O IMC é uma boa medida para um peso saudável?

Por , em 30.08.2013

Quando se trata de definir qual é o peso corporal considerado saudável, apenas um tipo de medida não é o suficiente, além de não ser o mais indicado para todas as pessoas, dizem os cientistas dizem.

O Índice de Massa Corporal (IMC) é baseado apenas no peso e na altura, e não leva em consideração taxas relevantes, como a gordura corporal, por exemplo. Criado no final do século 18 pelo matemático, astrônomo, estatístico e… ufa, sociólogo belga Adolphe Quételet, o IMC é o dado padrão para determinar se a pessoa possui o peso normal, sobrepeso ou é obesa. No entanto, como observam os cientistas que assinam o editorial desta semana da revista Science, o índice não é uma medida exata de gordura e não explica as causas do peso acima do ideal.

A obesidade pode ser um grande risco para a saúde da população, uma vez que aumenta as chances do desenvolvimento de diabetes, doenças cardíacas e pode causar a morte, em casos mais graves. Paradoxalmente, porém, alguns estudos sugerem que o excesso de peso pode melhorar a sobrevivência de pessoas com doenças crônicas.

“A maioria dos estudos depende do IMC, mas nós sabemos que essa não é uma medida muito precisa”, admite Rexford Ahima, professor de medicina na Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia, EUA, e um dos autores do editorial.

O IMC de uma pessoa é calculado levando em consideração o peso em quilogramas dividido pela sua altura, ao quadrado, em metros. O IMC de 18,5 a 24,9 é considerado “normal”, entre 25 e 29,9, trata-se de “sobrepeso”, e a pessoa com índice superior a 30 é considerada “obesa”.

Muitos estudos mostram que quem possui IMC acima de 30 têm risco aumentado de morte por doença cardíaca, diabetes, câncer e outras patologias. Contudo, vários estudos recentes sugerem que, em alguns casos específicos, o IMC elevado pode na verdade prevenir que o indivíduo morra de insuficiência cardíaca ou renal e de outras doenças crônicas. Por que isso acontece?

A ciência explica. Quando alguém possui uma doença crônica, a gordura extra pode fornecer reservas de energia adicionais necessárias ao organismo sempre batalhando contra a enfermidade. Em outros casos, a pessoa tem um baixo IMC justamente como resultado de uma doença.

Os cientistas têm noção da dificuldade que é colocar em números e tentar generalizar esses casos. Ahima afirma que os riscos para a saúde e os benefícios da obesidade têm causado uma certa discordância entre os diferentes grupos de pesquisadores. “O problema decorre do fato de que o IMC é uma medida imprecisa de saúde”, diz Ahima.

Por um lado, o IMC não leva em conta a gordura e não indica onde ela está distribuída pelo corpo. Estudos sugerem que a gordura na barriga (em torno dos órgãos abdominais) aumenta o risco de diabetes, doenças cardíaca e morte, enquanto a gordura periférica (aquela que fica sob a pele, no resto do corpo) pode ser mais inofensiva. O IMC também não consegue explicar as diferenças de etnia, sexo e idade.

Então, por que é a medida tão amplamente utilizada? “Porque é simples”, responde Ahima, e acrescenta que é fácil para pessoas se pesarem e medir sua altura. Para a maioria da população, o IMC fornece uma “medida razoável” de gordura corporal, mas não é preciso para atletas (que possuem mais massa devido aos músculos) ou pessoas idosas, que perderam altura, completa.

Outros métodos de medição de gordura corporal também têm os seus prós e contras. Exames de tomografia computadorizada podem medir com precisão a gordura corporal, mas são geralmente muito caros. O exame DEXA (“Dual-Energy X-Ray Absorptiometry”), normalmente utilizado para medir a densidade óssea, também pode servir para mensurar a gordura corporal, mas sua popularização também esbarra no alto custo. Até a medição dos níveis do hormônio leptina pode ser um indicador de gordura corporal.

Em outras palavras, não há um único número que pode representar um peso saudável, ressalta Ahima. “Depende do peso inicial, da genética e do gênero, entre outros fatores. A obesidade é uma doença complexa – e não se trata apenas de ter muita gordura”, afirma. “É importante também considerar a gordura em relação à quantidade de músculo”.

Ahima ainda considera que os cientistas precisam começar a olhar mais de perto o processo de causa e efeito da gordura do corpo e da obesidade. “Qual é o motivo que faz uma pessoa obesa ser saudável ou não? Precisamos ainda entender os mecanismos moleculares”, finaliza. [Live Science]

3 comentários

  • pmahrs:

    Uma médica me falou isto a alguns anos, mas é uma estatística válida para bom números de pessoa, não ne-cessariamente a todos 100%, mas também não pode ser desprezada 100. Embora as estatísticas mostrem números assustadores, muitas pessoas vivem por anos em tabagismo e não morrem de males do cigarro. É bom procurar um médico, mas não vamos arriscar, né?. Dizem que o homem brasileiro não gosta muito de ir ao médico; não é bem assim, quem pode pagar ainda deduz 100% no IR quem não pode tem que ir no sistema público e aguardar algum tempo devido a alta demanda de pobres que não têm outra opção e com problemas mais urgentes.

    • pmahrs:

      Estatísticas são referências válidas em termos gerais num volume muito grande, mas em algumas coisas não é determinante individualmente, mas define probabilidades e graus de risco. Individualmente a medicina tem meios mais precisos.

  • Jonathan Marins:

    Muito legal a matéria.

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