O mistério do pênis ereto do faraó Tutancâmon

Por , em 8.01.2014

O rei do Egito Tutancâmon foi embalsamado de uma maneira incomum, com seu pênis mumificado ereto em um ângulo de 90 graus, e sem coração. Agora, um novo estudo sugere que essas anormalidades para um rei mumificado podem ter sido um esforço para combater uma revolução religiosa desencadeada por seu pai.

O faraó foi enterrado no Vale dos Reis do Egito sem um coração (ou um artefato de substituição conhecido como “escaravelho-coração”), seu pênis foi mumificado ereto, e sua múmia e caixões foram cobertos por uma espessa camada de líquido preto que parece ter resultado em um incêndio no corpo do menino.

Estas anomalias têm recebido muita atenção acadêmica e da mídia nos últimos anos. Mas o mistério pode ter chegado ao fim – a egiptóloga Salima Ikram, da Universidade Americana no Cairo (Egito), propõe uma razão para elas.

Ela crê que o pênis ereto e outras irregularidades do embalsamamento não foram acidentais, mas sim tentativas deliberadas de fazer o rei se parecer com Osíris, o deus do submundo, da forma mais literal possível.

O pênis ereto evoca os poderes regenerativos de Osíris, o líquido preto imita a cor da sua pele, e o coração sumido recorda a história do deus, que foi cortado em pedaços e teve seu coração enterrado por seu irmão Seth.

Fazer o rei aparecer como Osíris pode ter ajudado a desfazer uma revolução religiosa provocada por Aquenáton, um faraó que se acredita ter sido o pai de Tutancâmon. Aquenáton tentou concentrar a religião egípcia em torno da adoração de Aton, o disco solar, indo tão longe a ponto de destruir imagens de outros deuses. Tutancâmon estava tentando desfazer essas alterações e retornar o Egito à sua religião tradicional, com sua mistura de deuses.

Ikram adverte que sua ideia é especulativa, mas, se estiver correta, explicaria alguns dos mistérios que cercam a mumificação e o enterro de Tutancâmon.

Tutancâmon como Osíris

O pênis ereto eventualmente se separou do corpo do rei quando a múmia foi descoberta, o que levou a especulações da mídia de que tinha sido roubado.

Segundo Ikram, não há notícia de outra múmia egípcia enterrada com uma ereção. Esse fato pode ter uma conexão com o deus Osíris, pois o pênis ereto é um símbolo por excelência do renascimento e da ressurreição. Além disso, múmias artificiais criadas em períodos posteriores em honra a Osíris, feitas de uma mistura de materiais, possuíam a mesma característica.

Também há evidências de que a múmia literalmente pegou fogo, algo aparentemente provocado pela grande quantidade de óleos e resinas pretas aplicada ao seu corpo. Em outubro de 1925, Howard Carter, arqueólogo que liderou a equipe que descobriu a tumba em 1922, escreveu: “A maior parte dos detalhes está escondida por um revestimento preto brilhante, deliberadamente derramado sobre o caixão em grande quantidade”.

A abundância de líquido preto, o que deixou a pele do rei Tut de uma cor escura, pode ter sido uma tentativa de retratar o faraó tão literalmente quanto possível como Osíris, aludindo à cor preta associada ao deus como “senhor da terra do Egito, escuro com o rico solo da inundação, e a fonte da fertilidade e regeneração”, explica Ikram.

Outra anomalia misteriosa é a ausência do coração do faraó e a falta de um escaravelho-coração para servir como substituto. “Este órgão era um componente chave para o sucesso da ressurreição do corpo”, diz Ikram, observando que, na mitologia egípcia, o coração é pesado contra a pena que representa o deus Maat para determinar se uma pessoa é digna de ressurreição.

A ausência do órgão não parece ter sido resultado de roubo; em vez disso, pode ser uma alusão a uma famosa história da lenda de Osíris, quando seu corpo foi cortado em pedaços por seu irmão Seth, que enterrou seu coração. Os cortes tipicamente usados para remover os órgãos internos de uma múmia estavam invulgarmente brutais e grandes em Tutancâmon, outra alusão, talvez, a carnificina de Seth contra Osíris.

Outras evidências também apontam para a personificação de Osíris. Por exemplo, a parede norte da câmara funerária do rei o mostra como Osíris por meio de sua decoração. Essa representação é única no Vale dos Reis: outros túmulos só mostram o rei sendo abraçado por Osíris ou oferecido a ele.

Carter foi o primeiro a salientar que o faraó estava sendo retratado como Osíris. “Talvez a ênfase de Carter em suas notas durante o desembrulhar e exame da múmia esteja mais correta do que ele mesmo pensava: o rei estava de fato sendo mostrado como Osíris, mais do que era habitual em enterros reais”, Ikram argumenta.

“Pode-se especular que, naquele momento histórico/religioso delicado, os modos habituais para a mumificação do rei não eram suficientes, e por isso os sacerdotes-embalsamadores prepararam o corpo de tal forma que enfatizasse a divindade do rei e sua identificação com Osíris”, conclui. [LiveScience]

1 comentário

  • Fábio Alves:

    Que interessante! Mas Maat não é um deus, mas uma deusa, a deusa da verdade!

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