Energia nuclear: é possível construir uma usina a prova de desastres?

Por , em 29.03.2011

Foram necessários muitos anos para acabar com a preocupação mundial sobre as usinas nucleares causada pelo acidente de Chernobyl de 1986. Desde então, os reatores ficaram mais seguros. Contudo, o terremoto no Japão, seguido de outro desastre nuclear, reacendeu velhas polêmicas.

Apesar dos reatores japoneses terem sido o mais modernos e seguros quando foram construídos, a situação por lá tem ficado pior. A boa notícia é que já existem plantas nucleares em terra que são significantemente menos suscetíveis a acidentes. Muitos estudos voltados à pesquisa e desenvolvimento de plantas nucleares são focados em segurança. Por isso, talvez não seja o caso de desistir completamente da energia nuclear.

Os reatores nucleares em operação mais avançados, chamados de “a terceira geração”, começaram a surgir no Japão em 1996 e foram projetados para aguentar um arsenal de agressões naturais ou ocasionadas pelo homem. Infelizmente, eles foram instalados uma década depois do último reator instalado em Fukushima.

Quando estas estruturas nucleares mais modernas recebem um impacto direto, sua estrutura ganha. Eles também são bem mais resistentes a terremotos e tem sistemas que deixam menores as chances de acontecerem problemas operacionais como aqueles que estão acabando com as instalações da Tokyo Eletric Power Company. A segurança nos modelos mais novos é passiva: os sistemas instalados foram projetados para conter calamidades; elas se apóiam em mecanismos de convecção, na gravidade e na resistência a altas temperaturas em casos de emergência, e não em fatores que podem falhar como energia elétrica.

Muitos dos problemas que o Japão está enfrentando em seus reatores com problemas já foram resolvidos. Na verdade, só existem quatro reatores da “terceira geração” em funcionamento no mundo e eles estão todos na terra do sol nascente. Taiwan está trabalhando para fazer o mesmo upgrade em seus reatores, chamados de advanced boiling water reactors (ABWR), e os EUA licenciaram o design, mas os ABWR não podem ser mais considerados tecnologia de ponta. O Japão instalou os dele no final dos anos 1990.

A China investiu, recentemente, no reator AP1000, que é considerado uma geração além da “terceira”. Se uma de suas torres de resfriamento quebra, o próprio reator toma conta do problema sem precisar de intervenção do operador ou de bombas. Se a temperatura ficar muito alta, a gravidade cuida de fazer água cair de um tanque resfriado que fica acima do reator.

Existem outros exemplos como o Kerena, da Alemanha. Ele tem um sistema central que lacra o combustível nuclear para impedir vazamentos. No Canadá, o ACR está esperando por certificação, e tem dois sistemas de paralisação. A tendência é que plantas mais seguras surjam em velocidade maior nesta década.

O futuro da energia nuclear

Ao mesmo tempo, empresas e governos estão trocando idéias pelo mundo todo pensando no futuro.

Enquanto os reatores da terceira geração tentam dar uma “incrementada” em seu funcionamento, a “quarta geração” verá uma troca total de projetos. O urânio será substituído por urânio exaurido e o sódio ou hélio poderão ser usados no lugar da água para resfriamento.

Novas tecnologias levam tempo para serem implementadas. Existe, como se pode imaginar, um monte de exigências regulatórias bem severas e que, com os últimos acontecimentos, devem ficar ainda mais rigorosas.

Os quarto reatores de Fukushima foram construídos em 1982, 1984, 1985 e 1987. Eles podem ser considerados da “segunda geração”, foram instalados diretamente em um leito rochoso, o que os faz um pouco mais resistentes a terremotos, o formato é quadrado, forma que também ajuda a resistir a este tipo de desastre. O acidente que aconteceu em Fukushima não teria acontecido nos reatores da terceira geração. A triste situação pelo menos serviu para mostrar que eles não dão conta do cenário atual e a mudança para reatores mais modernos deve ser acelerada. [Gizmodo]

13 comentários

  • Ricardo Machado:

    A ùnica usina nuclear segura é a que não existe. Reflita sobre os riscos e perigos de toda a cadeia produtiva “do berço ao túmulo” como se diz em produção mais limpa (P+L), ou seja, desde a extração na mina até o descarte dos resíduos.

