Estamos esperando a lei que regulamente a nossa sensibilidade?

Por , em 22.09.2014

LEI E LEIA-SE

No dia 24 de Junho deste ano entrou em vigor a lei nº. 18118 que proíbe o uso de equipamentos eletrônicos — leia-se celular e similares — para fins não pedagógicos durante o horário de aulas nos estabelecimentos de educação de ensino fundamental e médio no Estado do Paraná. Penso que o mesmo já ocorreu ou está ocorrendo em outros estados.

Nada mais acertado.

Está provado que o processo cognitivo depende do foco no objeto de aprendizagem, portanto qualquer elemento estranho que rouba a atenção e dificulta a concentração evidentemente o prejudica.

Naturalmente como ocorreu com outras leis que regulamentavam algum tipo de obviedade — tais como a lei antifumo, por exemplo — surgiu uma certa resistência no início, mas com o passar do tempo a prática já se incorpora na conduta diária, haja vista que muitos anos antes da atuação de nossos legisladores as escolas já apresentavam tal norma de conduta em seu regimento interno.

Assim, a maioria dos alunos passa a deixar seus celulares no modo silencioso ou mesmo desligados ao entrar em sala. Dá para perceber que compreendem perfeitamente as razões de tal proibição, consentem e colaboram.

Geralmente quando ocorre alguma desobediência às normas, ela é pontual, muito rara e está efetivamente relacionada a um simples esquecimento por parte do aluno, que ao ser alertado desliga o telefone sem maiores problemas.

Fica patente que tudo deve ser regido pelo bom senso, afinal devemos ser rigorosos para que ocorra essa otimização do uso de tais dispositivos em ambiente escolar – mas ser rigoroso não quer dizer ser rígido.

Porque existem momentos em que cabe perfeitamente a utilização de um celular smartphone para fazer uma consulta rápida à internet, a um dicionário, a um livro digital e assim por diante.

Infelizmente a lei surgiu como uma necessidade de regulamentar o uso desses dispositivos em virtude de tensões crescentes em muitas comunidades escolares.

Mesmo sendo uma obviedade e uma simples norma de boa conduta teve que virar lei para que de um modo geral fosse levada à sério.

Agora eu me pergunto:

— Será que terá que virar lei a regulamentação do uso desses dispositivos — não apenas nas atividades escolares —  mas também nas demais atividades cotidianas?

Algo no estilo:

— Fica proibido a insensibilidade nas relações interpessoais.

Ou melhor:

— Desligue seu celular e viva!

Não é raro ver aquele punhado de pessoas robotizadas cutucando seu smartphone ou outro equipamento análogo completamente alheias ao que acontece ao seu redor. Desprezando a interação pessoal e imediata de quem está ali, presencial, em carne e osso, a seu lado.

E por que disso?

Será que esperamos uma lei estadual, federal ou universal para que aprendamos a ter sensibilidade de enxergar o óbvio?

Será que essa forma de inversão de hierarquia não será apontada, em um futuro mais esclarecido, como mais uma doença social desses anos bárbaros?

Gente! É sério! De verdade!

Custa deixar o telefone desligado ou mesmo colocado no modo silencioso quando estamos rodeados de amigos ou familiares?

O que pode ser tão urgente e tão prioritário que nos impeça de conversar pessoalmente com uma pessoa querida sem interrompê-la para cutucar um aparelho eletrônico? Tá. Tem alguém do outro lado. Mas será que ele não pode esperar um pouco?

— Afinal dar a atenção para quem está do nosso lado, fisicamente, nos dando atenção é muito mais que um ato de respeito e consideração.

É acima de tudo uma demonstração de afeto.

Não! Não é assim! São os outros que me ignoram!

São os outros que fincam a cara em suas gerigonças acessando infinitas redes sociais onde se emula a amizade.

Eu apenas dou o troco.

Eu não recebo atenção portanto também não dou a atenção.

Fica assim estabelecido o jogo do perde-perde, onde o egoísmo e a vaidade são as molas propulsoras de um revanchismo cíclico e retroalimentado.

É o aparelho em si que oferece essa alternativa ou somos nós seres pretensamente humanos que estamos paulatinamente nos desumanizando? Virando anexo de um eletrônico?

Eu penso que a tecnologia está a nosso serviço e somos nós quem apertamos os botões!

Ou não?

Afinal tais aparelhos foram concebidos para efetivar nossa comunicação – um enlace cognitivo e afetivo entre duas inteligências.

Acho que está faltando afeto e inteligência para estabelecer essa comunicação.

Comunicação?

Pois é exatamente isso o que não estamos fazendo!

