10 bizarras fotografias científicas do século 19

Por , em 12.09.2013

Todas as fotografias do século 19 são estranhas, mas essas ganham. Quando a fotografia entrou em cena na década de 1830, os cientistas perceberam que ela poderia ajudar a revelar os segredos dos mundos invisíveis de bactérias microscópicas e galáxias distantes.

Alguns acreditavam que a câmera poderia ir ainda mais longe, e a imagem de uma superfície por si só poderia descobrir informações sobre o funcionamento interno do corpo e da mente, até o momento da morte.

Além de fotos post-mortem e de supostos espíritos, as fotografias mais extremas do século 19 foram feitas por cientistas que fizeram perguntas sérias sobre a natureza da existência. Normalmente, isso significou muito mais do que colocar uma câmera na frente de um sujeito. Esses cientistas muitas vezes tiveram que projetar e construir seu próprio equipamento para tirar fotos que outros consideravam tecnicamente impossíveis. Às vezes, os resultados forneceram informações valiosas, em outros casos, a câmera mostrou-se mais importante do que as imagens produzidas.

Enfim, confira 10 bizarras fotografias científicas de séculos atrás:

10. Guillaume Duchenne – Experimento de fisiologia

fotografias científicas do século 19
Em 1862, o neurologista francês Guillaume Duchenne queria testar a teoria popular de que o rosto estava diretamente ligado à alma. Ele já tinha feito estudos aplicando choques elétricos a músculos danificados de pacientes e raciocinou que, se pudesse aplicar correntes elétricas no rosto de um sujeito, poderia estimular os músculos e fotografar os resultados. Um problema era que, embora fosse fácil ativar respostas físicas com choques elétricos, a maioria das pessoas relaxava imediatamente após o choque passar, muito rapidamente para uma câmera registrar toda a ação.

Um dos pacientes no hospital onde Duchenne trabalhava era um sapateiro que sofria de paralisia de Bell. Uma das manifestações dessa doença é paralisia facial, o que significava que o sapateiro manteria sua expressão por alguns minutos depois de receber o tratamento de eletrochoque, tempo suficiente para o fotógrafo registrá-la.

Duchenne submeteu o sapateiro a mais de 100 sessões, aplicando eletrodos a várias partes de seu rosto para extrair a gama de emoções. Os resultados foram publicados no períodico Mecanismo da Fisionomia Humana (Mecanisme de la physionomie Humaine). Se as fotografias parecem horríveis, só podemos imaginar o que o pobre sapateiro sentiu. Ainda assim, algo de bom surgiu dos experimentos. Duchenne foi capaz de determinar que, quando uma pessoa expressa um sorriso genuíno, músculos específicos são ativados. Na fisiologia, o sorriso autêntico é chamado de sorriso Duchenne. Pessoas que não usam esses músculos quando sorriem podem mostrar sintomas de sociopatia.

9. Albert Londe – Paciente de histeria

fotografias científicas do século 19
Na segunda metade do século 19, uma epidemia de histeria varreu a Europa e América. As mulheres, em particular, sofreram com paralisia, não tinham energia para sair da cama ou se queixavam de obstruções em suas gargantas. No Hospital Salpêtrière, em Paris, Jean-Martin Charcot, um ex-aluno de Duchenne, começou a procurar uma explicação para a doença. Ele fez dois grandes avanços. Primeiro, descobriu que a condição era ligada a um trauma no passado, e depois, que homens também sofriam com a condição. Seu aluno, Sigmund Freud, levaria suas pesquisas adiante.

Em 1878, o químico Albert Londe foi contratado como fotógrafo médico no Salpêtrière e começou a trabalhar em estreita colaboração com Charcot. Um de seus projetos era fotografar pacientes submetidos a crises histéricas, para ver se havia uma ligação entre as convulsões e a expressão facial. Para fotografar o ciclo de uma convulsão, Londe inventou uma câmera cronofotográfica. O primeiro modelo tinha nove lentes, mais tarde doze, e uma corrente ativada por metrônomo as acionava. Com essas câmeras, ele foi capaz de gravar as convulsões anos antes do conceito “filme” existir. No final, Charcot decidiu que a fotografia não o estava ajudando a chegar mais perto de uma solução, e parou de usá-la. Londe, mais tarde, obteve crédito como um dos pioneiros da cinematografia.

8. Étienne-Jules Marey – Cronofotografia

fotografias científicas do século 19
Colaborador ocasional de Londe, Marey inventou alguns instrumentos médicos importantes, incluindo um esfigmógrafo altamente preciso para gravação de pulsações. Também foi um dos pioneiros na pesquisa da aviação, e os irmãos Wright reconheceram ter uma dívida com ele. Marey é mais conhecido, no entanto, por suas cronofotografias. Ele prendia pequenos globos de luz aos corpos dos sujeitos e os fotografava contra um fundo escuro.

