Alimentos processados: os inimigos errados

Por , em 31.07.2017

No mundo da alimentação e da saúde, a palavra “processado” é praticamente um palavrão.

Publicitários, empresas e até autores costumam alertar sobre os perigos do processamento de alimentos, mas as pessoas sequer sabem o que isso realmente significa, e porque, na maioria das vezes, é uma coisa boa.

Definição

Segundo o Instituto de Tecnólogos de Alimentos dos EUA, o processamento de alimentos é simplesmente “a alteração de alimentos do estado em que são colhidos ou cultivados para melhor preservá-los e alimentar os consumidores”.

Isto pode incluir “lavar, moer, misturar, refrigerar, armazenar, aquecer, congelar, filtrar, fermentar, extrair, centrifugar, fritar, secar, concentrar, pressurizar, irradiar, colocar no micro-ondas e embalar”.

Só a partir desta explicação, já fica claro que os seres humanos começaram a processar alimentos pelo menos 790 mil anos atrás. Cozinhar carne de caça, inclusive, é mencionado pelos cientistas como um avanço inestimável para nossa evolução.

O cozimento queimou bactérias e fez a carne e os músculos mais facilmente mastigáveis e digeríveis, e é provável que graças a essa forma rudimentar de processamento que nosso cérebro cresceu tanto e se tornou tão grande.

Mecânico x químico

É claro, os “críticos” dos alimentos processados diriam que eles não se preocupam com os processados mecanicamente, apenas os processados quimicamente. Alimentos alterados em laboratório não são “alimentos naturais”, eles argumentam.

Essa diferenciação é muito simplificada. Por exemplo, o óleo de coco é tão “natural” quanto qualquer alimento hoje em dia, e é composto 82% de gordura saturada.

“Quão natural é um alimento é completamente irrelevante para o quão saudável ele é”, afirmou o Dr. Steven Novella, presidente da New England Skeptical Society. “Estamos fazendo com que as pessoas se concentrem na coisa errada, e eu acho que isso é altamente problemático”.

Stacey Nelson, gerente de nutrição clínica no Massachusetts General Hospital, afiliado à Universidade de Harvard, concorda. “Ignore o marketing na frente do pacote, e vá diretamente à lista de ingredientes”.

Lá, juntamente com a leitura dos fatos nutricionais, você pode tomar uma decisão esclarecida sobre o que colocar no seu corpo. Alimentos com alto teor de açúcar, gordura saturada e sódio, mas com baixa fibra, proteína e minerais, você provavelmente deve comer menos.

Vantagens

O processamento pode ser uma força tanto para o bem quanto para o mal da nossa saúde.

Ele nos deu batatas fritas, refrigerantes, biscoitos e toda a porcaria disponível por aí, mas também concedeu a milhões de pessoas acesso a frutas e vegetais, uma vez que a preservação e o congelamento químicos permitem que eles sejam transportados por milhares de quilômetros.

Além disso, a pasteurização significa que as pessoas já não ficam doentes por beber leite. E adicionar vitaminas e minerais a produtos como pães e cereais contribuiu incontestavelmente para a saúde de todos.

“Se o enriquecimento e a fortificação não estivessem presentes, grandes porcentagens da população teriam ingestões inadequadas de vitaminas A, C, D, E, tiamina, folato, cálcio, magnésio e ferro”, a Sociedade Americana de Nutrição declarou recentemente.

Conclusão

O processamento de alimentos não é inerentemente bom ou ruim; é uma ferramenta. Olhando para o futuro, cientistas podem criar amidos que resistem à digestão e, portanto, possuem menos calorias. Também podem alterar a estrutura do sal para dar o mesmo sabor enquanto adiciona menos sódio aos alimentos. E podem utilizar novas tecnologias como radiação ionizante, processamento de alta pressão e processamento de campo elétrico pulsado para esterilizar alimentos, mantendo os nutrientes intactos.

Infelizmente, as grandes empresas de alimentos estão bem conscientes de que os consumidores valorizam o gosto acima de tudo, e podem prontamente projetar alimentos com um sedutor coquetel de sal, gordura e açúcar – os chamados alimentos “ultraprocessados” – que contribuem muito para a obesidade.

Mas isso não significa que devemos demonizar alimentos processados. Precisamos deles; dos certos. [RealClearScience]

1 comentário

  • Luiz Arnaldo:

    Ou vocês são financiados pela indústria processadora de alimentos, ou vocês não entendem nada de alimentação. Quem é essa Natasha?

Deixe seu comentário!