Existe “obesidade saudável”: mito ou realidade?

Por , em 5.12.2013

Na esperança de que ninguém fique se preocupando com seu peso, muitas pessoas compram a ideia da “obesidade saudável”, que, supostamente, não traz riscos à saúde. Infelizmente, a questão é mais controversa do que isso.

Ao analisar oito estudos sobre metabolismo e risco de morte (totalizando mais de 61 mil participantes), um grupo de pesquisadores canadenses concluiu que, em médio e longo prazo, obesidade aumenta em 24% as chances de morrer por doença cardíaca, mesmo entre pessoas “saudáveis” (com baixo colesterol, pressão normal, sem histórico familiar de doença, sem diabetes, etc).

“Era comum dizer ‘bem, talvez não devêssemos nos preocupar com essas pessoas'”, conta o pesquisador Bernard Zinman. “Esse tipo de mito foi propagado porque se observava indivíduos, e não o grupo, por tempo insuficiente”. Em estudos mais curtos, pessoas com menos propensão a ter doenças cardiovasculares apresentavam expectativa de vida similar, independentemente do peso. Quando o período de observação ultrapassava os dez anos, contudo, a situação era mais complicada para pessoas com sobrepeso – e, naturalmente, para pessoas obesas.

Contradições

O professor Pieter Cohen, da Escola de Medicina de Harvard (EUA), por sua vez, vê os resultados de outra maneira.

Ele destaca que apenas um a cada 140 “obesos saudáveis” que participaram do estudo teve problemas cardíacos em um período de dez anos. “Se seu quadro metabólico é ótimo, a obesidade em si traz um risco extremamente pequeno de doenças do coração”.

Outro ponto-fraco dos estudos, de acordo com o professor, é que as informações sobre o metabolismo dos participantes só foram coletadas no início. Nesse caso, novos fatores de risco poderiam ter passado despercebidos, levando a crer que a obesidade teve mais influência do que eles.

“O seguro morreu de velho”

Em toda essa discussão a respeito do “paradoxo da obesidade”, David Katz, da Universidade de Yale (EUA), propõe uma abordagem quase diplomática. “[O ganho de peso] depende parcialmente de genes, da fonte de calorias, de níveis de atividade e de variações hormonais”, e, portanto, nem sempre é nocivo.

Porém, se esse ganho for acompanhado por um aumento nos níveis de gordura no fígado, o risco é elevado. “Particularmente, gordura no fígado interfere em sua função e na sensibilidade a insulina”. Ocorre um efeito dominó: “Insensibilidade a insulina faz com que o pâncreas aumente sua produção, para compensar. Maiores níveis de insulina afetam outros hormônios, o que causa inflamação. Hormônios de estresse são afetados, aumentando a pressão sanguínea. Além disso, os níveis de colesterol também aumentam por conta de problema no fígado”, alerta.

No fim das contas, sobrepeso sempre traz um certo risco (que pode ser baixo ou não, dependendo do tipo de pessoa), mas ser magro não basta: atividades físicas, alimentação saudável e atenção a fatores de risco, como diabetes e histórico familiar, em geral têm mais influência do que o peso corporal.

Por fim, não dispense acompanhamento médico – um conselho que parece óbvio, mas que muita gente não segue. [Reuters; LiveScience; Medical Xpress]

Deixe seu comentário!