O yoga e 6 outras formas “antigas” de misticismo que são invenções recentes

Por , em 15.07.2015

Digamos que algum dia você resolva colocar um pouco mais de profundidade e reflexão na sua vida. Por que não recorrer a uma antiga crença mística? Afinal de contas, a sociedade nos oferece uma grande variedade de práticas e crenças antigas e, quanto mais obscura e estrangeira, melhor. Afinal, se algo tem sido praticado há milhares de anos, deve ter algo bom aí, certo?

Porém, é bom tomar cuidado quando for escolhendo, porque algumas dessas práticas “antigas” são invenções bem recentes.

7. Yoga

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Pergunte a qualquer um que esteja vestindo uma malha coladinha enquanto olha o horizonte há quanto tempo o yoga tem sido praticado e são boas as chances de que essa pessoa diga algo em torno de cinco mil anos. Em outras palavras, as pessoas estariam se alongando e posando serenamente várias centenas de anos antes da construção das pirâmides egípcias.

Na realidade, o yoga como o conhecemos hoje – um conjunto de posturas (asanas) combinadas com técnicas de respiração – remonta ao jovem ano de 1960. “Mas como pode ser?”, grita a multidão enfurecida levantando de suas esteiras de exercício. Bem, a afirmação a respeito dos “cinco mil anos de idade” baseia-se inteiramente em algumas imagens desta época de um homem sentado de pernas cruzadas que foram encontradas no Vale do Indo. Embora esta seja uma das principais posições do yoga, obviamente, não é exclusiva desta prática.

O nome yoga é usado pela primeira vez em alguns textos religiosos hindus de 2.500 anos de idade chamados Upanishads, entretanto, este é um termo relativo a um método para amarrar cavalos juntos. Os Upanishads a usam como uma metáfora para uma técnica de oração mental, mas, quando o assunto é alongamento e posições ensaiadas, os textos mencionam exatamente uma postura física, que é, basicamente, “sente-se de uma maneira que torne a meditação confortável”. Assim, a palavra “yoga” pode descrever um velho ensinamento hindu, com ênfase no “pode”.

Não foi até o século XIX que um príncipe indiano chamado Krishnaraja Wodeyar III produziu algo parecido com o que chamamos de yoga: um manual chamado Sritattvanidhi, que listava 122 poses principalmente retiradas da ginástica indiana. O que realmente deu o empurrão que faltava para o yoga moderno, no entanto, foi a influência do Império Britânico nas suas colônias.

Mais tarde, um cara chamado B.K.S. Iyengar veio com a ideia de combinar estas técnicas de exercícios com alguns dos ensinamentos descritos em textos hindus antigos, como os Yoga Sutras, e o resultado se espalhou pelos Estados Unidos na década de 1960, e depois pelo resto do mundo.

6. Tarô

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Qualquer coisa relacionada com cartas de tarô provavelmente será descrito como “antiga” e “misteriosa” – incluindo o plástico no qual vem embrulhada. De acordo com os fãs, as cartas teriam se originado no Antigo Egito e, com o passar das eras, de alguma forma também se envolveram com a Cabala e alguns mitos do Santo Graal. É como uma grande salada mística!

As cartas de tarô não foram originalmente concebidas para serem observadas enquanto se ouve Enya, mas como um jogo de cartas semelhante ao bridge moderno. As pessoas só começaram a usá-las para prever o futuro cerca de 250 anos atrás, uns bons 400 anos depois das cartas terem sido importadas do Oriente Médio. Na verdade, baralhos normais têm uma história mais longa na Europa do que cartas de tarô, precedendo-as por cerca de 50 anos. Inclusive, as “varinhas” mágicas dos Arcanos Menores eram um resquício de suas origens do Oriente Médio, onde retratavam tacos de pólo.

A nova função de adivinhação do tarô foi rapidamente incorporada pelos fãs de ocultismo do século XIX. Os ocultistas “descobriram” a longa história do tarô e renomearam as duas partes do baralho “Arcanos” para substituir os um pouco menos assustadores Trunfo e Uno.

Em 1909, dois ocultistas publicaram uma nova versão das cartas, o baralho Rider-Waite, que é o que a maioria de nós visualiza hoje quando ouvimos a palavra “tarô”. As novas cartas apagaram a imagem cristã tradicional com símbolos pagãos para fazer parecer que elas antecediam o Novo Testamento, substituindo o Papa e a Papisa por um Hierofante e Alta Sacerdotisa.