No entanto, ele não achava que suas imagens eram importantes. Dois anos antes de Eadweard Muybridge produzir sua famosa sequência de um cavalo trotando, Marey já havia gravado a marcha de um cavalo, mas ele transferiu seus resultados em um gráfico de barras que precisava de algum conhecimento para ser lido. Quando ele viu as fotografias de Muybridge em uma revista, ele percebeu que qualquer um podia compreender aquela informação em si. Ele era muito mais experimental do que Muybridge. Algumas das suas câmaras eram aparatos multiclientes como as de Londe, outras eram capazes de expor várias imagens na mesma placa. Uma de suas câmeras era um rifle que ele usou para fotografar sequências de pássaros em voo.

7. Louis Darget e Edouard Baraduc – Fotografia de pensamentos

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Baraduc e Darget queriam fotografar pensamentos. Na época, isso não soava tão fraudulento quanto possa parecer hoje. A invenção recente de raios-X mostrava que os ossos podiam ser fotografados, e havia especulações de que o pensamento criava uma forma de impulso elétrico. Num período em que tudo parecia possível, certamente era apenas uma questão de encaixar as peças de um quebra-cabeças para os experimentadores. Entre suas experiências, eles tentaram colocar um pedaço de filme na testa de um sujeito e uma bobina de indução entre ele e uma câmera na esperança de que pulsos de alta tensão “formassem” alguma coisa. Embora ambos fossem sinceros, os resultados não podiam ser interpretados além de meras tochas de luz.

Em 1909, Baraduc sentou-se ao lado da cama de sua esposa enquanto ela morria, como qualquer marido decente faria. Mas essa partilha de momentos finais juntos não foi totalmente por amor. No momento em que ela começou a falecer, ele apertou o obturador de sua câmera, para ver se era possível capturar “éter [de uma alma] partindo” em câmara.

6. Jakob von Narkiewitsch-Jodko – Eletrografia

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O título completo desta fotografia é “Uma centelha capturada na superfície do corpo de uma prostituta bem lavada” (numa tradução livre do inglês). Em 1889, o médico polonês Narkiewitsch-Jodko deu uma demonstração na Rússia do que ele chamava eletrografia. Basicamente, ele estava usando o mesmo princípio que Darget e Baraduc, colocando uma bobina de indução ao lado de uma placa fotográfica e pedindo que voluntários pressionassem parte de seu corpo contra a placa. O pulso eletromagnético intenso deixava uma silhueta sombria cercado por raios de luz. Ao contrário dos cientistas franceses, ele não estava atrás de algo tão abstrato quanto um pensamento. Como médico, ele queria saber o que essas auras indicavam sobre a saúde física da pessoa. Ele fotografou anêmicos, crianças e adultos saudáveis, e prostitutas. A partir de suas pesquisas, ele descobriu que as pessoas doentes emitiam energia mais fraca do que indivíduos saudáveis. O processo usado pelo polonês é conhecido hoje como fotografia Kirlian, mas sua associação com devotos paranormais levou muitos a rejeitá-la. A eletrografia foi levada a sério na época de Narkiewitsch-Jodko, mas a descoberta do raio-X alguns anos mais tarde provou ser muito mais impressionante. Eletrografias podiam indicar que um paciente tinha um problema, mas os raios-X podiam localizá-lo.

5. Louis Ducos Hauron – Fotografia anamórfica

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Durante os primeiros anos da fotografia, coisas hoje comuns eram enigmas científicos e filosóficos. Como, por exemplo, o fato de que, em uma única foto, alguém próximo da lente era reduzido a um borrão enquanto alguém no fundo distante podia ser congelado com nitidez. Diz-se que Oliver Wendell Holmes, que inventou o estereógrafo, costumava sentar-se em sua mesa e examinar essas fotos através de uma lupa, perguntando se havia um mistério da natureza em ação. Lentes normais capturavam apenas entre 40 e 60 graus de ângulo de visão, enquanto a maioria das pessoas enxerga perto de 180 graus. Por que era tão difícil processar o campo de visão normal em uma câmera sem distorcer a imagem?

Peça a qualquer um para citar dez grandes pioneiros da fotografia e eles provavelmente não vão mencionar Louis Ducos Hauron, o que é uma pena. Em 1868, ele inventou o anáglifo (uma imagem ou formatada de maneira especial para fornecer um efeito tridimensional estereoscópico quando visto com um óculos de duas cores) que produzia um efeito 3D quando usado através de lentes vermelhas e azuis – o que provavelmente é familiar para todos nós hoje.

