Seremos Dominados Pelas Máquinas?

Por , em 9.04.2012

PARTE 2 – O ROBÔ COMO PATHOS (leia a Parte 1 – O Robô como Ameaça)

O grande ficcionista Isaac Asimov dividiu as histórias de ficção científica sobre robôs em três grandes grupos:

  1. O robô-como-ameaça: algo que pode ser resumido por “clangue clangue” e “Ah!” e “Há certas coisas que os homens não estavam destinados a saber”.
  2. O robô-como-pathos: a máquina é apenas uma ferramenta que pode ser usada tanto para o bem quanto para o mal. Nas histórias de FC os robôs desse tipo são geralmente amáveis, porém manobrados por seres humanos cruéis.
  3. O robô como produto industrial regulamentado: uma ferramenta que responde não apenas à sua programação, mas que também cumpre rigorosas normas de segurança (aquelas que, por exemplo, o impeçam de ferir ou destruir sistematicamente seu criador).

Na primeira parte de nosso artigo, publicada na semana passada discorremos sobre esse primeiro desdobramento na tentativa de responder a pergunta polêmica que vez por outra me é apresentada em palestras e seminários:

Seremos dominados pelas máquinas?

Do ponto de vista social, como dissemos anteriormente, existe uma preocupação crescente quanto ao desaparecimento do emprego, tendo em vista que historicamente se observa a substituição do trabalho humano pela automação.

Parece natural que a atividade braçal na lavoura e na indústria (só para citar esses dois exemplos) venha a ser substituída pela máquina em detrimento de todas as vantagens que esta substituição representa. É indiscutível que a necessidade tanto do aumento da produção quanto da redução dos custos (e consequente redução dos preços de seus produtos) tornam esse expediente imprescindível.

Porém o espectro do desemprego acena com suas consequências nefastas em uma matemática muito simples. Quando o trabalho realizado por dezenas de homens (e em alguns casos centenas) passa a ser realizado por apenas um homem — aquele que pilota a máquina, por exemplo — o que será feito desses 9 ou 99 desempregados?

Alguém há de contrapor que devemos capacitar esses trabalhadores para a realização de tarefas “menos braçais” e deixar que a máquina realize todo o trabalho pesado.

No entanto, quando as atividades “menos braçais” começam a ser perscrutadas pelos analistas de inteligência artificial (IA) e sistemas assistidos por computador principiam a execução com eficiência de muitas tarefas notadamente humanas, o imaginário popular novamente se inflama. Em países desenvolvidos muitos empregos já desapareceram — como é o caso dos cargos de “escriturário” e “caixa de banco” tendo em vista a criação de sistemas automatizados como “portais de serviços na internet” e “caixas eletrônicos”.

Num cenário pessimista muitos analistas projetam um futuro onde boa parte dos empregos desaparece, pois estas atividades serão executadas por máquinas.

Parece que o modelo “robô-como-pathos” se aplica de forma sutil neste cenário pós-moderno, apresentando o robô, ou a máquina de modo geral, como personagem útil e servil. Em primeira instância a máquina é uma mera ferramenta de uma artimanha cruel onde o grande capitalista assume o papel do vilão, que além de escravizá-la, reduz a maioria da população àquela massa subjugada de desempregados cuja mão de obra de reserva serve para puxar para baixo os valores dos salários (aqueles que o vilão ainda se obriga a pagar) e com isso aumentar mais e mais seus lucros.

Essa tese defendida por alguns teóricos da conspiração pode ser facilmente rebatida pela simples avaliação da economia de mercado. Em primeiro lugar, se o elo mais fraco da corrente produção-consumo for o salário, uma população sem poder aquisitivo fará com que boa parte dos produtos sobre nas prateleiras. Se não houver venda não haverá lucro.

É lógico intuir que a política do “ganha-ganha” é muito mais sustentável. Uma economia na qual o trabalho seja valorizado de tal forma que o trabalhador possa, com seu salário, usufruir dos bens de consumo oferecido pela sociedade, faz com que a riqueza circule e os lucros aumentem pela demanda e não pela especulação. Pode parecer utópico, mas isso já acontece em muitos países.

E onde entra a máquina nesta equação?

Como instrumento do aumento da produção e da redução dos custos. Além é claro de contribuir para a melhoria das condições de trabalho.

