OMS diz que o surto de ebola está vencendo os esforços para controlá-lo

Por , em 4.08.2014
Desinfetante é usado em uma tentativa de evitar a propagação do vírus em um prédio do governo em Monrovia,  na Libéria

Desinfetante é usado em uma tentativa de evitar a propagação do vírus em um prédio do governo em Monrovia, na Libéria

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mortes continuam a aumentar na África Ocidental, por conta do pior surto conhecido do vírus ebola.

Na última sexta-feira (1), a Dra. Margaret Chan, diretora-geral da OMS, disse que a doença estava se movendo mais rápido do que os esforços para controlá-la, com consequências potencialmente catastróficas, incluindo um alto risco de se espalhar para outros países e continentes.

O surto foi identificado em março e responsabilizado pela morte de 729 pessoas até agora, segundo estima a OMS. Mais de 1.300 pacientes tiveram infecções confirmadas ou suspeitas.

Países se reúnem no combate

A OMS se reuniu com os líderes dos três países mais afetados – Guiné, Libéria e Serra Leoa – em Conakry, na capital da Guiné, para a introdução de um plano de US$ 100 milhões (cerca de R$ 226 mi) que traga centenas de profissionais da área médica para apoiar os trabalhadores regionais e internacionais de saúde que já estão atuando na África.

Centenas de trabalhadores humanitários e especialistas da OMS estão apoiando os esforços de resposta na região, mas a organização salienta que mais pessoas são urgentemente necessárias, especialmente médicos clínicos, enfermeiros, epidemiologistas, especialistas em mobilização social e em logística e gestores de dados.

“Esta reunião deve marcar um ponto de viragem na resposta ao surto”, disse Chan. “Se a situação continuar a deteriorar-se, as consequências podem ser catastróficas em termos de vidas perdidas, mas também haverá consequências socioeconômicas e um alto risco de propagação para outros países”.

O encontro em Conakry revela um aceleramento do ritmo dos esforços para combater a doença, o que alguns analistas afirmam ser um reconhecimento tardio de que a resposta ao surto até agora tinha sido inadequada.

No entanto, mesmo antes do início da reunião, havia indícios de discórdia. O líder da força-tarefa contra a ebola da Guiné disse que as medidas de emergência na Libéria, onde as escolas foram fechadas, e em Serra Leoa poderiam atrapalhar os esforços para controlar o surto.

“Atualmente, algumas medidas tomadas pelos nossos vizinhos poderiam tornar a luta contra o ebola ainda mais difícil”, argumentou Aboubacar Sidiki Diakité. “Quando as crianças não são supervisionadas, elas podem ir a qualquer lugar e piorar o problema. É parte do que iremos discutir [nessa reunião]”.

Confusão internacional

Uma pessoa viajando da Libéria morreu na Nigéria, o país mais populoso da África, o que levou o governo a introduzir triagens no aeroporto para voos originários da região atingida pelo vírus na última quinta-feira (31 de julho).

Para piorar as coisas, os trabalhadores da saúde têm sido particularmente atingidos por todos os cantos onde estão ajudando. Médicos excelentes foram infectados em Serra Leoa e na Libéria e morreram, e dois trabalhadores humanitários americanos contraíram ebola e retornaram aos EUA para tratamento na Universidade de Emory, em Atlanta.

Os americanos foram transportados em uma ambulância aérea privada especialmente equipada para isolar pacientes com doenças infecciosas. “Nós sentimos que temos o ambiente e experiência para cuidar de forma segura desses pacientes e oferecer-lhes a oportunidade máxima para a recuperação destas infecções”, disse o Dr. Bruce S. Ribner, especialista em doenças infecciosas da Universidade.

E a preocupação de que a doença se espalhe ainda mais longe começa a crescer. A União Africana, por exemplo, anunciou na última sexta-feira que estava adiando uma rotação rotineira de sua força de manutenção da paz na Somália, por medo de que novos soldados fossem infectados em Serra Leoa.

As Filipinas também anunciaram que iriam examinar viajantes de Guiné, Serra Leoa e Libéria quando estes chegassem no país, além de monitorá-los durante um mês.

O Líbano supostamente interrompeu vistos de trabalho para os moradores dos mesmos três países.

A companhia aérea Emirates, com sede em Dubai, informou que estava suspendendo voos para Conakry a partir de sábado.

Nos Jogos da Commonwealth em Glasgow, na Escócia, Moses Sesay, um ciclista de Serra Leoa, informou ao jornal britânico The Daily Mirror que havia sido colocado em quarentena por quatro dias e testado para ebola após sentir-se mal. Ele foi declarado saudável. “Estive doente. Senti-me cansado e apático”, conta. “Todos os médicos estavam em trajes especiais para me tratar – se vestiam como se eu tivesse ebola. Eu fiquei com muito medo”.

Apenas algumas semanas após o início do surto, as autoridades italianas também aumentaram o rigor de seus controles de saúde em aeroportos e em navios, visando viajantes da África Ocidental.

Quanto a imigrantes ilegais, epidemiologistas italianos sugeriram que havia pouco risco de que as centenas de imigrantes não autorizados que chegam ao país pelo sul a cada dia carregassem o vírus. “Imigrantes atravessam o deserto em viagens que levam semanas, se não meses, antes de entrar em um barco para a Europa”, disse o Dr. Massimo Galli, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Milão. “Eles manifestariam a doença muito antes de chegar”. [NYTimes]

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