Incubadora especial imita o útero da mãe

Por , em 10.11.2014

Os avanços médicos estão aumentando as chances de sobrevivência até para os bebês mais prematuros possíveis.

No Hospital Infantil de Orange County, na Califórnia (EUA), uma nova ala nomeada “Small Baby Unit” (“Unidade do Pequeno Bebê”, em português) está cuidando desses pequenos seres de forma especial para melhorar sua probabilidade de viver e ficar saudável.

Especialistas dizem que menos de 1% dos bebês nascem na categoria “micro prematuro”. No Hospital Infantil de Orange County, isso significa nascer antes de 28 semanas ou com peso inferior a um quilo.

Ian Chung, nascido com apenas 24 semanas de gestação e pouco mais de 450g, é um dos bebês que está na incubadora especial do hospital. Sua mãe, Julie Chung, frequenta a ala e pode até tocá-lo.

Ela usa leve pressão para simular o seu próprio ventre no corpo do bebê. Com sua aproximação, Ian para de chorar.
Além do carinho dos pais, Ian recebe cuidados especiais dos mais variados.

Os médicos e enfermeiros dessa unidade especializada têm implementado um sistema que eles dizem ser capaz de reduzir drasticamente as taxas de incapacidade e de infecção nesta população prematura rara.

utero prematuros

Na Unidade do Pequeno Bebê, o trabalho do pessoal é feito em meio a escuridão e tranquilidade. Lá, a estimulação é mantida a um mínimo; só se pode falar em voz baixa. O efeito geral é de calma relativa, uma tentativa de imitar o que os bebês experimentariam se ainda estivessem dentro do útero.

De acordo com os profissionais, mesmo quando sobrevivem, os micro prematuros têm muitas chances de terem problemas de saúde ao longe da vida.

Em 2009, antes da unidade existir, 45% dos bebês recebiam alta com doença pulmonar crônica. Em 2012, depois que a unidade já estava operando por três anos, a taxa caiu para 27%. As taxas de infecção também caíram de 41% para 15%, e alimentação, peso e circunferência da cabeça melhoraram.

Benefícios misteriosos

Dr. Kristi Watterberg, presidente da comissão de fetos e recém-nascidos da Academia Americana de Pediatria, disse que o tratamento oferecido por essa unidade é uma coisa boa, mas como os dados do Hospital Infantil são autorreflexivos, ela questiona o que exatamente está contribuindo para o sucesso da ala.

“O que fez isso acontecer? Não sabemos”, disse Watterberg.

Watterberg disse que alguns elementos utilizados no Hospital Infantil, incluindo várias formas de terapia do toque, podem ser benéficas para crianças prematuras.

Um grande estudo publicado em 2004 descobriu maior ganho de peso entre as crianças submetidas a massagem terapêutica moderada; eles também tiveram alta mais cedo do hospital. Outros estudos sugerem que tipos específicos de terapia de massagem estimulam a produção de hormônios de crescimento e promovem o desenvolvimento dos ossos.

Na Unidade do Pequeno Bebê, os pais atuam como “terapeutas” e parceiros da equipe, de modo que estão envolvidos totalmente com o progresso de seu filho. Estudos mostram que as mães que massageiam seu bebê experimentam diminuição da depressão e ansiedade.

No entanto, é preciso ter muito cuidado, uma vez que os bebês podem se machucar com o toque. Os prematuros não têm pele preparada para isso – antes flutuavam no líquido amniótico, e precisam se adaptar lentamente a sua nova situação.

Mas os profissionais de saúde acham que o contato com os pais é importante. Intervenções médicas dolorosas, como intubação, extubação e exames de sangue são realizados enquanto bebê está em contato pele a pele com a mãe, sempre que possível. Nessas situações, o toque pode reduzir a dor para a criança.

Dúvidas

Watterberg, que também é professora de pediatria e neonatologia na Universidade do Novo México (EUA), diz que, apesar do sucesso da unidade, talvez ela não precise ser tão silenciosa e escura assim.

“Costumávamos pensar que o útero era tranquilo. Acontece que os bebês ouvem uma boa quantidade de ruído no útero, e talvez [se a ala for] muito tranquila, eles não estão ouvindo o tipo de linguagem que precisam”, afirma.

Ela cita uma pesquisa recente que sugere que muito pouco som poderia interferir com o desenvolvimento da fala e linguagem da criança, e que a exposição à fala pode melhorar o desenvolvimento cerebral em bebês.

Da mesma forma, muita escuridão pode ser contraproducente para o desenvolvimento de um bebê, uma vez que no útero ele estaria exposto a um fluxo de informações de sua mãe que refletiria suas próprias mudanças nos ritmos circadianos.

“Nós sabemos que o que acontece na UTI afeta bebês a longo prazo”, disse Watterberg. “Então, estou contente que este grupo está trabalhando nisso, mas a informação que temos está sempre em análise”. [CNN]

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