Feynman: um dos criadores da bomba atômica era arrombador de cofres, abusava da esposa, percussionista

Por , em 18.06.2012

O FBI recentemente liberou os arquivos secretos sobre o físico Richard P. Feyman. Você sabe quem foi ele? Físico importante, Richard nasceu na cidade de Nova Iorque em 1918, e morreu em 1988.

Estudou no Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) e na Universidade de Princeton, e foi assistente de pesquisa em Princeton e professor de Física Teórica na Universidade de Cornell e no Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech).

Membro da Sociedade Americana de Física, da Associação Americana para o Avanço da Ciência, da Academia Nacional de Ciências nos EUA, além de membro estrangeiro da Royal Society em Londres (Grã-Bretanha), possui inúmeros prêmios, como o Prêmio Albert Einstein de 1954, o Lawrence Award de 1962 e o principal deles, o Prêmio Nobel de Física de 1965, por seu trabalho em eletrodinâmica quântica, que explicava um universo vasto e complexo, incluindo a arquitetura interna dos átomos, a ação dos lasers, os fenômenos radioativos, eletrônicos e químicos, assim como esquisitas transformações das partículas subatômicas, como o elétron e o próton.

Apesar de tudo isso, Feynman é mais conhecido por ter ajudado a criar a bomba atômica. Ele produziu uma fórmula-chave pela qual se calculava a potência real de uma explosão nuclear.

Isso ocorreu durante o Projeto Manhattan, dirigido por Julius R. Oppenheimer, do qual o físico fez parte. Iniciado em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, baseava-se na teoria simples, mas ainda não comprovada, de que a superação de certa massa de urânio ou plutônio poderia explodir com uma violência devastadora.

Tudo dependia, portanto, da criação dessa massa crítica. Problema resolvido por Feynman, brilhante cientista, que apesar de não ser o mais famoso, é sem dúvida um dos mais importantes que já existiram.

No dia 6 de agosto de 1945, a bomba atômica provou na vida real o que se via no papel: arrasou a cidade japonesa de Hiroshima, e mais tarde, em 14 de agosto, Nagasaki, pondo fim a guerra de forma trágica. Reza a lenda que Feynman se desculpou pela bomba atômica.

Aliás, documentos registram que a euforia e emoção dos cientistas do projeto foram passageiras, e que seu estado de espírito era péssimo, pois já sabiam que o governo americano planejava um ataque nuclear ao Japão. Em uma carta à sua mãe, Feynman disse que “tudo estava perfeito, menos o objetivo”. Oppenheimer também lembrou de um antigo texto hindu: “Eu me tornei morte/Destruidor de mundos”.

A vida de um dos físicos mais brilhantes do mundo

A vida do físico é repleta de detalhes interessantes, como a de muitos outros gênios. Alguns desses detalhes foram revelados com a liberação dos arquivos do FBI (a Polícia Federal dos EUA) sobre Feynman expostos ao público.

A época do Projeto Manhattan, e principalmente os anos após a Segunda Guerra Mundial (que remetem ao surgimento da URSS como potência e a Guerra Fria) foram anos de combate ao comunismo em sociedades capitalistas que viam tal política como ameaçadora (para os ricos e poderosos).

Por conta de uma denúncia, o FBI começou a manter um olho em Feynman e outros membros do Projeto Manhattan. Feynman, em especial, foi visado porque em 1958 recebeu um convite da União Soviética para participar de uma conferência física em Moscou. Feynman não aceitou o convite imediatamente, buscando orientação do Departamento de Estado.

A investigação do FBI acabou por revelar espiões soviéticos, como Klaus Fuchs, um dos físicos principais do projeto. Nessas análises, muita coisa sobre Feynman também foi apurada.

Os documentos do FBI – 361 páginas – possuem declarações de amigos, familiares e colegas do físico, a maioria elogiando Feynman por seu brilhantismo, credibilidade e lealdade ao país. Mas outras coisas que não tem a ver com seu trabalho para os EUA também aparecem.

Por exemplo, um colega de trabalho de Feynman o descreve como um ótimo “baterista de jazz”, embora alguns indivíduos achassem que tal hobby não estava em sintonia com seu papel de físico.

Pouco importa. Várias biografias e relatos mostram que Feynman era um excelente percussionista e adorava isso. Um estudo sobre Feynman realizado por José Maria Filardo Bassalo, da Universidade Federal do Paraná, indica que, em um tempo que passou no Brasil, Feynman aprendeu a tocar bongô e chegou a tocar em uma escola de samba, no carnaval de 1952. Também, em 1951, durante um jantar em Belo Horizonte, Feynman recolheu-se em protesto contra a insensibilidade de autoridades brasileiras no momento em que faziam festa pela sua entrada, por conta da miséria e tristeza que ele tinha presenciado na cidade antes, ao ver crianças perambulando em pobreza.

