O poder positivo do pensamento negativo

Por , em 12.11.2013

Se você quiser atingir uma grande meta, a sabedoria convencional te orienta que pensar positivo é o melhor caminho. Imagine-se entregando a apresentação perfeita e absorva a energia do público. Visualize a entrevista de emprego ideal e imagine-se nas nuvens quando você consegue a vaga. Embora essas estratégias possam soar convincentes, o que se vê, na prática, é que muitas vezes o tiro sai pela culatra. Muitos de nós são mais bem sucedidos quando nos concentramos nas razões que nos deixam mais propensos a falhar.

Em uma série de estudos de inteligência, as psicólogas Julie Norem e Nancy Cantor compararam otimistas estratégicos e pessimistas defensivos. Se você é um otimista estratégico, você imagina o melhor resultado possível e, em seguida, ansiosamente planeja para que isso aconteça. Se você é um pessimista defensivo, mesmo que tenha sido bem sucedido no passado, sabe que desta vez pode ser diferente. Você começa a imaginar todas as coisas que poderiam dar errado: e se eu derramar café no entrevistador? E se eu esquecer meu próprio nome?

A maioria das pessoas assume que os otimistas estratégicos superam os pessimistas defensivos, porque eles se beneficiam da confiança e grandes expectativas. Norem e Cantor descobriram que pessimistas defensivos eram mais ansiosos e definiram expectativas mais baixas para si mesmos em tarefas analíticas, verbais e criativas. No entanto, eles não se saíram pior.

“No começo, eu me perguntei como essas pessoas foram capazes de se sair tão bem, apesar de seu pessimismo”, escreve Norem no livro “The Positive Power of Negative Thinking”. “Em pouco tempo, comecei a perceber que eles estavam indo tão bem por causa de seu pessimismo… o pensamento negativo transformou a ansiedade em ação”. Ao imaginar o pior cenário possível, os pessimistas defensivos encontraram motivação para se preparar melhor e tentar mais.

Otimistas estratégicos e pessimistas defensivos foram bem sucedidos em circunstâncias diferentes. Se você é um pessimista defensivo, ou você está tentando motivar um deles, as estratégias que se comprovaram efetivas são muitas vezes o contrário do que você espera. Confira:

1. Não assobie enquanto trabalha

Embora as evidências mostrem que a felicidade muitas vezes nos faz mais bem sucedidos, promovendo energia e criatividade, o tiro pode sair pela culatra para os pessimistas defensivos. Quando os otimistas estratégicos e pessimistas defensivos jogaram dardos, se saíram igualmente bem no geral, mas foram mais eficazes em condições opostas. Antes de atirar os dardos, algumas pessoas ouviram fitas relaxantes (“ouça o barulho suave das ondas em um oceano que reflete o brilho do sol”). Outras imaginaram-se jogando dardos e não alcançando as suas metas. Quando eles realmente jogaram os seus dardos, os otimistas estratégicos eram cerca de 30% mais precisos quando relaxados ao invés de quando imaginavam resultados negativos. Porém, o oposto é verdadeiro para os pessimistas defensivos: eles foram cerca de 30% mais precisos quando pensavam sobre os resultados negativos, em vez de relaxar ou imaginar um desempenho perfeito. A pesquisa de Norem sugere que “o humor positivo prejudica o desempenho dos pessimistas defensivos”. Quando eles estão de bom humor, se tornam complacentes, pois eles não têm mais a ansiedade que normalmente move o seu esforço. Se você quer sabotar pessimistas defensivos, apenas os torne felizes.

2. O incentivo desencoraja

Achamos que é uma boa ideia incentivar as pessoas, mas é melhor não tomar essa decisão tão rápido. Em um experimento, pessoas completaram uma tarefa de desenho que exigia foco e precisão. Logo antes da tarefa, o pesquisador olhou as notas da faculdade de metade dos participantes e disse: “Hmm, levando em consideração o quão bem você fez no passado, eu presumo que você esteja muito confiante do seu desempenho. Você provavelmente vai se sair muito bem nas próximas tarefas”. Essas palavras de encorajamento impulsionaram um pouco o desempenho dos otimistas estratégicos, que foram 14% melhor depois do discurso. Em contrapartida, os pessimistas defensivos se saíram significativamente pior quando foram encorajados, marcando um desempenho 29% menor. O estímulo impulsionou a sua confiança, reprimiu sua ansiedade e interferiu nos seus esforços para criar baixas expectativas. Como Oliver Burkeman escreve em “The Antidote”, “o incentivo é uma faca de dois gumes”.

3. Não se preocupe, seja infeliz

Quando as pessoas estão ansiosas, às vezes nós as encorajamos a se distraírem. Mais uma vez, isso não funciona com os pessimistas defensivos. Em outro experimento, as pessoas preencheram um questionário sobre seus estilos e então fizeram um teste de matemática mental, que envolveu a adição e subtração de números em suas mentes (por exemplo, 15 + 47 – 73). Os otimistas estratégicos não se beneficiaram ao refletir sobre os possíveis resultados, mas os pessimistas defensivos, sim. Quando os pessimistas defensivos se distraíram com outra tarefa logo antes da prova de matemática, suas notas foram cerca de 25% menores do que quando listaram os resultados mais extremos que poderiam acontecer no teste e como poderiam se sentir a respeito deles. Ter tempo para se preocupar ajudou a gerar a ansiedade necessária para que se motivassem.