  • idpol:

    Qtas vidas serão ceifadas ou contaminadas no mundo para que essa tecnologia permaneça a nível de laboratório. No dia que povo tiver “peso” sobre algo que lhe prejudicará frente a tecnologia da morte, viveremos mais sossegados. Já vejo a cena de uma guerra; quais alvos serão os primeiros. Nem precisam serem mísseis atômicos, qualquer um de longo alcance é suficiente para atingirem usinas nucleares. Ate vírus específicos existem e que estão dando dor de cabeça aos técnicos de segurança. Até hoje o que descobriram é que o virus É MUITO BOMMMMMMMM. Não há antivirus que barre sua entrada em sistemas nucleares. NÃO MERECEMOS E NÃO PRECISAMOS DESSA ENERGIA. PREFIRO A LAMPARINA!

  • gustavo:

    É engraçado. As pessoas dizem que a Energia Nuclear deve continuar, porque é limpa, produtiva e segura (?), mas parece que ninguém para pra pensar e estudar o assunto antes de falar. Como assim, precisamos continuar investindo em uma energia CARA e que, como já foi provado, NÃO É tão segura assim? Pretendem entupir o mundo com lixo atômico e continuar desmatando enquanto isso? Vão continuar protelando para estudar novas energias limpas E seguras até quando?

    Enquanto continuarem achando que PRECISAMOS de uma energia mortal e instável (Fukushima não me deixa mentir), não vão precisar investir em energias renováveis – as quais não se resumem a solar e eólica. Geotérmica, maremotriz, biomassa e biocombustíveis também são renováveis (já que tá na moda usar esse termo, mesmo sem saber o que significa). E que, por sinal, são rentáveis SIM.

  • gustavo:

    e masa

  • Iasmin. Meio Ambiente- CEFETMG:

    O desastre no Japão reiniciou uma série de debates a respeito do uso da energia nuclear. As opniões agora se dividem, muitas nações já começam a repensar os seus programas nucleares. E seria plausível o Brasil fazer o mesmo, em relação a Angra III.
    As demais formas de geração de energia, biomassa, geotérmica, biocombustíveis, usinas eólicas, podem e devem ser a saída desse dilema. Antes que novas tragédias ocorram.
    O Japão está cituado em uma região que se divide em três placas tectônicas, um terremoto, tal como ocorreu era possível e tá mesmo esperado, poucos anos atrás um fenômeno de magnitude parecida ocorreu na China.
    A própria Agência Internacional de Energia Atômica condena os projetores da Usina de Fukushima.
    Nos resta aguardar o desfecho do maior acidente nuclear do Japão desde a II Guerra. Nos resta esperar o bom senso dos governantes, fazer com que esse ciclo tenha fim.
    Os acidentes nucleares podem ser raros, mas quando ocorrem deixam um rastro de morte e a cicatriz em forma de cânceres e mutações.

  • Iasmin (Meio Ambiente . CEFET-MG):

    A questão da energia nuclear se tornou um assunto delicado. O desastre em Fukushima colocou em cheque pontos cruciais na continuação do desenvolvimento desse tipo de geração de eletricidade. A explosão de quatro reatores, causando a contaminação da radiação que chega ao nível 7, assim como Chernobyl, fez com que inúmeras pessoas passassem a se posicionar contra a ploriferação da tecnologia atômica.
    O Japão se encontra em uma região entre três placas tectônicas diferentes. Os tremores, o tsunami era um risco possível e até mesmo, esperado. A própria Agência Internacional de Energia Atômica condenou a compaiha responsável pelo projeto de Fukushima.
    Os acidentes que envolvem radiação provocam consequências catastróficas e se estendem pelos anos, se mostrando através de mutações e câncer. Podem ser raros, mas quando ocorrem deixam o rastro de morte e aquela cicatriz, que dói tanto quanto uma ferida aberta.
    Tendo em vista todos esses desastres e as novas possibilidade de criação de energia todos nós deveríamos dizer “não, energia nuclear!”. E esquece a construção de Angra III, no Brasil.
    Viva ao mundo da biomassa, da energia eólica, das termoelétricas, da energia solar!

