Por que o Berço da Humanidade é um dos sítios de fósseis mais preciosos do mundo

Por , em 13.09.2015
Berço da Humanidade

Australopithecus africanus

Como sabemos, não foi apenas a descoberta recente do Homo naledi que trouxe o sítio arqueológico Berço da Humanidade para os holofotes. Lar deste magnífico patrimônio mundial, a África do Sul há tempos vem produzindo histórias fascinantes e surpreendentes de nossas origens e história evolutiva. Medindo 47 mil hectares, este sítio é considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco desde 1999 e é composto por um complexo de cavernas de calcário.

O primeiro “homem-macaco” adulto

Um dos exemplos do que torna este lugar tão importante é o TM 1511 que, apesar de não ter o nome mais bonito ou memorável de todos os tempos, foi uma descoberta essencial. Encontrado em 1936 pelo médico e paleontólogo Robert Broom nas cavernas sul-africanas de Sterkfontein, ele foi apenas o segundo Australopithecus – o primeiro adulto deles – descoberto na história. Sabemos agora que os australopitecos eram hominídeos bípedes – um grupo que inclui os seres humanos e nossos ancestrais imediatos -, mas chegar a essa conclusão não foi fácil.

Até a descoberta do TM 1511, que foi o primeiro australopiteco adulto, o único outro espécime que os paleontólogos tinham era a Criança de Taung (Australopithecus africanus), um crânio controverso descoberto uma década antes pelo anatomista Raymond Dart. Embora ela trouxesse os sinais reveladores de bipedalismo – um buraco na medula espinhal posicionado mais para baixo do que em quadrúpedes como os chimpanzés – o crânio foi dispensado como qualquer um de macaco, foi considerado que ele não seria, certamente, um dos nossos antepassados, e em grande parte ignorado pela comunidade científica. Na época, havia uma crença generalizada de que os seres humanos se originaram na Europa ou na Ásia, não África.

Além disso, Dart lutou para convencer as pessoas sobre o significado de sua descoberta, considerando que tudo o que ele tinha era o crânio de uma criança, que pertenceu a um indivíduo de aproximadamente três anos de idade. Encontrar o primeiro adulto espécime de “homem-macaco” em Sterkfontein deu peso às afirmações de Dart.

Sterkfontein

Sterkfontein

Um tipo diferente de homem-macaco

As descobertas de Broom, certamente, não se limitaram ao australopiteco adulto mencionado acima. Na verdade, ele descobriu diversos fósseis de Australopithecus, mas um fragmento de mandíbula que ele achou em 1938 não se igualava a qualquer um dos seus achados anteriores. Na verdade, não foi realmente Broom que encontrou o fóssil, e sim um garotinho que brincava em uma encosta.

Depois de juntar mais pedaços do sítio de Kromdraai, Broom tinha provas suficientemente convincentes de que esta espécie era, de fato, distinta do A. africanus, e ele a batizou Paranthropus robustus. Enquanto o Paranthropus não era um ancestral direto dos humanos, ele foi um primo antigo.

Mrs. Ples

Provando ser um presente que não tem pressa de acabar com as surpresas, uma década depois outro fóssil notável veio do Berço da Humanidade: Mrs. Ples. Descoberta mais uma vez por Broom, junto do colega John Robinson, Mrs. Ples é um crânio de hominídeo notavelmente completo. Inicialmente identificado como uma idosa pertencente à espécie Plesianthropus transvaalensis, o espécime foi depois classificado como um membro da mesma espécie a que pertence a Criança de Taung, A. africanus.

Mrs. Ples, que poderia, na verdade, ser do sexo masculino (ainda não há uma decisão sobre esta questão), foi um bípede com cérebro pequeno de aproximadamente 2,1 milhões de anos de idade, o que representa um dos espécimes mais jovens de A. africanus. Mais uma vez, esta descoberta deu credibilidade à teoria de que os seres humanos se originaram na África.

Little Foot

Certamente você já ouviu falar de Little Foot, mas vamos refrescar sua memória. Avançando até a década de 1990, o paleoantropólogo Ron Clarke estava ocupado organizando uma coleção de ossos de animais recolhidos nas cavernas de Sterkfontein quando se deparou com quatro que não pareciam corresponder-se com o resto. Claramente parecidos com pequenos ossos de pés humanos, Clarke reuniu uma equipe e voltou ao local da sua descoberta para encontrar o resto.

Demorou anos, mas a persistência valeu a pena. Eventualmente, o proprietário desses quatro pequenos ossos do pé foi descoberto, daí o nome “Little Foot” (“Pé pequeno”). Como Little Foot, outro australopiteco, estava tão profundamente enterrado na rocha, foram necessários 15 anos de escavação para recuperar o fóssil, mas, ao final do processo, o espécime foi representado por mais do que 90% dos seus ossos, tornando-o o mais completo ancestral humano já recuperado. Ele também pode rivalizar com a famosa Lucy quando a questão é idade.

Little Foot

Little Foot

Acredita-se que que a caverna de Sterkfontein tenha se tornado o lugar do descanso final de Little Foot depois que ele caiu por um buraco, encontrando sua morte prematura.

Fogo

Quem quer que estivesse morando em Swartkrans um milhão de anos atrás era provavelmente capaz de usar o fogo. E não só iniciar acidentalmente um incêndio e ficar pulando ao redor dele: estamos falando de usá-lo de uma maneira controlada.

Os cientistas analisaram ossos carbonizados recuperados desta região e descobriram que eles tinham sido aquecidos a temperaturas que eram alta demais para serem o resultado de um arbusto pegando fogo ou de um incêndio florestal. As temperaturas eram altas o suficiente para sugerir que as chamas vieram de alguma espécie de lareira, o que poderia sugerir que esses moradores antigos estavam cozinhando com o uso do fogo.

Embora os pesquisadores não tenham certeza de qual espécie pode ter tido essa conquista, há evidências de que certa vez Swartkrans foi habitada por duas linhagens: Homo erectus e Paranthropus robustus. Este também foi o primeiro exemplo de uma coexistência de hominídeos.

E estas são apenas algumas das descobertas mais fascinantes da área. Como um dos mais ricos sítios de fósseis hominídeos no mundo, quem sabe que outros achados impressionantes nos esperam? [IFLS]

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