Estudo: Esperar pelo amor da sua vida faz sentido evolutivo?

Por , em 20.09.2015

A maioria de nós já passou uma parte considerável de nossa vida procurando o amor verdadeiro – o nosso par perfeito, a outra metade da laranja, a tampa da panela e todos aqueles outros equivalentes. A busca por um parceiro ideal não é exclusiva dos seres humanos, e muitos outros animais também fazem isso. Mas, de uma perspectiva evolutiva, não é realmente claro por que nós formamos casais. Por que gastar tempo e esforço com isso quando poderíamos estar reproduzindo?

Agora, um novo estudo com aves traz novos fatos sobre este problema de longa data, sugerindo que há benefícios evolucionários em esperar pelo amor e encontrar o parceiro ideal. Os resultados também podem ser aplicados aos seres humanos.

Então, como você sabe quem é o seu parceiro ideal? A resposta parece mudar de espécie para espécie. Como as fêmeas costumam investir mais na reprodução do que os machos, elas tendem a ser o sexo com mais critérios de escolha. Muitas vezes, há um amplo consenso de quais machos são os mais desejáveis: aqueles que oferecem mais ou melhores recursos, como um território muito bom, ou genes superiores que garantem uma prole saudável.

Somos meio diferentes

Nos seres humanos também existem alguns indivíduos que são geralmente um consenso no quesito “ser extremamente atraente”. Este tipo de consenso, no entanto, não é necessariamente um fator importante quando se trata de escolher um parceiro de longo prazo. Na verdade, quando se trata de encontrar “o chinelo velho para o pé cansado”, o companheiro certo parece variar de pessoa para pessoa.

Embora o comportamento em relação a relacionamentos de longo prazo dos seres humanos seja bastante raro entre os mamíferos, essa característica é compartilhada com muitas espécies de aves. Uma dessas espécies é o mandarim, um pássaro comum, muitas vezes usado ​​em pesquisas. Como as pessoas, os mandarins formam casais de longo prazo, e cada pássaro tem a sua preferência.

O novo estudo, publicado na revista “PLoS Biology”, investigou qual pode ser o motivo disso. Os pesquisadores pensaram que se os animais se esforçavam tanto para encontrar o parceiro perfeito, então deve haver um benefício de reproduzir com esse parceiro em vez de outro, ou muitos outros.

Casais penados

Para descobrir o que está por trás disso, eles deixaram 160 aves escolherem seus próprios parceiros num grande recinto comum. Depois que os pássaros tinham escolhido seus pares, eles foram colocados em gaiolas menores por dois meses. Metade dos casais foram alojados com o parceiro escolhido, enquanto a outra metade foi alojada o parceiro escolhido por outros.

Usando aves que tinham sido escolhidos anteriormente por um outro pássaro, eles controlavam a possível confusão de unir pássaros com companheiros “objetivamente” inferiores. Ainda assim, estas aves eventualmente também formaram laços. Finalmente, todos os pares agora estabelecidos foram colocados em aviários maiores novamente (seis pares em cada gaiola) para reproduzir.

O resultado foi dramático. Pássaros que reproduziram com parceiros de sua própria escolha tiveram 37% mais filhotes que sobreviveram à idade adulta do que as aves que copularam com um parceiro não escolhido por ela. Isso mostrou que alguma forma de compatibilidade com o seu par é importante para o sucesso reprodutivo desses pássaros.

Harmonia doméstica

Mas por que os pares “forçados” foram menos bem sucedidos na reprodução? Existem duas possibilidades. Uma delas é que os parceiros eram geneticamente menos compatíveis. Nos seres humanos, ser geneticamente semelhante pode significar uma boa sintonia (embora também tenha sido relatado em estudos que os seres humanos são mais atraídos pelo cheiro de camisetas suadas usadas ​​por pessoas que têm sistemas imunológicos geneticamente diferentes).

A outra possibilidade é que os parceiros tinham um comportamento menos compatível (por exemplo, em seus temperamentos).

Os autores do estudo haviam mostrado anteriormente que a viabilidade do embrião dos pássaros mandarins tem a ver com a composição genética do embrião e, portanto, a compatibilidade genética dos pais biológicos, enquanto a sobrevivência após a eclosão se devia puramente ao cuidado parental.

Esperar pelo amor? Cuidado e atenção

Enquanto a viabilidade do embrião não diferiu entre os dois grupos, mais filhotes morreram após a eclosão no grupo de “forçados”.

Os cientistas foram capazes de mostrar que os pares “forçados” eram menos carinhosos uns com os outros – fêmeas do grupo “forçado” eram menos atentas à corte do seu companheiro, enquanto os machos passaram menos tempo no ninho e mais tempo cortejando outras fêmeas do que em pares que escolheram os seus próprios parceiros.

Mas será que esses passarinhos podem nos dizer algo sobre a evolução da escolha de parceiro em nossa própria espécie? Apesar das semelhanças, obviamente não somos pássaros mandarins. Sistemas de acasalamento humanos variam entre culturas e no tempo, porém, nós evoluímos emoções como “atração” e “amor”, que têm a função de descoberta de um parceiro e conexão com um indivíduo em particular.

E, assim como os mandarins, pessoas diferentes são atraídas por e compatíveis com parceiros diferentes. Portanto, é provável que os nossos próprios comportamentos de escolha do companheiro, incluindo “namorar” e “terminar”, sejam parte de uma estratégia evolutiva para encontrar um parceiro compatível, que iria (pelo menos na história evolutiva) melhorar o nosso sucesso reprodutivo. Então, se você ainda não encontrou o amor da sua vida, não se desespere. A biologia evolutiva sugere que vale a pena o tempo e o esforço gasto na procura. [Phys.org]

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