  • Izabela:

    Tá certo que nenhuma energia é 100% segura, mas uma coisa é ser passível de falhas e outra é ser uma bomba-relógio que só Deus sabe quando vai explodir. Enquanto produz energia, é linda. Quando dá errado, todo o mundo chora, se comove, doa mantimentos e o caralho a quatro E FICA DE BRAÇOS CRUZADOS QUANTO A ENRGIA NUCLEAR. Palmas para a hipocrisia.

  • Izabela:

    É engraçado. As pessoas dizem que a Energia Nuclear deve continuar, porque é limpa, produtiva e segura (?), mas parece que ninguém para pra pensar e estudar o assunto antes de falar. Como assim, precisamos continuar investindo em uma energia CARA e que, como já foi provado, NÃO É tão segura assim? Pretendem entupir o mundo com lixo atômico e continuar desmatando enquanto isso? Vão continuar protelando para estudar novas energias limpas E seguras até quando?

    Enquanto continuarem achando que PRECISAMOS de uma energia mortal e instável (Fukushima não me deixa mentir), não vão precisar investir em energias renováveis – as quais não se resumem a solar e eólica. Geotérmica, maremotriz, biomassa e biocombustíveis também são renováveis (já que tá na moda usar esse termo, mesmo sem saber o que significa). E que, por sinal, são rentáveis SIM.

  • ViniciusD.:

    Os projetos de usinas nucleares devem sim ser levados adiante, cada vez mais os aperfeiçoando, já que é uma forma de energia que não requer muito espaço físico (como várias outras), não depende do clima (como a energia solar, eólica…), etc.

  • Fuentes:

    Na natureza existe o que faz bem e o que é venenoso. O homem pega o veneno e concentra, para tirar energia dele. Isso é uma usina nuclear, um depósito de veneno q gera energia.

  • Bob:

    um complemento ao meu comentário anterior:

    “Nesse ponto, uma opinião predomina: a infelicidade dos japoneses deixou à vista de todos o que há muitos anos se suspeitava: uma irresponsabilidade escandalosa das autoridades japonesas, uma despreocupação criminosa na escolha dos locais para a instalação dessas usinas, uma falta total de transparência desde o início da catástrofe e, enfim, o sacrifício deliberado dos interesses coletivos (a população japonesa) em detrimento de interesses privados (da Tokyo Power Company).”

    (Fonte/Estadão/Lições de Fukushima: http://bit.ly/e5ORdn
    30/03/2011|0h 00)

  • André:

    Parece-me imprudente, até mesmo irracional, criar “algo” que, em caso de falha, pode vir a ceifar qualquer forma de vida durante séculos (ou milênios).
    A humanidade não deveria nem mesmo cogitar a hipótese da construção de novas UN’s, haja visto que elas são SIM suscetíveis a falhas.

  • Bob:

    Entre o lúdico e o real, as questões referentes aos desastres em usinas atômicas não podem, nem devem, ser avaliadas somente sob a ótica da ‘tecnologia’! É sabido e constatado que, nos grandes desastres ocorridos nas últimas décadas ao redor do mundo, a CAUSA principal dos problemas deveu-se ao FATOR HUMANO (corrupção, em última instância)…os problemas técnicos/tecnológicos foram CONSEQUÊNCIAS. Assim sendo, não me parece que a humanidade tenha suficiente qualificação ÉTICA para lidar com tal tecnologia!

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