Mesmo sem contato visual, corvos conseguem imaginar quando estão sendo observados

Por , em 3.02.2016

Uma característica humana marcante é a habilidade de entender que diferentes pessoas têm diferentes pontos de vista. Até então, pensávamos que apenas animais parecidos conosco – como chimpanzés – tinham esta percepção, mas agora pesquisadores sugerem que corvos também podem ter a capacidade, chamada de Teoria da Mente.

Um novo estudo publicado na revista Nature Communications revela que corvos conseguem imaginar quando estão sendo observados, mesmo sem nenhum contato visual com os outros animais. Isso prova que esses pássaros têm habilidades cognitivas impressionantes.

Por que corvos?

Entre tantos animais, por que os corvos foram escolhidos para estrelar este experimento?

Eles demonstram inteligência com alguns comportamentos: quando encontram alimento suficiente para encher a barriga e ainda guardam um pouco para mais tarde, eles costumam tentar enterrar suas sobras atrás de algum obstáculo visual, para que outros corvos não possam enxergar o local. Quando sentem-se observados, eles fingem enterrar a comida em um ponto, mas depois a levam para outro lugar. Depois de escolher seu esconderijo final, eles evitam o local para não chamar atenção dos outros pássaros.

Experimento de espionagem

No experimento conduzido por Cameron Buckner, na Universidade de Houston (EUA), duas salas conectadas por uma janela foram usadas. A janela podia ser substituída por um pequeno buraco suficiente apenas para espionar com um dos olhos.

Para ensinar os corvos a usar a pequena abertura e espiar a segunda sala, os cientistas permitiam que os corvos visualizassem através da janela uma pessoa escondendo queijo na sala ao lado. O vidro da janela era então aberto e o corvo podia ir coletar seu prêmio. O próximo passo do experimento foi fechar a janela e usar apenas o buraquinho. Assim que os pássaros compreenderam que eles podiam observar sem ser vistos, a experiência começou de verdade.

Os corvos foram colocados na sala individualmente, com a missão de esconder um pedaço de alimento. Quando a janela estava aberta e havia um corvo observando pelo outro lado do vidro, o primeiro corvo escondia a comida rapidamente e evitava o esconderijo. Quando a janela e o buraquinho estavam fechados, ele ficava relaxado e levava mais tempo para esconder o alimento, mesmo havendo um corvo do outro lado. Já quando a janela estava fechada mas o buraquinho aberto, deixando passar o som de outro corvo (era apenas uma gravação, não havia nenhum corvo do outro lado), o primeiro corvo também escondia o alimento rapidamente, como se estive sendo observado.

Isso significa que mesmo sem enxergar o competidor, ele consegue supor que está sendo observado. Essa é a Teoria da Mente colocada em prática.

“Descobrir que a Teoria da Mente também está presente em pássaros pode exigir que nós deixemos de lado a popular ideia de que é isso que torna o ser humano único”, explica Buckner. “Mas completar esse quebra-cabeça da evolução e desenvolvimento vai nos aproximar da descoberta do que realmente é único na mente humana”, conclui. [Phys Org, Nature Communications]

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