E o desemprego?

A palavra chave é a humanização. Não apenas para o mundo do trabalho. Mas também para esse novo mundo que se inicia. O mundo da informação e da interconexão.

O mundo onde o fator humano será o primordial, onde reinará a criatividade e a capacidade do ser humano em viver sua humanidade.

Mesmo na minha área principal de atuação que é a educação, já fui questionado várias vezes por desenvolver ambientes de ensino e aprendizagem assistidos por computador usando recursos da inteligência artificial.

Um colega professor me questionou se aquilo que eu desenvolvia não iria contribuir para a extinção da profissão de professor. Afinal um recurso multimídia capta melhor a atenção dos alunos e oferece estratégias extremamente eficazes — tornando as aulas muito mais produtivas.

Em sua forma de pensar, meu trabalho na criação de softwares educacionais contribuiria para que num futuro não muito distante os professores se tornassem obsoletos e fossem substituídos por computadores.

Eu devolvi a pergunta:

— Será que um professor que realiza um trabalho repetitivo, impessoal e automatizado não merece ser substituído por um computador?

Um robô que toca violino não substitui o artista. Um violinista de verdade não pode ser definido apenas pelo conjunto de suas habilidades técnicas. Ele toca seu instrumento também com o coração.

A meu ver, o ser humano que estiver cultivando em si mesmo todas as qualidades que o definem como tal nunca será substituído por uma máquina.

Afinal, nas palavras da poetisa Helena Kolody – um computador é incapaz de programar ternura.

[Foto por Tucia]

LEIA SOBRE O LIVRO A COR DA TEMPESTADE do autor deste artigo

Navegando entre a literatura fantástica e a ficção especulativa Mustafá Ali Kanso, nesse seu novo livro “A Cor da Tempestade” premia o leitor com contos vigorosos onde o elemento de suspense e os finais surpreendentes concorrem com a linguagem poética repleta de lirismo que, ao mesmo tempo que encanta, comove.

Seus contos “Herdeiros dos Ventos” e “Uma carta para Guinevere” juntamente com obras de Lygia Fagundes Telles foram, em 2010, tópicos de abordagem literária do tema “Love and its Disorders” no “4th International Congress of Fundamental Psychopathology.”

Foi premiado com o primeiro lugar no Concurso Nacional de Contos da Scarium Megazine (Rio de Janeiro, 2004) pelo conto Propriedade Intelectual e com o sexto lugar pelo conto Singularis Verita.

12 comentários

  • Jean P. Carvalho:

    “…Seremos Dominados Pelas Máquinas?…”

    Ué, nós já não somos???

    • aguiarubra:

      Somos, sim! Mas AINDA podemos desligá-las e substituí-las, caso nos façam mal!

  • Alberto Campos:

    Me desculpem os “contras”, mas as máquinas vencerão. É claro que é a minha opinião. Talvez no princípio os humanos seriam os comandantes dos robos, mas com o passar dos tempos as máquinas dominarão. Já sabemos que para dominar um um planeta distante, precisamos dos robos. Eles ainda não estão suficientemente aparfeiçoados, mas é o que aguenta as viagens espaciais e auentará uma permanecia eterna em mundos frios e quentes demais.

  • aguiarubra:

    P.: “…Seremos Dominados Pelas Máquinas?…”

    Resp.: dominar os seres humanos, prá quê? Isso é inútil! Para máquinas suficientemente desenvolvidas, é muito mais eficiente deixar os seres humanos entregues a própria sorte, pela total obsolecencia face aos artefatos dotados de I.A.

  • Tiago André Kuhn:

    sinceramente, acho que podemos sim ser substituidos por máquinas e que elas podem sim nos dominar se forem programadas pra isso ou se tiverem inteligencia artificial o suficiente, afinal, somos apenas maquinas orgânicas altamente sofisticadas, nossos sentimentos e sensações são só alarmes físicos para coisas importantes, e podem muito bem ser simulados, fazendo com que um computador tenha sensações e reações semelhantes às nossas, hoje ainda não é possível, porém no futuro, não duvido dessa possibilidade.

  • Celso:

    Somos máquinas biomecânicas integradas a computadores hoje mesmo.

