Danos cerebrais podem causar falsas memórias

Por , em 6.12.2010

Um novo estudo descobriu que as lesões cerebrais podem fazer mais do que apenas apagar memórias. Em alguns casos, podem enganar o cérebro para que ele se lembre falsamente de um objeto como sendo familiar.

A pesquisa foi feita com simulações e estudos em animais. A descoberta surpreendente pode ajudar a explicar problemas de memória semelhantes em pacientes humanos que sofrem de amnésia ou mal de Alzheimer.

Ambas as condições podem danificar uma parte específica do cérebro, chamada córtex perirrinal, uma região enterrada na parte média do cérebro que ajuda a formar memórias, peneirar informações recebidas dos sentidos, e construir uma imagem complexa de um objeto.

Os danos nessa parte do cérebro atrapalham a sua capacidade de formar memórias complexas baseadas em representações detalhadas de objetos vistos no mundo real. Isso significa que o cérebro precisa confiar preferivelmente em características mais simples, que geralmente aparecem em muitos objetos.

Segundo os pesquisadores, representações mais simples de objetos são relativamente facilmente confundidas, e, como resultado, falsas memórias são geradas. Por exemplo, uma determinada linha ou curva em um objeto muito provavelmente aparece em muitos outros objetos.

Com essa suposição em mente, os pesquisadores testaram a teoria em animais. Eles usaram ratos de laboratório normais e ratos que tinham tido danos cerebrais. Os cientistas primeiro deram aos ratos três minutos para familiarizar-se com um objeto específico. Os objetos eram pequenos, complexos e coloridos, semelhantes a um gnomo de jardim ou um trem de brinquedo.

Em seguida, prenderam os ratos em gaiolas separadas por uma hora, e os liberaram novamente em um ambiente onde eles poderiam encontrar o objeto antigo ou um novo objeto.

Os ratos normais passaram mais tempo explorando os objetos novos, e menos tempo com o objeto antigo, que já era familiar. Já os ratos com lesões cerebrais gastaram menos tempo explorando os novos objetos, um sinal de que os trataram como se fossem familiares. Se os ratos tivessem simplesmente se esquecido de ter encontrado o objeto antigo, eles teriam passado mais tempo explorando tanto os objetos antigos quanto os novos.

Os pesquisadores suspeitavam que os ratos com lesões cerebrais tinham falsa familiaridade com os novos objetos porque viram características simples semelhantes, mas não relacionadas a eles, no ambiente da gaiola durante o período de detenção.

Então, os pesquisadores repetiram o experimento, dessa vez mantendo os ratos em um ambiente escuro, em vez de uma gaiola aberta, durante a uma hora entre as duas fases da pesquisa. O ambiente escuro deveria impedir os ratos de ver qualquer coisa que pudesse construir uma falsa memória.

A suspeita se mostrou correta quando os ratos com lesão cerebral agiram normalmente no ambiente misto com objetos antigos e novos após passar um tempo no escuro.

Os pesquisadores desenvolveram uma teoria da hierarquia de representação da cognição, que sugere que a informação visual é organizada em representações mais complexas de objetos do mundo real.

Essa organização da informação supostamente ocorre em certas partes do cérebro, como o córtex perirrinal. Sem ele, ratos ou seres humanos com lesões cerebrais não seriam capazes de produzir representações, deixando em aberto a possibilidade de “mistura de memórias”.

Os pesquisadores testaram outras previsões que sustentam sua teoria em pacientes humanos com amnésia ou Alzheimer, mas ainda não repetiram a experiência realizada com ratos em seres humanos, algo que esperam fazer no futuro.

Mas já há algumas evidências que pessoas com vários tipos de perda de memória (como Alzheimer) vão melhor em testes de memória se passarem um tempo antes do teste em um ambiente escuro e silencioso.

Sendo assim, os pesquisadores suspeitam que as principais descobertas do estudo se apliquem aos seres humanos, mas não explicam a ampla gama de sintomas resultantes de danos cerebrais mais amplos (já que em ratos os danos são mais seletivos). [LiveScience]

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