— E se você querido leitor, está lendo esse artigo em um smartphone que tal olhar ao redor e ver se alguém a seu lado não está querendo conversar com você?

Faça por você.  Mas, faça-o agora!

— Antes que precise virar lei.

Artigo de Mustafá Ali Kanso 

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[Leia os outros artigos  de Mustafá Ali Kanso  publicado semanalmente aqui no Hypescience. Comente também no FACEBOOK – Mustafá Ibn Ali Kanso ]

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LEIA A SINOPSE DO LIVRO A COR DA TEMPESTADE DE Mustafá Ali Kanso

[O LIVRO ENCONTRA-SE À VENDA NAS LIVRARIAS CURITIBA E SPACE CASTLE BOOKSTORE].

Ciência, ficção científica, valores morais, história e uma dose generosa de romantismo – eis a receita de sucesso de A Cor da Tempestade.

Trata-se de uma coletânea de contos do escritor e professor paranaense Mustafá Ali Kanso (premiado em 2004 com o primeiro lugar pelo conto “Propriedade Intelectual” e o sexto lugar pelo conto “A Teoria” (Singularis Verita) no II Concurso Nacional de Contos promovido pela revista Scarium).

Publicado em 2011 pela Editora Multifoco, A Cor da Tempestade já está em sua 2ª edição – tendo sido a obra mais vendida no MEGACON 2014 (encontro da comunidade nerd, geek, otaku, de ficção científica, fantasia e terror fantástico) ocorrido em 5 de julho, na cidade de Curitiba.

Entre os contos publicados nessa coletânea destacam-se: “Herdeiro dos Ventos” e “Uma carta para Guinevere” que juntamente com obras de Clarice Lispector foram, em 2010, tópicos de abordagem literária do tema “Love and its Disorders” no “4th International Congress of Fundamental Psychopathology.”

Prefaciada pelo renomado escritor e cineasta brasileiro André Carneiro, esta obra não é apenas fruto da imaginação fértil do autor, trata-se também de uma mostra do ser humano em suas várias faces; uma viagem que permeia dois mundos surreais e desconhecidos – aquele que há dentro e o que há fora de nós.

Em sua obra, Mustafá Ali Kanso contempla o leitor com uma literatura de linguagem simples e acessível a todos os públicos.

É possível sentir-se como um espectador numa sala reservada, testemunha ocular de algo maravilhoso e até mesmo uma personagem parte do enredo.

A ficção mistura-se com a realidade rotineira de modo que o improvável parece perfeitamente possível.

Ao leitor um conselho: ao abrir as páginas deste livro, esteja atento a todo e qualquer detalhe; você irá se surpreender ao descobrir o significado da cor da tempestade.

[Sinospse escrita por Núrya Ramos  em seu blogue Oráculo de Cassandra]

6 comentários

  • Will Lamounier:

    Não creio que seja do interesse dos “donos do mundo”, fazer uma lei para que sejamos sensíveis, unidos, colaboradores interessados uns nos outros e no mundo real.

    Pra eles, somos só consumidores… de Smartfones, tablets, tvs, vídeo games e etc… isso tudo dá à eles muita grana e principalmente muuuuuito poder!

    Querem dar continuidade à desunião – dividir e conquistar – e assim “estamos”.

    E está tudo do jeito que devia estar – mas “cada um por si” – um dia isso muda! Façamos…

    • Cesar Grossmann:

      Mas é triste que precisamos de uma lei para punir a insensibilidade e a violência. Somos uma espécie capaz da luz e das trevas, mas ultimamente parece que as trevas tem tido força muito maior na natureza humana… Ou sou eu que sou otimista e acho que temos uma tendência natural pela luz.

  • D:

    Talvez falte uma lei para regulamentar o que é o outro, o que é uma comunicação de ”mais valor”, etc. Se não há, não dá pra criticar.

  • Guilherme Netto:

    muito difuso em minha opinião .
    mesmo assim , este texto levanta muitas questões sociais , é de cunho interessante para a filosofia do Direito .

    Grato pelas boas leituras .

  • daniel_vieira30:

    Infelizmente este fenômeno não é atual, desde muito tempo as pessoas se fecham em pequenos mundos para evitar o contato direto com um desconhecido, o remédio para curar esta doença generalizada ainda está muito bem escondido na mente de um gênio q talvez ainda está pra nascer.

  • Alexsandro Dubinski:

    Parabéns pelo texto! Imagino o dia em que der um problema e a internet mundial cair! Imagino pessoas horrificadas por não poderem conversar pelo WhatsApp (tomara que percebem que há pessoas ao lado pra conversar)!

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