Seus autorretratos anamórficos foram alguns dos resultados de suas pesquisas. Na década de 1880, ele criou lentes que produziam imagens distorcidas, a menos que o observador olhasse para elas a partir do ângulo correto. Claro que a ideia nunca seria popular com o público fotográfico, mas isso não importa. Ele nos deu o que nós precisávamos saber.

4. Militares americanos – Cabeça de mula explodindo

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Em 1870, Charles Bennett tinha descoberto que, quando gelatina era aquecida ao longo de vários dias, “amadurecia” e um dos resultados era emulsão que podia reduzir a velocidade do obturador para frações de segundo. As possibilidades que isso oferecia eram estupendas, especialmente para os militares, que sempre foram interessados em novas tecnologias. Em 1881, o tenente-coronel Henry Abbott encomendou um teste de filme de emulsão de gelatina em Willets Point, Nova York (EUA). Ele estava no comando de uma base militar com centenas de soldados à sua disposição. Para testar uma câmera de alta velocidade, uma fotografia de um homem correndo ou até mesmo fazendo cambalhotas seria impressionante. Em vez disso, várias bananas de dinamite foram amarradas à cabeça de uma mula. No momento em que a dinamite explodiu, o obturador da câmera disparou a 1/250 de um segundo.

3. Thomas Skaife – Bola de canhão em erupção

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Esse item pode não parecer particularmente estranho, mas sendo uma fotografia de 1858, temos que levar em consideração que as pessoas ainda tinha que ficar paradas por até um minuto para tirar uma foto. No entanto, Thomas Skaife conseguiu fotografar uma bola de canhão em erupção. Além do mais, ele fez isso com uma câmera que construiu em casa. Ele alcançou esse feito anexando um fio fino sobre a boca do canhão, por sua vez anexado a um relógio elétrico, ligado à câmera. Quando a bola bateu no fio, quebrou o contato, desencadeando o obturador. Skaife tirou várias fotos naquele dia, mas esta é uma das poucas que sobreviveram. O que o impressionou, contudo, não foi ter conseguido fotografar algo tão completamente espantoso quanto uma bola de canhão em voo, mas que em todas as fotos desse dia um rosto parecia aparecer na fumaça – e só podia ser capturado em filme, não visto a olho nu.

2. Francis Galton – Retratos compostos

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Galton era primo de Charles Darwin e também poderia ter alcançado grandes patamares da ciência, mas sua curiosidade o levou por caminhos estranhos. Ele é creditado com a invenção do primeiro mapa do clima mostrando pressão barométrica. Também ajudou a tornar impressões digitais uma parte essencial da criminologia. Por fim, inventou o termo “eugenia” e, enquanto alguns pensam em Galton como um excêntrico, outros o consideram o padrinho do nazismo.

Durante a década de 1880, ele ficou obcecado com a ideia de que raças e tipos tinham características faciais específicas. Galton achava que, se pudesse diminuir essas características até uma “essência”, por assim dizer, poderíamos entender muito mais sobre a natureza humana. Como parte de suas experiências, ele começou a construir retratos compostos – fotografava pessoas em grupo e misturava os retratos em um único rosto. O Diretor-Geral das Prisões na Inglaterra, Edmund du Cane, emprestou-lhe um grande lote de retratos de condenados para que ele realizasse seus estudos. Seu trabalho sobre raças é especialmente notório. Ele caminhava pelo bairro judeu de Londres, Whitechapel, buscando famílias, e estava convencido de que o tipo judaico era de pele escura, cabelo escuro e nariz grande. Se uma família não tinha uma dessas características, era excluída.

1. Alphonse Bertillon – Antropometria

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Bertillon é famoso por seu método de antropometria judicial, conhecido como sistema Bertillon, usado para medir as características físicas de criminosos. Como Galton, ele também estava interessado em características genéticas, mas não era tão preocupado com inteligência ou personalidade. Logo após seu sistema o tornar famoso, ele começou a se perguntar se havia características físicas únicas para regiões francesas. Havia algo como um nariz normando ou olhos alsacianos? E se houvesse, seria possível, eventualmente, olhar para alguém e identificar imediatamente o seu patrimônio genético? Para realizar seus experimentos de forma adequada, Bertillon tinha que fotografar milhares de partes do corpo, e em seguida assumir que, se um determinado recurso aparecia frequentemente em uma região, devia ser o protótipo. Parece loucura, mas muita gente concordou com ele na época.

Durante o julgamento de Alfred Dreyfus em 1890, Bertillon depôs como um perito da acusação. A fim de provar que a escrita em um documento pertencia a Dreyfus, Bertillon criou um aparelho elaborado no tribunal, mas que demorou tanto tempo para ser montado que os espectadores começaram a zombar dele, e o juiz o expulsou. Sua reputação foi destruída depois disso. [Listverse]

9 comentários

  • Tiago Sales:

    Espero que o tenente-coronel Henry Abbott tenha tido uma morte longa e dolorosa.

