Nanotecnologia consegue silenciar gene que causa câncer incurável

Por , em 31.10.2013
Pesquisadores combinaram nanopartículas de ouro (em amarelo) com pequenos RNAs (em verde) para derrubar um oncogene abundante em glioblastomas

Um novo estudo da Universidade de Northwestern (EUA) desenvolveu uma terapia que desliga um gene crítico do glioblastoma multiforme (GM), um câncer cerebral agressivo e incurável, diretamente no cérebro de animais, aumentando significativamente as taxas de sobrevivência dos doentes.

Terapia com Nanotecnologia

A terapia é baseada em nanotecnologia, ou seja, é pequena e ágil o suficiente para atravessar a barreira entre sangue e cérebro e chegar ao local onde é necessária – no tumor. Por sua vez, o medicamento levado através de nanotecnologia é projetado para atingir um determinado gene causador da doença em células, silenciando-o, o que destrói as proteínas que mantêm as células cancerosas imortais.

O estudo

Os pesquisadores injetaram intravenosamente a terapia em ratos. Em animais com GM, a taxa de sobrevivência aumentou cerca de 20%, e o tamanho do tumor foi reduzido em 3 a 4 vezes, em comparação com o grupo de controle.

“Usando ácidos nucléicos esféricos altamente adaptáveis que miravam especificamente o gene associado com GM, provamos a eficácia de uma ampla plataforma para o tratamento de diversas doenças, de câncer de pulmão e de cólon para artrite reumatoide e psoríase”, disse Chad Mirkin, especialista em nanomedicina e coautor sênior do estudo.

Mirkin trabalhou em conjunto com o especialista em glioblastoma Alexander H. Stegh para chegar a essa plataforma eficiente.

O pesquisador já tinha a ferramenta perfeita para enfrentar o câncer mortal: ácidos nucléicos esféricos (SNAS), formas globulares de DNA e RNA que ele tinha inventado em 1996, e que não são tóxicos para seres humanos. Stegh entrou com o gene-alvo: em 2007, ele e seus colegas identificaram Bcl2Like12 como o gene abundante em tumores de glioblastoma e altamente relacionado com a resistência do câncer às terapias convencionais.

“Os SNAS baseados em RNA são uma abordagem completamente nova. Um dos problemas é que temos grandes listas de genes que são de alguma forma desregulados no glioblastoma, mas não temos absolutamente nenhuma maneira de atingir todos eles usando abordagens farmacológicas padrão. É aí que os nanomateriais podem desempenhar um papel fundamental e nos permitir implementar o conceito de medicina personalizada no tratamento do câncer”, explica Stegh.

A forma da nanoestrutura e a densidade do ácido nucleico foram chave para o sucesso da terapia: ácidos nucleicos normais (lineares) não podem entrar nas células, mas estes esféricos podem. O próximo de passo de Stegh e Mirkin foi programar a sequência do RNA dentro dos ácidos para silenciar o gene Bcl2Like12 nas células cancerosas.

“Os problemas causados pela glioblastoma e muitas outras doenças são simplesmente muito grandes para um grupo de pesquisa só lidar. Este trabalho destaca o poder de cientistas e engenheiros de diferentes áreas que se reúnem para tratar de um problema médico difícil”, comenta Mirkin.

Menos mortal

Ajuda é fundamental para pacientes com GM: a taxa média de sobrevivência é de 14 a 16 meses depois do diagnóstico.

Esse tumor cerebral se multiplica de forma descontrolada. Além de ser um dos gliomas que cresce e se espalha mais rapidamente, ele é o tipo mais comum de tumor cerebral maligno em adultos, representando cerca de 50% a 60% dos casos. O risco estimado no Brasil é de 5 casos novos a cada 100.000 habitantes do sexo masculino, e 4 casos novos a cada 100.000 habitantes do sexo feminino.

Os números são ainda mais assustadores se lembrarmos que a maioria dos medicamentos quimioterapêuticos contra a condição falham.
O gene silenciado no novo estudo desempenha diversos papéis diferentes na resistência do câncer à terapia. Tirá-lo de campo deve permitir que terapias convencionais sejam mais eficazes.

O poder da tecnologia da regulação de genes é que uma doença com uma base genética pode ser atacada e tratada, se os cientistas tiverem as ferramentas certas. Graças ao Projeto Genoma Humano e a pesquisa genômica que vem acontecendo nas últimas décadas, já existe um enorme número de alvos genéticos, e agentes terapêuticos eficientes que possam alvejá-los passou a ser o novo desafio.

Mirkin desenvolveu a primeira plataforma de nanoestrutura que conseguiu, ao ser injetada em um animal, encontrar seu alvo naturalmente e entregar uma carga eficaz de terapia. Essa foi uma importante conquista dessa área de pesquisa.

Outra boa notícia é que a tecnologia usada no estudo já é comercializada e aprovada pela Administração de Drogas e Alimentos americana, o que deve agilizar o lançamento da nova terapia ao mercado. O próximo passo será testá-la em seres humanos, em ensaios clínicos. [ScienceDaily, OncoGuia, InstitutoAbathon]

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