Axilas: descubra porque elas cheiram tão mal

Por , em 19.05.2014

Todo mundo sabe que desodorantes e antitranspirantes são itens básicos de sobrevivência em sociedade. Não precisa nem estar calor para que a gente transpire debaixo do braço e comece a ter aquele odor desagradável. Mas por que as axilas cheiram tão mal?

Bem, porque milhões de bactérias tem que viver em algum lugar.

Suor e odor nas axilas

Existem dois tipos universalmente aceitos de glândulas sudoríparas. A glândulas écrinas são as mais abundantes, encontradas na maior parte do corpo, e secretam um suor que é uma solução estéril e cheia de eletrólitos que contém principalmente cloreto de sódio (NaCl), potássio e bicarbonato. A maioria de nós está familiarizado com a razão pela qual nossas glândulas écrinas produzem suor. Elas fornecem um mecanismo para termorregulação via perda de calor por evaporação e fazem a manutenção do nosso equilíbrio eletrolítico.

Já as células sudoríparas apócrinas são encontradas em locais peludos do corpo, tais como as axilas e entre as pernas. Perto da superfície da pele, no interior do folículo piloso, glândulas apócrinas secretam um líquido leitoso que mais comumente ocorre quando você está sob estresse emocional. Este líquido é inodoro. Apesar de sua falta de cheiro, estas glândulas são ricas em precursores de substâncias odoríferas (colesterol, triglicerídeos, ácidos graxos, ésteres de colesterol, esqualeno). Elas também contém andrógenos, hidratos de carbono, amônia e ferro férrico. Além disso, essa glândula produz feromônios, os sinais químicos que instigam respostas comportamentais (por exemplo, atração sexual).

A qualquer momento, existem 100.000.000.000.000 (cem trilhões) de bactérias vivendo em seu corpo. Então, é claro, algumas vão passear no banquete que é a sua axila, casa de um milhão de bactérias por centímetro quadrado. Se alimentando dos precursores do fedor já mencionados estão notáveis fedorentas como a Corynebacterium spp., Staphylococcus spp., Micrococcus spp. e Propionbacterium spp, e, dependendo do que escolhem se alimentar, uma variedade de odores horríveis podem ser produzidos.

As moléculas contendo enxofre são as piores, dando às sua axilas aquele aroma nauseante característico, semelhante ao da cebola. Outras, porém, produzem um odor semelhante ao do cominho. Dois possíveis feromônios, o androstenol, que é almiscarado, e a androstenona também podem contribuir. Por fim, o ácido isovalérico, assim como ácido propiônico, tem um cheiro de pé suado, parecido com queijo.

Uma riqueza de informações

Pesquisadores determinaram que alguns mamíferos nascem com buquês diferentes, organizados em categorias chamadas de “tipos de odores”. Estes são odores que distinguem um indivíduo de outro membro da espécie e são determinados por genes polimórficos. O tipo de um indivíduo é determinado em parte por genes em um complexo principal de histocompatibilidade (MHC), que desempenha um papel no sistema imunológico.

Atuando como “crachás olfativos”, a fragrância exclusiva de um indivíduo ajuda os outros a identificá-lo e, aparentemente, não pode ser mudada, não importa quanto alho e cominho ele coma. Um estudo realizado pelo Monell Chemical Senses Center, na Filadélfia, nos Estados Unidos, fez testes comportamentais com ratos “sensores”, que foram treinados para usar o seu olfato para escolher entre pares de ratos de teste que diferiam em genes MHC, dieta ou ambos. Os resultados indicam que os tipos de odor geneticamente determinados persistiram, independentemente do que os ratos comeram, mesmo tendo mudanças na dieta que influenciaram fortemente os perfis de odor dos camundongos individuais.

“Se for possível demonstrar que este caso se aplica também para os seres humanos, abre-se a possibilidade de dispositivos serem desenvolvidos para detectar assinaturas odoríficas individuais em seres humanos”, concluíram os autores do estudo.

Pesquisas posteriores exploraram até que ponto doenças em um corpo exalam um aroma, aproveitando o virtuosismo olfativo dos nossos amigos caninos. Um artigo publicado pela Associação Europeia de Urologia relata que um pastor belga Malinois foi treinado para farejar e reconhecer a urina de pessoas com câncer de próstata. Depois de uma fase de aprendizagem e um período de treinamento de 24 meses, a capacidade do cão para discriminar câncer de próstata e controle de urina foi testada em um procedimento duplo-cego. O cão identificou corretamente as amostras de câncer em 30 de 33 casos. Dos três casos erroneamente classificados como câncer, um paciente fez uma nova biópsia e o câncer de próstata foi diagnosticado.

Poderia ser pior

Algumas pessoas sofrem de uma condição em função da qual seu odor corporal cheira a peixe podre. Chamada de trimetilaminuria, as pessoas com este transtorno não podem metabolizar a trimetilamina, substância encontrada em ovos, fígado, leguminosas e alguns grãos. Normalmente, ela é quebrada por bactérias e oxidada no fígado para se tornar o n-óxido de trimetilamina (TMAO), que é inodoro e excretado do corpo.

O composto tem cheiro de peixe porque é comumente encontrado neles. Acredita-se que a trimetilamina aumenta a concentração osmótica e, assim, diminui o ponto de congelamento dos fluidos corporais. Em pessoas que sofrem de trimetilaminuria, o cheiro é emitido em seu suor, urina e respiração, uma condição que muitas vezes leva ao isolamento social e escárnio.

Até um clássico da literatura tem um exemplo de um personagem que sofre deste mal. Em “A Tempestade”, de Shakespeare, Caliban revolta-se: “O que temos aqui? Um homem ou um peixe? Vivo ou morto? Um peixe: ele cheira como um peixe, um cheiro muito antigo e semelhante ao de peixe. Um peixe estranho!”.

A trimetilaminúria é uma condição hereditária rara que só ocorre em pessoas que herdaram duas cópias do gene defeituoso, um de sua mãe e um do pai. Estima-se que 1 em cada 10 mil pessoas sofram da síndrome.

Bônus

Um terceiro tipo de glândulas sudoríparas, chamadas apócrinas, tem sido sugerido por alguns cientistas. Apesar disto, um estudo de 2007 que analisou a pele axilar não conseguiu encontrar evidências delas, seja por histologia ou por imunofluorescência. [Gizmodo, PubMed, University of Britol, European Urology, LiveScience, Real Clear Science]

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