Simpatias para o ano-novo

Por , em 31.12.2016

O termo simpatia tem origem no vocábulo grego sympátheia, e traduz “afinidade ou correspondência entre dois ou mais corpos, pelas propriedades que os aproximam”.

Quando se referindo ao sentimento de simpatia podemos conceituar a “atração entre duas pessoas, pela analogia ou conformidade de propensões e sentimentos que as caracterizam ou tendência natural de atração de uma pessoa para com outra”.

Quanto ao seu significado místico podemos conceituar como sendo “modalidade de superstição que procura, na magia e na feitiçaria, meios para afastar certos males ou conseguir determinado bem com o emprego de rezas, sinais cabalísticos, signos místicos, rituais, receitas e/ou preceitos”.

O próprio termo magia aponta para a “arte em que se pretende empregar conscientemente poderes invisíveis e sobrenaturais para obter efeitos visíveis”.

Segundo o célebre mago Eliphas Lèvy, um dos pilares da alta magia está fundamentado no denominado “Princípio Simpático” ou “Princípio da Correspondência”, no qual se encontra em agentes ou eventos isolados uma relação de causa e efeito não necessariamente interligados racionalmente.

Como primeiro exemplo, podemos citar a tradição de se preparar para a ceia de Réveillon pratos contendo lentilhas, para trazer sorte financeira.

Dois princípios simpáticos regem a tradição: a semelhança das lentilhas ao formato das moedas e também ao fato de que poucas lentilhas cruas rendem uma panela cheia depois de cozidas – querendo significar aí o aumento dos recursos financeiros por uma relação simpática com “o aumento” da quantidade do alimento na panela durante seu cozimento.

Outro exemplo, também relacionado ao cardápio, é a tradição arraigada no Brasil de que o prato principal da ceia de Réveillon deverá ser sempre o leitão assado, pois o porco fuça para frente. Desaconselhando, portanto, o caranguejo que anda para trás, e as aves como galinha, peru, etc. que ciscam para trás.

E por aí vai.

Um colega químico, cujo ceticismo é tão grande quanto seu bom humor, criou uma série de “simpatias” não tão mágicas assim. Por exemplo, para evitar que seu carro fosse roubado ele aplicou o ritual de sempre pagar o seguro em dia e guardá-lo em um estacionamento.

Para ter prosperidade no ano-novo ele criou uma série de novas simpatias que realmente funcionam:

  •  Sempre incrementar sua poupança com parte de seu décimo terceiro salário;
  •  Nunca gastar mais do que ganha;
  •  Investir parte de seu salário e de seu tempo em cursos de aprimoramento pessoal e profissional;
  •  Manter-se bem informado;
  •  Trabalhar com entusiasmo, esmero e pontualidade;
  • Sempre assumir uma atitude positiva perante a vida.

Posso garantir, caro leitor, que funciona! A cada ano ele está mais próspero!

E como mensagem de um final de ano, já que a Terra irá iniciar mais um ciclo em sua órbita solar, gostaria de concluir essa hipercrônica com a singela, repetitiva e pouco imaginativa fábula do:

Cavaleiro do Ciclo Vicioso

Antigamente as mensagens postais eram transportadas por cavaleiros que atravessavam as florestas a galope em grande velocidade. Em suas idas e vindas faziam a mesma trilha diversas vezes por semana, anos a fio, em meio a frondosas árvores.

Um destes cavaleiros, o protagonista de nossa história, ao chegar a determinado trecho do bosque teve uma inquietação:

– Há algo nesta trilha que é importante recordar. Mas o que será?

Enquanto estava imerso nestas divagações, distraiu-se do caminho e não viu o galho mais baixo que o derrubou do cavalo.

No chão, se recordou tristemente que já caíra do cavalo por diversas vezes naquele mesmo trecho e pela mesma razão.

A moral da história deixo por conta do querido leitor.

Um ótimo ano-novo de novo!

E que o leitor, nesse novo ciclo que se inicia, nunca caia do mesmo cavalo no mesmo trecho do mesmo caminho pela mesma razão.

-o-

[Imagem Fireworks by Bayasaa]

 

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LEIA SOBRE O LIVRO A COR DA TEMPESTADE do autor deste artigo

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Navegando entre a literatura fantástica e a ficção especulativa Mustafá Ali Kanso, nesse seu novo livro “A Cor da Tempestade” premia o leitor com contos vigorosos onde o elemento de suspense e os finais surpreendentes concorrem com a linguagem poética repleta de lirismo que, ao mesmo tempo que encanta, comove.

Seus contos “Herdeiros dos Ventos” e “Uma carta para Guinevere” foram, em 2010, tópicos de abordagem literária do tema “Love and its Disorders” no “4th International Congress of Fundamental Psychopathology.”

Foi premiado com o primeiro lugar no Concurso Nacional de Contos da Scarium Megazine (Rio de Janeiro, 2004) pelo conto Propriedade Intelectual e com o sexto lugar pelo conto Singularis Verita.

2 comentários

  • Dinho01:

    “No creo en las brujas,pero que las hay,las hay.”

  • jodeja:

    Há supertições, encantamentos, coincidencias, crendices e outras coisas mais, mas o melhor mesmo é usar a humildade, a boa vontade com todo mundo, desejando bem a todos e sempre procurando aprender mais, pois só o conhecimento é que pode nos tirar da ignorância.
    Agora, Quando o homem estiver mais evoluído não precisará tirar a vida de nenhum outro animal pata festejar o natal e ano novo.

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