5. Satanismo

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Se podemos acreditar na cultura popular, o satanismo está por aí desde que os nossos primeiros antepassados ​​se arrastaram para a praia primitiva e usaram suas mãos rudimentares para fazer o gesto dos “chifres do diabo” – você sabe, aquele que virou símbolo do rock. Filmes como “O Último Portal” e qualquer um estrelado por Christopher Lee retratam satanistas praticando seu ofício nos idos da Idade Média e até antes.

O satanismo que conhecemos hoje, com seus pentagramas, cruzes invertidas e uma devoção estranha a roupas pretas desbotadas data do ano de 1966, quando foi totalmente inventado por um músico de Chicago chamado Anton LaVey. Isso o torna mais novo do que a Wicca, o mito de Cthulhu, os Rolling Stones e o Sr. Cabeça de Batata.

Claro, você pode encontrar um monte de descrições de atividades satanistas séculos antes disso. Com uma análise mais atenta, contudo, é possível ver que este “satanismo” inevitavelmente envolvia uma má interpretação de uma prática religiosa não dominante ou uma acusação muito útil para usar contra seus vizinhos quando faziam alguma festa a noite toda tocando seus chocalhos ou o que quer que seja que maus vizinhos faziam naquela época.

Casos em que os satanistas acusados “​​admitiam” a adoração ao diabo geralmente envolviam uma boa dose de horríveis torturas, durante as quais a maioria de nós provavelmente confessaria adorar Paulo Maluf. Muito provavelmente pessoas inocentes confessaram sob tortura adorar secretamente o demônio Baphomet, um nome que é, possivelmente, uma confusão com “Mohammed”.

Até o artista Anton LaVey, pentagramas eram comumente usados ​​por cristãos como um amuleto contra bruxaria e demônios. É isso mesmo: como se não bastassem as cruzes invertidas, os satanistas também exibem orgulhosamente um símbolo cristão e um produto da execução de motivação religiosa e tortura.

4. Tabuleiros de Ouija

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Quer você pense que eles são um passatempo inofensivo ou um portal de papelão diretamente para o inferno, amantes e haters da Ouija concordam em uma coisa: os tabuleiros têm uma história longa e misteriosa. Fazer de si mesmo um fantoche de fantasmas para soletrar palavras em uma placa do alfabeto supostamente remonta até a China antiga, e até mesmo os romanos, aparentemente, também entraram no trem histórico da Ouija.

Na verdade, tabuleiros de Ouija são quase tão místicos quanto um boneco do Optimus Prime: são de propriedade da mesma empresa. As placas foram inventadas por vários empresários de Baltimore, nos Estados Unidos, em 1890, e até hoje a palavra “Ouija” é uma marca registrada da Parker Brothers, uma companhia que fabrica brinquedos e jogos.

E as versões antigas dos ritos Ouija? “Fuji”, a prática chinesa que geralmente é tida como antecessora deste sucesso do cinema e da literatura, envolvia um método completamente diferente de adivinhação que usava uma vareta para traçar caracteres chineses na areia. A versão romana não era muito mais próxima. Outras culturas, mais antigas, podem ter usado métodos vagamente semelhantes para tentar descobrir algum conhecimento oculto ou o futuro através dos “espíritos”, mas dizer que esses ritos eram Ouijas antigos é como dizer que corridas de bigas romanas eram uma antiga forma de stock car.

3. Ninjutsu

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A coleção secreta de habilidades e sabedoria ninja conhecida como “ninjutsu” estaria por aí há aproximadamente mil anos e você ainda pode o aprender hoje, apesar de não termos um sistema de aulas rigoroso, regras de combate baseadas em honra e quaisquer oportunidades reais de assassinar senhores feudais.

Nós já contamos antes que ninjas nunca usaram macacões pretos e máscaras como Hollywood nos ensinou. Mas, certamente, os ninjas realmente existiram de alguma forma, certo? Sim, provavelmente. O problema é que ninguém no Japão ou em outro lugar jamais provou que eles têm acesso a qualquer tradição relacionada com ninjas mais antiga do que o século XX. A escola Bujinkan, praticada por Stephen Hayes, que popularizou ninjutsu no Ocidente na década de 1970, não é levada a sério por escolas tradicionais de artes marciais no Japão e suas reivindicações de legitimidade histórica baseiam-se em um monte de “pergaminhos antigos” que o líder não mostra a ninguém. Outro homem que alega ser o último ninja “real” do Japão, Jinichi Kawakami, diz que aprendeu ninjutsu com um estranho misterioso que ele conheceu ainda criança que não deixou nenhuma evidência de ter existido.

