Estranha vida encontrada presa dentro de cristais gigantes

Por , em 20.02.2017

Cientistas extraíram micróbios dormentes de dentro dos cristais gigantes das cavernas da montanha de Naica, no México – e os reviveram.

Os organismos provavelmente ficaram presos por pelo menos 10 mil anos, e possivelmente até 50 mil anos.

Essas formas de vida microbiana são provavelmente novas para a ciência, e se os pesquisadores estiverem corretos, ainda estão ativas.

“Outros já fizeram reivindicações de organismos mais antigos que foram encontrados ainda vivos, mas neste caso estes organismos são muito extraordinários – não são estreitamente relacionados a qualquer coisa nas bases de dados genéticos conhecidas”, disse a Dra. Penelope Boston, diretora do Instituto de Astrobiologia da NASA.

Amostras

Descoberta por mineiros à procura de prata e outros metais há cem anos, as cavernas profundamente enterradas de Naica são de interesse fundamental para os cientistas fascinados por extremófilos – micróbios que podem prosperar em condições aparentemente impossíveis.

O ambiente é quente (40 a 60° C), úmido e ácido. Sem luz, qualquer forma de vida deve fazer quimiossíntese para sobreviver. Ou seja, deve derivar a energia necessária para sustentar-se através do processamento de minerais de rochas.

Os pesquisadores identificaram micróbios vivendo nas paredes das cavernas, mas isolá-los do interior dos cristais foi uma surpresa.

Em 2008 e 2009, usando ferramentas estéreis, a Dra. Boston e seus colegas estudaram o labirinto de enormes cristais branco-leitosos, alguns com mais de 10 metros de comprimento, perfurando pequenos bolsões com fluido preso dentro, e amostrando seus conteúdos.

Organismos ativos

Os pesquisadores não só detectaram a presença de bactérias e arqueias, como também foram capazes de reanimar esses organismos no laboratório. A equipe conseguiu inclusive crescer culturas.

Há uma preocupação de que esses organismos poderiam ser simplesmente o resultado de contaminação, seja introduzida por equipes de pesquisa ou mineradores. Mas a Dra. Boston disse que os protocolos necessários foram seguidos.

Além disso, o que lhe dá confiança no status das cavernas mexicanas é a grande diversidade de vida que parece existir lá.

“Outros grupos têm mostrado que há muitos vírus nessas cavernas e o que me diz é que estas são comunidades microbianas de pleno direito. Então, esse é outro aspecto que argumenta contra casual contaminação”, explicou.

Pesquisa espacial

A astrobióloga ainda destacou a relevância de tais achados no que diz respeito à busca pela vida além da Terra.

“Qualquer sistema extremófilo que estudemos nos permite adicioná-lo a esse atlas de possibilidades que podemos aplicar a diferentes configurações planetárias”, afirmou.

Muitos cientistas suspeitam que, se a vida existe em outras partes do sistema solar, é mais provável que seja subterrânea, realizando quimiossíntese como os micróbios de Naica.

Dificuldades

Os pesquisadores ainda estão escrevendo um artigo para publicação em revista científica, o que significa que o estudo ainda não passou pelo processo de revisão por pares, o padrão de qualidade na verificação de um achado científico.

Isso torna difícil para outros especialistas dizer muito sobre a reivindicação por enquanto, mas a comunidade bióloga parece entusiasmada com as possibilidades.

Infelizmente, voltar para a caverna para coletar mais amostras seria uma tarefa complicada. A mina parou de ser lucrativa e as operações em Naica cessaram, de forma que a caverna agora está inundada com água subterrânea.

Apesar disso, a Dra. Boston observa que as culturas que sua equipe coletou ainda estão crescendo ativamente, de forma que ela e outros cientistas podem continuar a estudar as criaturas. [BBC, NatGeo]

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