Ética profissional no mundo globalizado

Por , em 25.08.2013

ÉTICA PROFISSIONAL 

Sabemos que conceitualmente ética é a divisão da filosofia que estuda os valores morais e princípios que regimentam a conduta ideal do ser humano como ente social.

Deriva do termo grego “ethos” que significa aquilo que pertence ao caráter.

Na filosofia clássica, a ética não se restringia simplesmente à moral, aí entendida como “costume”, ou “hábito”,  mas buscava a fundamentação teórica para eleger a  conduta ideal, voltada para o bem em si mesmo, tanto na vida individual quanto em sociedade.

Com a profissionalização e especialização do conhecimento em decorrência da revolução industrial, a maioria dos campos abrangidos pela filosofia e pela ética foram estabelecidos como disciplinas independentes, mas mesmo assim se manteve, em princípio, o conceito voltado ao mundo do trabalho, denominando ético todo o profissional que  adequadamente exerce suas atribuições, respeitando um código de conduta,  acordado e cultuado por seus pares e respeitado  pela sociedade como um todo.

Porém na prática a teoria é outra. Infelizmente.

Não são poucos os profissionais, no nosso país, que sequer respeitam as leis civis, quanto mais o seu código de ética classista, que busca em tese transcendê-las.

E isso se vê em todas as áreas.

Nos brasis do superfaturamento, do mercado negro (chamado eufemisticamente de “mercado paralelo”), das múltiplas taxações, do suborno,  da remarcação fraudulenta de preços, do vender gato por lebre, etc., etc., etc. – agir eticamente é contracorrente.

Quem age com probidade, retidão e decoro profissionais é tomado por trouxa.  É o “caxias”, o “puxa-saco”,  o “senhor certinho”.  Ironicamente é a ovelha branca, nessa terra de macunaímas.

No mesmo exemplo, a empresa que busca “seguir as leis” e cumprir com sua função social honestamente corre o risco de fechar as portas (basta calcular a absurda carga tributária a que estão submetidas).

Num país onde a maioria dos estudantes quer tirar nota sem estudar é natural se intuir num futuro próximo uma maioria de “profissionais” que sonha em ganhar dinheiro sem trabalhar.  Seja pela fraude direta, seja pela falta de ética ou simplesmente pela exploração desleal do trabalho alheio.

Chegamos a um momento vergonhoso em nossa história.

Os sintomas são pungentes.  Antes de ler os jornais já nos perguntamos qual será o escândalo político do dia.

Chegamos ao ponto de adolescentes brasileiros serem banidos de comunidades de games on-line na internet, simplesmente porque trapaceiam.

O que dizer da conduta de nossas empresas e de nossos profissionais quando comparados com a de países “civilizados”?

(Não vou nem perguntar sobre a conduta de nossos políticos. – Isso seria covardia!).

No mundo globalizado

O fenômeno da globalização, pontuado pela velocidade da comunicação, pela livre circulação da informação e pela quebra virtual das fronteiras geográficas, está fazendo com que tudo que ocorra no círculo profissional se torne de conhecimento comum – e isso com grande velocidade e prontidão.

Dessa forma o profissional (e também a corporação) com má conduta está perdendo competitividade – como consequência da perda de prestígio.

Hoje o patrimônio mais valioso de uma empresa, e, por conseguinte, de um profissional, é a sua reputação.

Graças aos sistemas informatizados, no mercado corporativo a memória não é fraca e a monitoração da trajetória de empresas e profissionais está ficando cada vez mais refinada e precisa.

O mundo está se tornando pequeno.

Assim em países em que a regra de conduta é coisa séria, o profissional (e também a corporação) que não quiser ter uma carreira curta deve rever urgentemente a sua prática.

E o que se diz de multinacionais que instalam suas filiais por aqui?

Embora se adaptem rapidamente às idiossincrasias da Terra Brasilis,  elas não admitem que se crie em seu ambiente corporativo a mesma falta de caráter que grassa nos mundos sem lei.

E muitas empresas nacionais, felizmente, estão seguindo essa mesma trilha.

Descobriram que praticar o jogo do “ganha-ganha” honestamente pode reduzir alguns de seus lucros momentâneos, porém, afasta definitivamente o risco de serem banidos do jogo.

E para bons entendedores meia palavra basta.

 

-o-

[Leia os outros artigos de Mustafá Ali Kanso]

 

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Navegando entre a literatura fantástica e a ficção especulativa Mustafá Ali Kanso, nesse seu novo livro “A Cor da Tempestade” premia o leitor com contos vigorosos onde o elemento de suspense e os finais surpreendentes concorrem com a linguagem poética repleta de lirismo que, ao mesmo tempo que encanta, comove.

Seus contos “Herdeiros dos Ventos” e “Uma carta para Guinevere” foram, em 2010, tópicos de abordagem literária do tema “Love and its Disorders” no “4th International Congress of Fundamental Psychopathology.”

Foi premiado com o primeiro lugar no Concurso Nacional de Contos da Scarium Megazine (Rio de Janeiro, 2004) pelo conto Propriedade Intelectual e com o sexto lugar pelo conto Singularis Verita.

4 comentários

  • leilakanso:

    Esse jeitinho brasileiro… Está presente no mundo inteiro… Se torna menos visível em países com maiores punições.

  • Dinho01:

    Como o Dalai Lama disse uma vez:”Seja a mudança que você quer ver no mundo.” Se alguém critica a corrupção e a falta de ética deve fazer um exame de consciência verdadeiro e eliminar qualquer tipo de “jeitinho” do seu cotidiano.

  • Rute Ferreira:

    Nem a religião tem feito os brasileiros mais éticos, aliás desconfio que algumas até atrapalham pois sempre tem um demônio pra receber a culpa…

  • Décio Luiz:

    O
    pinião: Enquanto que a consciência ética nos propõe um código de conduta, a consciência moral o realiza.

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