Pesquisa mostra que não há mais lugares “intocados” na Terra – e já faz tempo

Por , em 13.06.2016

É bastante claro que a sociedade humana tem deixado uma impressão irreversível sobre o ambiente natural em torno de nós. Nosso impacto no planeta pode até mesmo ser qualificado como uma nova época geológica – mas certamente se você viajar longe o suficiente em busca de um oásis intocado e puro, você poderia ainda encontrar um santuário natural na Terra ainda não tocado pelas mãos da humanidade, não é mesmo?

Não. Pelo menos, não de acordo com um novo estudo, que vasculhou décadas de dados arqueológicos e constatou que não existem restantes lugares intocados da Terra que não sejam afetados pela sociedade e atividade humanas, e provavelmente não exista um em milhares de anos.

A arqueóloga Nicole Boivin, da Universidade de Oxford e do Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana, na Alemanha, juntamente com colegas pesquisadores, examinou 30 anos de estudos arqueológicos e observou novos conjuntos de dados sobre DNA e microfósseis antigos, assim como modelos estatísticos.

Sua conclusão é que o impacto da humanidade no planeta não se iniciou com as enormes mudanças tecnológicas e sociais da Revolução Industrial, mas foi, na verdade, observável muitos milhares de anos antes no final do período Pleistoceno, sob a forma de extinção de espécies ligada ao crescimento da população humana, que remonta 195.000 anos no passado.

Extinções são a pista

Os pesquisadores dizem que o exemplo mais significativo disso é a redução dramática na megafauna (espécies animais grandes) entre cerca de 50.000 e 10.000 anos atrás, o que teve efeitos dramáticos sobre os ecossistemas em termos de coisas como a dispersão de sementes.

O advento da agricultura colocou ainda maiores pressões evolucionárias em plantas e animais, criando “impactos sem precedentes e duradouros sobre a distribuição das espécies”. Mas esses impactos não apenas conduziram a extinções. Os tipos de animais que os seres humanos favoreceram – como cães domesticados, além de ovelhas, cabras, galinhas e gado – aumentaram em quantidade.

Os seres humanos também colonizaram as ilhas, o que teve grandes efeitos considerando como ecossistemas naturais das ilhas não têm “a resiliência dos biomas continentais”. À medida que novas espécies foram introduzidas, os indígenas foram dominados. A expansão do comércio da Idade do Bronze em diante agravou muitos destes efeitos, e tudo isso muito antes da Revolução Industrial ter início.

Em outras palavras, ao simplesmente colonizar novas terras e criar animais que queríamos para comer, tivemos um impacto sobre cada parte do planeta.

Pensando no futuro

Os pesquisadores dizem que a descoberta deste impacto ambiental humano a longo prazo significa que devemos ter uma abordagem mais ampla e mais pragmática para os esforços de conservação – como claramente está em nossa natureza alterar a natureza, vamos precisar planejar adequadamente se quisermos realisticamente ajudar a salvar o planeta de ameaças ambientais.

“A evidência arqueológica é fundamental para identificar e compreender a história profunda dos efeitos humanos”, explica Boivin.

“Se queremos melhorar a nossa compreensão de como gerimos o nosso meio ambiente e conservar as espécies hoje, talvez nós tenhamos que mudar nossa perspectiva, pensar mais sobre como proteger o ar puro e a água potável para as gerações futuras e um pouco menos sobre o retorno do planeta Terra para sua condição original”.

De acordo com os pesquisadores, esta “condição original” da Terra é algo que não existe há milhares de anos, por isso, devemos focar no bem que podemos fazer para o planeta como ele é agora, em vez de tentar restaurar um oásis há muito tempo perdido, que só existe agora na nossa imaginação.

“Ao invés de um retorno impossível a condições imaculadas, o que é necessário é a gestão historicamente informada de novos ecossistemas emergentes para assegurar a manutenção de produtos e serviços ecológicos”, afirmam os autores. “Tais esforços precisam ter em conta as necessidades de todas as partes interessadas e equilibrar os meios de subsistência locais com a agenda dos países do primeiro mundo”.

“Dados arqueológicos cumulativos demonstram claramente que os seres humanos são mais do que capazes de remodelar e transformar radicalmente os ecossistemas”, acrescenta Boivin. “Agora, a questão é que tipo de ecossistemas iremos criar para o futuro. Será que eles vão apoiar o nosso próprio bem-estar e de outras espécies ou eles vão fornecer um contexto para novas extinções em grande escala e alterações climáticas irreversíveis?”. Essa parece ser uma pergunta que merece uma boa resposta. [Science Alert]

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