos, mas não eram capazes de entrar em um consenso em um “vencedor global”, ou seja, não chegavam a apenas um nome mais popular. Em vez disso, alguns nomes concorrentes surgiam como opções populares, competindo pelo domínio global.

Já na versão “mistura aleatória”, enquanto no começo parecia que seria impossível haver um “vencedor global”, dentro de apenas algumas rodadas, todos concordaram em um único nome.

“Consenso surgiu espontaneamente a partir do nada”, disse Centola. “No início, era o caos, todo mundo estava dizendo coisas diferentes e ninguém coordenava com ninguém, e então, de repente, pessoas que nunca tinham interagido umas com as outras estavam todas usando as mesmas palavras”.

Implicações

Os resultados correspondem muito bem ao modelo matemático dos pesquisadores. Esse modelo previa que uma mistura aleatória permitiria que um nome decolasse e se tornasse o grande vencedor, um conceito que em física é conhecido como quebra de simetria.

Isso ocorreu em amostras com 24, 48 e 96 jogadores, e essa consistência sugere que a teoria provavelmente se provaria correta indefinidamente – explicando, por exemplo, como convenções sociais se formam até mesmo em grandes grupos como nações.

Os resultados também mostram que o processo de construção de consenso pode ser manipulado ajustando como os participantes interagem uns com os outros.

“Ao fazer mudanças simples em uma rede social, os membros de uma população tornam-se mais propensos a concordar espontaneamente em uma norma social”, concluiu Centola. [Phys]

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