Neandertais não eram tão estúpidos assim

Por , em 6.05.2014

Se você acha que os Neandertais eram estúpidos e primitivos, é hora de rever seus conceitos. A noção generalizada de que eles eram burros e que sua inteligência inferior permitiu que fossem levados à extinção pelos antepassados ​​muito mais brilhantes do homem moderno não é apoiada por nenhuma evidência científica, de acordo com uma pesquisadora da Universidade de Boulder, no Colorado (EUA).

Neandertais prosperaram em uma grande área da Europa e da Ásia entre cerca de 350.000 e 40.000 anos atrás. Eles desapareceram depois que nossos antepassados​​, um grupo conhecido como “seres humanos anatomicamente modernos”, foi para a Europa a partir da África.

No passado, alguns pesquisadores tentaram explicar o desaparecimento dos Neandertais sugerindo que os recém-chegados foram superiores a eles em alguns aspectos fundamentais, incluindo a sua capacidade de caça, comunicação, inovação e adaptação a diferentes ambientes.

Mas, em uma extensa revisão de pesquisas recentes, a pesquisadora Paola Villa e o coautor Wil Roebroeks, arqueólogo da Universidade de Leiden, na Holanda, defendem a ideia de que as evidências disponíveis não suportam a opinião de que os Neandertais eram menos avançados do que os humanos anatomicamente modernos. Seu trabalho foi publicado recentemente na revista PLOS ONE.

“A evidência de inferioridade cognitiva simplesmente não existe”, afirma Villa, curadora do Museu de História Natural da Universidade do Colorado. “O que estamos dizendo é que a visão convencional que se tem dos Neandertais não é real”.

Villa e Roebroeks inspecionaram com atenção quase uma dúzia de explicações comuns para a extinção Neandertal que dependem em grande parte da noção de que eles eram inferiores aos seres humanos anatomicamente modernos. Estas incluem a hipótese de que os Neandertais não usavam uma comunicação complexa e simbólica; que eles eram caçadores menos eficientes, com armas inferiores; e que eles tinham uma dieta restrita que os colocava em desvantagem competitiva em relação aos humanos anatomicamente modernos, que comiam uma ampla gama de coisas.

Os pesquisadores descobriram que nenhuma destas hipóteses é apoiada pela pesquisa disponível. Por exemplo, a evidência de vários sítios arqueológicos na Europa sugere que os Neandertais caçavam como um grupo, usando a paisagem para ajudá-los.

Pesquisadores demonstraram que os Neandertais provavelmente levaram centenas de bisões para a morte, orientando-os em um precipício no sudoeste da França. Em outro local utilizado pelos Neandertais, nas Ilhas do Canal, restos fossilizados de 18 mamutes e cinco rinocerontes foram descobertos na base de uma profunda ravina. Estes resultados implicam que os Neandertais podiam planejar com antecedência, se comunicar como um grupo e fazer uso eficiente de seus arredores, explicam os autores.

Outra evidência arqueológica descoberta em sítios Neandertais fornece razões para acreditar que eles na verdade tinham uma dieta diversificada. Microfósseis encontrados nos dentes e na comida de Neandertais que foram deixadas para trás em sítios usados para a culinária indicam que eles podem ter comido ervilhas selvagens, nozes, pistache, sementes de capim, azeitonas silvestres, pinhões e tamareiras, dependendo do que estivesse disponível localmente.

Além disso, os pesquisadores descobriram ocre, um tipo de pigmento da terra, em locais habitados por Neandertais, que podem ter sido utilizados para a pintura corporal. Ornamentos também foram coletados em territórios Neandertais. Tomados em conjunto, estes resultados sugerem que os Neandertais tinham rituais culturais e comunicação simbólica.

Villa e Roebroeks dizem que esta deturpação na percepção da capacidade cognitiva dos Neandertais pode estar ligada à tendência de pesquisadores em comparar essa espécie, que viveu no período Paleolítico Médio, com seres humanos modernos que viveram durante o mais recente período Paleolítico Superior, quando saltos na tecnologia foram feitos.

“Os pesquisadores estavam comparando os Neandertais não aos seus contemporâneos em outros continentes, mas com os seus sucessores”, compara Villa. “Seria como comparar o desempenho de Fords Modelo T, amplamente utilizados nos Estados Unidos e na Europa no início do século passado, com o desempenho de uma moderna Ferrari e concluir que Henry Ford foi cognitivamente inferior a Enzo Ferrari”.

Embora muitos ainda procurem uma explicação simples e prefiram atribuir a morte dos Neandertais a um único fator, como inferioridade cognitiva ou tecnológica, a arqueologia mostra que não há apoio científico para tais interpretações.

Mas se os Neandertais não eram tecnologicamente e cognitivamente desfavorecidos, por que eles não sobreviveram?

Os pesquisadores afirmam que a verdadeira razão para a extinção Neandertal é provavelmente muito complexa, mas algumas pistas podem ser encontradas em análises recentes do genoma Neandertal ao longo dos últimos anos. Estes estudos genômicos sugerem que os humanos anatomicamente modernos e os Neandertais provavelmente cruzaram entre si, e que as crianças do sexo masculino resultantes podem ter tido redução da fertilidade. Estudos genômicos recentes também sugerem que os Neandertais viviam em pequenos grupos. Todos esses fatores podem ter contribuído para o declínio desse povo, que acabou por ser engolido e assimilado pelo números crescente de imigrantes modernos. [Phys]

2 comentários

  • Junior Castro:

    Me corrijam se eu estiver errado, mas o homem de Neanderthal surgiu na Europa enquanto o homo sapiens na África, ambos no mesmo período e de um ancestral em comum. Então, pode ser que tenham a mesma capacidade intelectual, mas não é apenas isso que influencia, talvez seu grupo tenha se tornado pequeno na migração para a Europa e também não se adaptaram tão bem. E quando o homo sapiens chegou terminou de extingui-los por ter evoluído mais durante a estadia na África. (é o que eu penso)

    • Cesar Grossmann:

      Eu adoraria corrigir se você estivesse errado, mas não tenho conhecimento sobre a razão da extinção dos Neanderthais. E acho que nem os especialistas tem ao certo. Talvez eles tivessem um modo de vida solitário demais, que acabou entrando em colapso quando o H. sapiens chegou em seu território.

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