A já notada paixão por instrumentos musicais de Feynman, no entanto, também trouxe à tona um problema de Feynman: o da violência doméstica. Nos documentos do FBI, uma nota datada de 29 de julho de 1958 menciona um artigo do jornal Los Angeles Times de dois anos antes, que falava sobre uma das esposas de Feynman, que pediu divórcio por causa que ele trabalhava constantemente em problemas de cálculo, que rodavam em sua cabeça desde o momento em que ele acordava, enquanto dirigia o carro, enquanto estava sentado na sala, e assim por diante, e que, se ele fosse inadvertidamente perturbado durante seus cálculos ou seu hobby – de tocar bongôs – explodia em um episódio de raiva violenta, durante o qual ele, uma vez a estrangulou e em outras oportunidades jogou objetos de decoração na mulher e quebrava os móveis da casa.

Muitos acreditam que essas características do físico são resultado de sua mente espetacular. Será que ter tanta coisa acontecendo em seu cérebro ao mesmo tempo não pode fazer alguém surtar?

Os documentos do FBI também revelam que ele era um gênio em arrombar cofres e fechaduras, coisa que fazia por diversão. Isso não parece tão surpreendente, já que sabemos que ele era muito inteligente.

Outras biografias do físico indicam que ele tinha capacidade excepcional de consertar todo tipo de aparelhos domésticos, achar saídas simples para situações complicadas ou construir objetos úteis com um mínimo de matéria-prima e esforço. Na infância, seu primeiro encanto foi o rádio, tecnologia que aprendeu a consertar e construir com peças rudimentares. Também adorava ler enciclopédias, com o intuito de elaborar um “manual de matemática para o homem prático”, com o qual dominou a álgebra a ponto de constranger sua professora de aritmética na escola primária.

Com experimentos que davam certo e outros não, Feynman sem dúvida deu trabalho aos seus pais. Mas poucos se importavam com seus “acidentes de percurso”, pois provavelmente sabiam que estavam diante de um pequeno gênio.

Apesar de Feynman ser lembrado muitas vezes com um “rebelde” que desprezava a pompa, as convenções e a hipocrisia, James Gleick, autor de uma excelente biografia de Feynman (“Genius”, em português Gênio), diz que o físico costumava inventar histórias de si, criar de frases de efeito para as dizer mais tarde “de improviso”, entre outras artimanhas. Ou seja: tudo indica que ele gostava de impressionar, e, portanto, as informações a cerca de sua vida devem ser tomadas com cuidado.

O que importa, no fim das contas, é seu legado para física, sem dúvidas importantíssimo. O brilhante cientista, que conseguia tornar as coisas mais complexas compreensíveis, deve ser lembrado exatamente por isso. [MSN, Abril, MundoVestibular, NobelPrize, HistórianoVestibular, FeynmanUmFísicoTeóricoOriginal]

9 comentários

  • Felipe Leão Mansur Pinheiro:

    Só achei o título um tanto sensacionalista. Sobre a violência doméstica é algo realmente lamentável não importa quem seja! Ele parecia ser bem excêntrico mesmo, isso é “normal” vindo de uma grande mente como ele.

  • Gargwlas Gargw Gargwlas:

    realmente, entendo ele…. é horrivel esta concentrado em algo e uma coisa externa invadir seu pensamento, principalmente se a linha de raciocionio é importante e a distração é futil, comparada….

  • nikapinika:

    “A já notada paixão por instrumentos musicais de Feynman, no entanto, também trouxe à tona um problema de Feynman: o da violência doméstica. Nos documentos do FBI, uma nota datada de 29 de julho de 1958 menciona um artigo do jornal Los Angeles Times de dois anos antes, que falava sobre uma das esposas de Feynman, que pediu divórcio por causa que ele trabalhava constantemente em problemas de cálculo, que rodavam em sua cabeça desde o momento em que ele acordava, enquanto dirigia o carro, enquanto estava sentado na sala, e assim por diante, e que, se ele fosse inadvertidamente perturbado durante seus cálculos ou seu hobby – de tocar bongôs – explodia em um episódio de raiva violenta, durante o qual ele, uma vez a estrangulou e em outras oportunidades jogou objetos de decoração na mulher e quebrava os móveis da casa.”

    Na boa, este parágrafo está mega confuso, e o “por causa que” não ficou legal…
    Se cabe uma sugestão aqui, a minha é reescrever este pedaço. No mais, o tema da postagem é muito legal. 😉

  • Gilberto:

    Como pode um gênio, gastar seus neuronios em uma bomba, é lamentavel.

    • Tiago Vieira da Rocha:

      Nem sempre é o resultado em si.

  • Silvana Santos Santos:

    Excelente matéria.

  • Marcia Silva:

    Amei …

  • Douglas:

    bom post Natasha Romanzoti
    o texto nao foca nas ma qualidades dele
    como o titulo sugere

  • Acaz Pereira:

    Um dos mais inspirantes ciêntista que já li sobre.

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