  • João da cruz vieira leite:

    HUUUUUUrrrrrr´´á, é o que mais esta faltando , temos carentes de rrÔbos patriotas para controle das repart~ções pulblicas e na seguranças em todo mundo, empregando os e dando cargos soberano co poder de policiamento e todos os quezitos de comando.
    Precisamos de rrôbos para subistituir o homen em todo campo expacial em pesquisa de campo em todo nosso sistema planet-atrio, porque porinquanto sucubiremos lá.
    Acredito piamente que com estes padrãões de rrôbotização vamos ivoluir muito em todo campo do saber, revocionaremos todo perfi de saber que levaamos milhres de anos para concrétizar, agora se evoluirmos,o que estamos bem atrasados com esta máteria, so falamos sesta máquina revolucionaria e nada hezecutamos com elas, até agora só vejo esta descorberta, em função doméstica, e poucas e faceis taréfas, que os empenhão, ainda não vi nenhuma fabrica em produção em series deste manufaturados que tanto necessitamos, ***MMMAAAOOOSSS aa OoBRAAA famos.

  • Hèber Lemes:

    HAHA massa, o mustafá da aula pra mim la no unificado, só de ler esse artigo da para imaginar que o livro dele deve ser mto bom.

  • D. R.:

    Artigo SUPERINTERESSANTE!

    Na minha opinião, enquanto as máquinas inteligentes não puderem se auto-replicar, ainda estaremos de certa forma seguros.

    Agora, acredito que o que realmente causará um grande impacto na economia, num futuro próximo, será aquilo que alguns já estão chamando de a Nova Revolução Industrial: A IMPRESSÃO DE OBJETOS 3D.

    Tudo no mundo está sendo digitalizado, tudo está virando informação (música, filmes, livros, etc. e agora até objetos); e a informação está ficando cada vez mais barata e acessível.

    Futuramente, não apenas protótipos de plástico poderão ser impressos, mas qualquer material; talvez, até uma casa, carro ou avião completo e, quem sabe, até mesmo alimentos ou órgãos humanos (na verdade, já estão conseguindo imprimir até partes de ossos)! E isso terá consequências avassaladoras para a a indústria e, consequentemente, para o emprego.

    Por um lado, isso será muito bom para a humanidade em geral, pois os produtos serão muito mais acessíveis e baratos. Porém, o setor industrial será muito afetado, assim com o setor comercial está sendo cada vez mais afetado pelo comércio online.

    Com certeza, precisaremos de um novo modelo econômico alternativo ao capitalismo atual. No entanto, devemos lembrar que o mais importante para a economia não é o emprego e sim o consumo. Por exemplo, se os governos repassarem os impostos para os consumidores (na forma de um seguro desemprego sem prazo de validade), eles continuarão consumindo e fazendo girar a ‘engrenagem’ da economia.

  • carlos lette:

    Medo das Máquinas? Eu não tenho. Será uma Época de Ouro da Humanidade,pois os trabalhos pesados, sujos ,repetitivos serão feitos por eles,sobrando ao ser humano,os realmente interessantes e produtivos
    Trabalho doméstico,p.ex,é uma coisa absolutamente chata e repetitiva.Imagine termos um robo doméstico fazendo todas as tarefas, liberando as mulheres e homens para outras coisas.
    E,os robôs serão para todo tipo de serviço.Exploração espacial,ir aos outros planetas ou sistemas,sem riscos para humanos,robôs de companhia para idosos ou acamados quanta coisa maravilhosa virá com a vinda dessas máquinas.
    Só posso dizer:Bem Vindos!

    • G.Holmes:

      Eu concordo com tudo…esse desenvolvimento das máquinas abre um precedente pra uma libertação cultural do Ser Humano…com máquinas fazendo tarefas pesadas e repetitivas, as pessoas terão mais tempo para se qualificar e especializar-se em outras atividades mais interessantes…e isso é bom pra todo mundo.

      A única coisa que me preocupa…é uma provável “Skynet”, e antes que digam que é improvável, já existem estudos sendo feitos sobre Computação Semântica, que possibilitaria desenvolver uma espécie de “Criatividade Artificial”.

      Isso me preocupa pelo simples fato de termos máquinas capazes de pensar, criar, questionar e desprovidas de qualquer tipo de sentimento e valores morais.

  • eu:

    nossa,muito interesante (:p)

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