Essa foi a última coisa que o satélite japonês perdido enxergou

Por , em 10.07.2016
Núcleo do aglomerado Perseus

Núcleo do aglomerado Perseus

Um buraco negro supermassivo está agitando vigorosamente o gás dentro de um aglomerado de galáxias, a fim de manter a formação de estrelas a um mínimo.

Essa nova descoberta, revelada pela sonda japonesa Hitomi, pode ajudar a resolver a questão de por que tão poucas estrelas se formam dentro de aglomerados de centenas ou milhares de galáxias.

A tragédia

No início deste ano, em fevereiro, o Japão lançou um satélite inovador de monitoramento de buracos negros para o espaço, somente para perdê-lo quase imediatamente em circunstâncias estranhas.

Os cientistas estavam empolgados com as possibilidades de estudo que a sonda traria, mas a missão, que deveria durar três anos, durou apenas um mês.

Uma série de eventos infelizes causados por ambos erros humanos e falhas de software deixaram o satélite girando fora de controle. Apesar das tentativas de recuperá-lo, o Hitomi continuou a girar e jogar detritos para o espaço até a JAXA (Agência de Exploração Aeroespacial do Japão) declarar que o satélite de US$ 273 milhões estava perdido.

Antes da “morte” de Hitomi, no entanto, os pesquisadores conseguiram salvar alguns dados que ele havia capturado. Estes foram compartilhados em um novo artigo publicado na Nature, com implicações fascinantes para o que sabemos sobre o papel dos buracos negros na formação de galáxias.

Perseus

Hitomi mediu o movimento do gás no centro do aglomerado de galáxias Perseus, com uma precisão sem precedentes – 50 vezes melhor que instrumentos anteriores.

De acordo com Andrew Fabian, professor de astronomia na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, o buraco negro no centro de Perseus agita o gás ao redor, evitando que ele esfrie e forme novas estrelas.

Sem essa atividade, a galáxia central seria muito mais brilhante e teria uma massa estelar muito maior.

Esta imagem ilustra como buracos negros supermassivos no centro de aglomerados podem aquecer gás intergaláctico, impedindo-o de formar estrelas

Esta imagem ilustra como buracos negros supermassivos no centro de aglomerados podem aquecer gás intergaláctico, impedindo-o de formar estrelas

Confirmando dados

Aglomerados de galáxias possuem de 50 a milhares de galáxias. Gás quente, atingindo dezenas de milhões de graus Celsius, compõe cerca de 15% desses aglomerados, fazendo-os brilhar intensamente no espectro de raios-X.

Estudar esse gás ajuda astrônomos a fazer estimativas de quão grande um aglomerado é, mas estas estimativas podem mudar de acordo com a rapidez com que o gás é agitado, um processo que também pode afetar o nascimento de estrelas.

Outros instrumentos já haviam estudado Perseus, o mais brilhante aglomerado no céu. Esses vislumbres revelaram enormes bolhas de gases de milhares de anos-luz de largura, cuspidas pelo buraco negro supermassivo no centro de Perseus.

Pela primeira vez, Hitomi foi capaz de ligar o movimento do gás às bolhas. As bolhas arrastam o gás a partir do centro do aglomerado, agitando-o e aquecendo-o. Logo, o gás é incapaz de formar novas estrelas.

“Embora os movimentos aqueçam o gás no centro do aglomerado, sua velocidade é de apenas cerca de 160 quilômetros por segundo, o que é surpreendentemente lento considerando quão perturbada a região parece em imagens de raios-X”, disse Roger Blandford, professor de física na Universidade de Stanford (EUA), ao portal Space.com.

Vida curta

Infelizmente, Hitomi foi capaz de estudar Perseus apenas brevemente antes de ser perdido.

Devido à falha, os pesquisadores não puderam fazer as mesmas medições em outros aglomerados e galáxias para compreender melhor o processo.

Apesar da sua destruição precoce, Hitomi gerou informações significativas. Em sua primeira semana após o lançamento, a nave passou três dias analisando Perseus, fazendo um total de quatro observações.

“Ser capaz de medir movimentos de gás é um grande avanço na compreensão do comportamento dinâmico dos aglomerados de galáxias e seus laços com a evolução cósmica”, disse uma coautora do estudo, Irina Zhuravleva, também da Universidade Stanford. “Embora a missão Hitomi tenha terminado tragicamente depois de um período muito curto de tempo, é justo dizer que abriu um novo capítulo na astronomia de raios-X”. [Space, Gizmodo]

2 comentários

  • Diego Luiz:

    Esse vídeo tá certo? As galáxias se moveram isso tudo em apenas 3 dias???

    • Rodrigo Lima:

      O movimento é uma simulação

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