4. Deixem as fantasias para a tela do cinema

Estudos mostram que fantasias positivas desencorajam a conquista. Quando as pessoas imaginam perder peso ou conseguir namorar aquele por quem têm uma queda, elas são menos propensas a seguir adiante com seus planos. Além disso, pessoas têm um desempenho pior quando dizem “Eu vou” do que quando se perguntam “Será que eu vou?”. “Afirmação faz você se sentir bem, porém ela não te motiva a buscar os recursos e estratégias para realmente realizar a tarefa”, relata Dan Pink em “To Sell Is Human”.

Precisamos que o copo esteja meio cheio e meio vazio

Nos EUA, os otimistas são mais favorecidos do que os pessimistas. Quando economistas pesquisaram ​​mais de mil diretores executivos norte-americanos, eles descobriram que mais de 80% foram classificados como “muito otimistas”.

Otimistas tendem a prosperar em trabalhos que exigem resistência e perseverança. Por exemplo, em trabalhos de vendas de seguros com altas taxas de rejeição, os otimistas venderam 37% a mais do que os pessimistas ao longo de um período de 2 anos e tinham metade das chances de pedir demissão em seu primeiro ano. No livro “Learned Optimism”, o psicólogo Martin Seligman revela que quando as coisas dão errado, os pessimistas visualizam os eventos negativos como pessoais (“Eu sou um orador terrível”), permanentes (“Eu nunca vou ficar melhor”) e universais (“Eu vou perder o respeito dos meus colegas e minha esposa”).

Os otimistas, ao contrário, reconhecem que, quando uma apresentação erra o alvo, é possível que o público não estivesse preparado para a sua mensagem. Por isso, eles podem praticar e melhorar, e ainda conseguem se destacar em outras tarefas e ter uma noite agradável em casa.

Ao mesmo tempo, precisamos de pessimistas para antecipar o pior e preparar todos para isto. Em média, a pesquisa indica que as pessoas que nunca se preocupam têm um desempenho pior no trabalho do que aqueles que se preocupam de tempos em tempos. Estudos também mostram que quando os empresários estão muito otimistas, seus novos empreendimentos trazem menos receita e crescem mais lentamente, e que quando diretores executivos são altamente otimistas, eles assumem dívidas mais arriscadas e tentam alcançar maiores resultados na bolsa de valores com maior frequência, colocando suas empresas em risco. Esse pode ser o motivo de porque há menos diretores financeiros otimistas do que diretores executivos.

Por fim, ambos os estilos são mortais em seus extremos. O pessimismo se torna fatalista e o otimismo se torna tóxico. A chave é encontrar o ponto ideal, as faixas mais moderadas que combinam as vantagens de ambas as abordagens. Nas palavras de Richard Pine: “Os melhores executivos – e isso inclui presidentes – sabem que muito bem que o otimismo é uma coisa perigosa, que a liderança sábia e produtiva significa um equilíbrio entre a visão de mundo cor-de-rosa dos otimistas e a avaliação fria de qualquer situação dos pessimistas. Pegue um pouco de vendedor, um pouco de inventor, um pouco de advogado, um pouco de engenheiro de segurança, mexa delicadamente e você tem um grande executivo”.

Se você é do tipo de pessoa que está sempre dizendo a outras pessoas para que elas olhem para o lado positivo, você pode querer reconsiderar essa postura. Se as pessoas têm sucesso ou não, não é uma questão de pensar positivamente ou negativamente, mas de escolher as estratégias que mais combinam com seus estilos de pensamento. Como os psicólogos Heidi Grant Halvorson e Tory Higgins escrevem em “Focus”, “é a adaptação que conta”.

E se você é um pessimista defensivo, quando estiver se preparando para uma performance que é realmente importante, você pode querer listar seus pontos fracos ao invés de seus pontos fortes e beber um copo de ansiedade, ao invés de uma dose de confiança. [LinkedIn]

2 comentários

  • neutrino:

    Pelo visto é uma pesquisa que faz um contraponto à idealização do otimismo que é feita pela nossa sociedade.

    Mas as coisas se complicam quando saem do papel para a prática.

    Prefiro a teoria que diz para alcançar o sucesso precisamos prestar atenção nas nossas emoções que são um guia para as nossas realizações pessoais.

    Se alguém se enquadra numa situação de pesssimista defensivo
    tem aí um pressuposto de que ele é uma pessoa infeliz ou não sabe lidar bem com as suas emoções.

  • Wanderson Rodrigues Lustosa:

    muito interessante pois e como se nosso cerebro fosse conectado com todo o universo ou melhor como se o universe fosse o genio da lampada magica de aladim

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