A descoberta mais deprimente sobre seu cérebro

Por , em 25.09.2013

Segundo uma nova pesquisa da Universidade Yale (EUA) conduzida por Dan Kahan, as crenças políticas destroem nossa capacidade de fazer contas.

Kahan realizou algumas experiências sobre o impacto da paixão política sobre a capacidade das pessoas de pensar claramente. Sua conclusão foi de que o partidarismo pode minar nossas habilidades básicas de raciocínio.

Em outras palavras, pessoas perfeitamente capazes de fazer contas cometem erros graves em um problema que de outra forma provavelmente seriam capazes de resolver, simplesmente porque a resposta certa vai contra suas crenças políticas.

1.111 participantes foram questionados sobre suas opiniões políticas, e fizeram uma série de perguntas destinadas a avaliar sua “matemática”, isto é, sua capacidade de raciocínio matemático. Eles então foram convidados a resolver um problema muito difícil que envolvia interpretação dos resultados de um estudo científico (falso).

Algumas pessoas tiveram que interpretar uma tabela de números sobre se um creme de pele reduzia erupções cutâneas, e outras foram convidadas a interpretar uma tabela diferente, que continha os mesmos números, sobre se uma lei que proibia os cidadãos americanos de carregar armas ocultas em público reduzia o crime.

Kahan descobriu que, quando os números na tabela entravam em conflito com as posições das pessoas sobre o controle de armas, elas não faziam as contas direito, embora conseguissem fazer as mesmas contas quando o assunto era o creme de pele.

A pior constatação foi que, quanto mais avançadas eram as habilidades matemáticas das pessoas, mais provável era de que suas opiniões políticas, fossem liberais ou conservadoras, diminuíssem sua capacidade de resolver o problema de matemática.

Em outras palavras, diga adeus ao sonho de que a educação, o jornalismo, a evidência científica, a literacia mediática ou a razão possam fornecer as ferramentas e as informações de que as pessoas precisam para tomar boas decisões.

Na esfera pública, a falta de informação não é o problema real. O obstáculo é a forma como as nossas mentes funcionam, não importa o quão inteligentes ou racionais nós pensamos que somos. A cabeça não chega nem perto de ganhar do coração.

Essa não é a primeira vez que um estudo chega a uma conclusão desse tipo. Brendan Nyhan, professor assistente da Faculdade de Dartmouth (EUA), também realizou experimentos para tentar descobrir se os fatos importavam versus as crenças, e a resposta é, basicamente, não.

Ele concluiu que quando as pessoas estão mal informadas, dar-lhes fatos para corrigir esses erros só faz com que elas se apeguem ainda mais a suas crenças. Por exemplo, pessoas que pensavam que armas de destruição em massa haviam sido encontradas no Iraque acreditaram muito mais nessa desinformação quando foram apresentadas a uma notícia que a corrigia.

Outro resultado visto por Nyhan, muito semelhante a nova pesquisa, tinha a ver com crenças afetando a habilidade de uma pessoa de interpretar gráficos.

No seu experimento, as pessoas que disseram que a economia era a questão mais importante para elas, e que desaprovavam o histórico econômico do presidente americano Barack Obama, quando viram um gráfico de empregos não agrícolas em relação ao ano anterior – uma linha ascendente, adicionando cerca de um milhão de empregos – responderam, olhando diretamente para a figura, que o número de pessoas com empregos tinha abaixado.

No entanto, se antes de verem o gráfico elas eram convidadas a escrever algumas frases sobre uma experiência que fez com que se sentissem bem consigo mesmas, um número significativo de pessoas mudava de opinião sobre a economia. Isso sugere que, se você gastar alguns minutos afirmando sua autoestima, você é mais propenso a dizer que o número de empregos aumentou.

Seja como for, talvez a implicação mais importante desses estudos é de que mais e melhores fatos não transformam eleitores de baixa informação em cidadãos bem equipados: apenas os torna mais comprometidos com seus equívocos. O poder da emoção sobre a razão não é um “erro” em nossos sistemas operacionais humanos: é uma característica deles. [Salon, Grist]

6 comentários

  • pmahrs:

    Normalmente se culpa eleitores pobres e simples por alguns eleitos; então temos que fazer o máximo para diminuir a pobreza e não ridicularizar, calar ou tentar anular a expressão deles nas urnas como fazem velhos ditadores de esquerda ou direita. Se podem ser induzidos, podem o ser pelos dois lados, principalmente através de mídias.

  • Clauton Leal:

    Interessante, a melhor parte foi a conclusão no final do texto.

  • Cosme Aristides:

    Mas esse sempre foi o problema levantado pelo ceticismo. As crenças como fatores inibidores do conhecimento. E a proposta de que podemos abandoná-las. Pois a não crença não é negação, é questionamento, é o por em dúvida, nem fechando com a tese ou com a antítese. Não precisamos crer ou nos acharmos certos para tomar decisões, desde que tenhamos coragem para assumir o risco de errar.

    • pmahrs:

      Muito bem!!!

  • pmahrs:

    Se alguns ateus acham irracional a crença de religiosos deveriam achar muito mais irracionais políticos. A fé pode não ser lógica já que usa outras redes neurais diferente da razão e matemática, mas ao menos se refere a entidades em outra frequência vibratória, outra dimensão ou outro estado mental para “perceber” além de nossos sentidos comprovados. Já políticos desafiam a lógica e razão matemática e distorcem esta dimensão material mesmo e tentam provocar uma impressão contrária do que percebida pelos sentidos naturais nas frequências capitadas pelos nossos 5 sentidos básicos e ainda prometem o paraíso e toda sorte de saúde e prosperidade a curto prazo e nesta vida mesmo, bastando apenas votarmos neles, nem fé precisa. Mas o fato é que comparando com médias internacionais nossa arrecadação é muito baixa para 195 milhões de habitantes devido a péssima distribuição de renda e poder de compra da maioria, apenas 5 a 7% da população pagam impostos nas alíquotas mais altas de IR ou carga tributária.

    • PhysicistJB:

      Não é mais ou menos irracional ter fé seja lá no que for. É simplesmente irracional, vindo diretamente da emoção e é disso que o texto trata – como nos tornamos racionalmente mais fracos quando defendemos um ponto de vista com paixão. Note que os religiosos tomam partido de um ser indetectável, criando um milhão de motivos esdrúxulos apenas para explicar essa ausência (outra dimensão, fora do Universo, feido de energia superior e outras fantasias dignas de boas revistas em quadrinho). O mesmo se dá aos partidários fanáticos. O político que eles defendem são os mais criminosos do planeta, mas, ainda assim defendem inventando outros milhões de motivos para explicar as supostas perseguições. Na minha opinião humilde, é por isso que deveríamos ser céticos, inclusive no que se refere as ciências.

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