Perda de memória associada a Alzheimer é revertida em um pequeno estudo

Por , em 1.10.2014

A doença de Alzheimer é um grande problema de saúde no mundo todo. Cerca de 30 milhões de pessoas vivem com a doença, que não tem nem cura, nem tratamento eficaz. Isso pode finalmente estar prestes a mudar, no entanto: no primeiro pequeno estudo que testou um tratamento personalizado e abrangente, nove dos dez participantes demonstraram melhora subjetiva ou objetiva em suas memórias dentro de 3 a 6 meses.

Dos seis pacientes que tiveram que interromper o trabalho ou estavam tendo problemas no serviço no momento em que entraram para o estudo, todos foram capazes de retornar ao emprego ou continuar trabalhando com melhor desempenho.

As melhorias foram sustentadas até dois e anos meio depois do tratamento inicial. Estes dez participantes incluíram pacientes com perda de memória associada à doença de Alzheimer, comprometimento cognitivo leve ou comprometimento cognitivo subjetivo (quando um paciente relata problemas cognitivos). Um único paciente, com diagnóstico de estágio avançado de Alzheimer, não melhorou.

Abrangência é chave

O estudo foi realizado por pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles e do Instituto Buck de Pesquisa do Envelhecimento, ambos nos EUA. Ele é o primeiro a sugerir que a perda de memória em pacientes pode ser revertida e sustentada usando um programa terapêutico complexo que envolve mudanças abrangentes na dieta, estimulação cerebral, exercício, otimização de sono, medicamentos e vitaminas específicas.

De acordo com Dale Bredesen, principal pesquisador do estudo, outras doenças crônicas, como doenças cardiovasculares, câncer e HIV, foram melhoradas através do uso de terapias combinadas. No entanto, no caso da doença de Alzheimer, terapias abrangentes não tinham sido exploradas ainda.

Ao longo das últimas décadas, a pesquisa genética e bioquímica revelou uma extensa rede de interações moleculares envolvidas na patogênese. “Isto sugeriu que uma abordagem terapêutica mais alargada, ao invés de uma única droga que tem como objetivo um único alvo, podia ser potencialmente mais eficaz para o tratamento do declínio cognitivo devido à doença de Alzheimer”, disse Bredesen.
A solução encontrada para o estudo, então, foi uma abordagem que levou em conta um sistema de múltiplos componentes.

“As drogas para Alzheimer existentes afetam um único alvo, mas a doença de Alzheimer é mais complexa. Imagine ter um telhado com 36 buracos, e sua droga remenda um buraco muito bem. Esse buraco pode ter sido corrigido, mas você ainda tem 35 outros vazamentos”, explica.

Programa complexo e personalizado

Uma das pacientes do estudo estava com dois anos de perda progressiva de memória quando o tratamento se iniciou. Na época, ela estava pensando em abandonar seu trabalho, que envolvia a análise de dados e elaboração de relatórios, ficava desorientada ao dirigir e esquecia o caminho de casa, além de confundir os nomes de seus animais de estimação.

Como a abordagem da Bredesen é personalizada para cada paciente com base em extensos testes para determinar o que afeta seu cérebro, o programa terapêutico para essa paciente consistiu de alguns, mas não todos os 36 componentes que podem estar envolvidos no tratamento. No caso dessa paciente, ela:

  1. Eliminou todos os carboidratos simples, levando a uma perda de peso de 9 kg;
  2. Eliminou o glúten e alimentos processados de sua dieta, com aumento de vegetais, frutas e peixes;
  3. Começou a fazer yoga para reduzir o estresse;
  4. Como uma segunda medida para reduzir o estresse do seu trabalho, começou a meditar por 20 minutos duas vezes por dia;
  5. Tomou melatonina toda noite;
  6. Aumentou seu sono de 4-5 horas por noite para 7-8 horas por noite;
  7. Tomou metilcobalamina todo dia;
  8. Tomou vitamina D3 todo dia;
  9. Óleo de peixe todo dia;
  10. CoQ10 todo dia;
  11. Otimizou sua higiene bucal usando um fio dental elétrico e escova de dentes elétrica;
  12. Restabeleceu a terapia de reposição hormonal, que tinha sido interrompida;
  13. Jejuou por um mínimo de 12 horas entre o jantar e café da manhã, e por um mínimo de três horas entre o jantar e a hora de dormir;
  14. Se exercitou por um período mínimo de 30 minutos, 4-6 dias por semana.

A desvantagem deste programa, obviamente, é a sua complexidade. Ele não é fácil de seguir, e nenhum dos pacientes conseguiu manter todo o protocolo todos os dias.

A boa notícia, no entanto, são os efeitos colaterais: “É digno de nota que o principal efeito colateral desse sistema terapêutico é a melhoria da saúde e um índice de massa corporal ideal, um forte contraste com os efeitos colaterais ruins de muitas drogas”, argumenta Bredesen.

Os resultados para nove dos dez pacientes relatados no documento sugerem que a perda de memória pode ser revertida, e uma melhoria sustentada com este programa terapêutico.

“Esta é a primeira demonstração bem sucedida”, observou Bredesen, “mas as descobertas precisam ser replicadas. Os resultados atuais requerem um estudo maior, não só para confirmar ou refutar o que foi visto, mas também para responder a questões importantes levantadas, tais como o grau de melhoria que pode ser conseguido de forma rotineira, quanto declínio cognitivo pode ser revertido, se essa abordagem pode ser eficaz em pacientes com doença de Alzheimer familiar e, por último, por quanto tempo a melhoria pode ser sustentada”. [ScienceDaily]

Deixe seu comentário!