  • Malforea Shin:

    Explodir a cabeça de um animal para testar a câmera. O ser humano ainda tem muito o que evoluir antes de se considerar respeitável.

  • engvictorh_10:

    Crueldade no quarto caso com o tenente-coronel Henry Abbott.

    • engvictorh_10:

      EduG, o “normal” não significa que se deva deixar passar.
      Não precisa ter um certo sarcasmo com “direitos humanos dos animais”. Não foi correto de forma alguma a escravidão aqui no Brasil ou em qualquer outro país, mas independente da existência da escravidão na época, ou de qualquer outro fator que denigra o bom estar do Homem, não se deve fechar os olhos pra esse tipo de crueldade com os animais.

      Viish.. realmente! Não tem botão pra negativar.. que pena, né?

    • Malforea Shin:

      EduG, pela sua lógica, na época também era divertido açoitar um escravo em praça pública. Não é porque sabemos da mentalidade da época que temos que anistiar as bestialidades. Nessa mesma época um negro era considerado mercadoria, tal qual a mula. Hoje sabemos que isso é a mais pura estupidez. Hoje ainda achamos normal considerar os outros animais como mercadoria, ou seres “sem alma”. Não sei se algum dia a humanidade vai perceber que continua sendo estúpida, mas você prova ter noções deturpadas do que é ou não sensato. Não compare “matar por alimentação” com “matar por diversão”.

      Usando sua lógica, todos os dias, centenas de pessoas são mortas por criminosos que não se importam com a dor alheia. Eu seria uma “menininha frágil e mimada” se ficasse sensibilizado, caso o próximo seja você, ou sua família? Talvez você mereça, não? Afinal de contas, estamos aqui só bancando os sensíveis. Tudo é frescura, até o dia em que dói em nossa pele ou fere a nossa dignidade. Há 60 anos você seria um brinquedinho nas mãos de nazistas… Há 200 anos, muito provavelmente estaria carregando baldes de merda, de uma casa-grande até o rio. Agradeça por ter nascido nesta época e aprenda a respeitar o próximo, independente de terem ou não a capacidade de lhe denunciar por algo.

    • engvictorh_10:

      Nossa, você mesmo se contradiz: “A humanidade abate milhões de mamíferos POR DIA, de forma menos rápida, para se alimentar.” EXATAMENTE, PARA SE ALIMENTAR, não por divertimento.

      Matar um animal por divertimento, ou escravizar alguém, não é algo humano. Não estou dizendo que um é mais importante do que o outro.
      Só estou dizendo que nem mesmo qualquer animal mata um ser da mesma espécie ou o ‘escraviza’ apenas por divertimento. E sim, mata por necessidade. Agora o Homem vê além da necessidade de matar para sobreviver, ele mata por divertimento e escraviza seres da mesma espécie.

      “posando de sensíveis”, nossa, se preocupar com um assunto que envolva a vida, independente do ser, é “posar de sensível”, interessante essa sua visão.

      Caramba, alguém aqui está revoltado.
      Pois quando cheguei na parte do “menininhas frágeis e mimadas.. e do poodles” Notei a necessidade de uma pessoa que perde argumentos a atacar um alguém em que nem a menos conhece.

      Discutir com uma pessoa que confunde “valorizar a vida” com “se importar com poodles” não valeria a pena. Nem pra você e muito menos pra mim.
      Você tenta pensar diferente, mas acaba se perdendo na sua ignorância.

      Portanto, limite-se da próxima vez aos modos em que você fala com quem você não conhece.

    • Saprugo:

      Ih, essas estorinhas manjadas de hienas começando a comer suas presas pela barriga de novo, kkkk!! Você só esqueceu de mencionar que elas não raciocinam e fazem isso por instinto, para se alimentarem e sobreviverem, e não por que é divertido… ou alguém já viu uma hiena rodear a cabeça de uma zebra de dinamite e detonar??

    • Saprugo:

      A ignorância de pessoas como esse EduG não as fazem ver que o racismo de ontem é o especismo de hoje, e se hoje especistas como ele param e pensam: “como a humanidade teve coragem de escravizar os de sua própria espécie!”, talvez os descendentes deles em um futuro longínquo pensem: “Como a humanidade teve coragem de ser tão cruel e daninha com os animais!”.

  • gut:

    Muito interessante! Mas eu questiono, o HypeScience pede permissão para copiar as reportagens de outros sites e traduzir aqui na íntegra com outra autoria? Isso não fere a ética da publicação científica? Livros traduzidos para o português sempre mantêm a autoria original e dão crédito ao tradutor.

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