Basicamente, parece que todo mundo no Japão pode alegar que seu professor de educação física do colégio era um guerreiro secreto que lhes ensinou o Caminho do Ninja e nós, ocidentais, nos reuniremos aos montes na esperança de podermos usar aqueles uniformes pretos e socar pessoas.

2. Sexta-Feira 13

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Como artigos de jornal e Dan Brown tentam incessantemente nos dizer toda vez que o calendário nos presenteia, a má reputação da sexta-feira 13 remonta à sexta-feira 13 de outubro de 1307. Dezenas de cavaleiros templários teriam sido presos em massa pelo rei corrupto da França. Eles, que tinham a missão de proteger peregrinos na Terra Santa, foram presos e torturados, e seu líder foi queimado na fogueira em Paris em 18 de março de 1314. Em seu leito de morte, ele teria jogado uma maldição épica sobre os presentes, muitos dos quais morreram em um ano. Os franceses ficaram tão impressionados com isso que decidiram não apenas recordar a maldição para sempre, mas também basear as suas superstições no dia da sua prisão, sete anos antes de sua morte.

Há muitas referências históricas para que tanto o 13 quanto a sexta-feira sejam considerados cheios de azar. Entretanto, ninguém pensou em unir essas duas superstições até o início do século XX, quando um romance best-seller chamado “Friday the Thirteenth” (“Sexta-Feira Treze”, obviamente) foi lançado.

Este livro de 1907 contava a história de um empresário que planejava derrubar o mercado de ações. Sem Cavaleiros Templários, nenhuma máscara de hóquei, apenas um thriller de Wall Street convencional que inexplicavelmente nos levou a marcar nossos calendários e nos esconder debaixo das cobertas de vez em quando, aterrorizados por causa de alguma combinação arbitrária de números.

1. A religião Viking

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Vikings são incríveis, assim como os mitos da Escandinávia pré-cristã que vêm com eles. Eles têm martelos gigantes, cavalos de oito patas e Ragnarok, no qual o universo é chutado até a morte pelo fogo e os vilões pilotam uma navio feito de unhas de cadáveres. Mas para muitas pessoas – aqueles que sentem uma profunda ligação com a cultura nórdica, os que querem se juntar a uma gangue e os que tinham raiva de seus pais por fazê-los acordar cedo para ir à igreja quando eram crianças -, o paganismo escandinavo está bem vivo e é conhecido como Odinismo ou Asatru por seguidores modernos.

No momento você deve estar pensando: “Por favor, não diga toda aquela história sobre Thor e seu martelo, Odin, Loki e outras propriedades da Marvel são uma baboseira feita para vender alguns livros!”. Infelizmente, é exatamente para este lugar que estamos indo. Praticamente tudo o que sabemos sobre o paganismo escandinavo vem do Eddas, dois livros compilados no século XII por um cara com o hilário nome Snorri Sturluson.

Mas, espere aí, o século XII ainda é bastante velho, certo? Sim, porém, há um problema aqui: Snorri escreveu os livros várias centenas de anos depois da Escandinávia ter sido cristianizada. Ah, e Snorri não era exatamente um verdadeiro crente: ele declarou que os “deuses” sobre os quais escreveu eram apenas heróis mortos que ficaram bem falados mais tarde.

Isso já seria ruim o suficiente, mas as coleções de Snorri também continham elementos que pareciam ser plagiados, como Odin ter se sacrificado enforcando-se em uma árvore e sendo perfurado por uma lança. De fato, alguns estudiosos pra lá de sem graça sugeriram que mesmo o Ragnarok não é nada mais que uma releitura do fim do paganismo sob o cristianismo, ou até mesmo uma versão cooptada do livro bíblico do Apocalipse.

Basicamente, Snorri era o último na linha de um jogo religioso de telefone sem fio de 200 anos de idade, e nós não temos maneira alguma de saber o que estava na versão original e o que era simplesmente um cara dizendo: “Você sabe do que a religião precisa? Mais martelos gigantes”. [Cracked]

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