Sopa cerebral de pesquisadora brasileira exibe nosso poder cognitivo

Por , em 17.06.2013

A neurocientista Suzana Herculano-Houzel, do Laboratório de Neuroanatomia Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro, se tornou a primeira brasileira a dar uma palestra na Conferência TEDGlobal, em Edimburgo, na última semana.

Em sua palestra, ela explicou como criou uma forma de comparar o número de neurônios em cérebros de diferentes animais, usando o que ela chama de “sopa cerebral”.

Durante décadas, os cientistas disseram que o cérebro humano continha 100 bilhões de neurônios. No entanto, quando Suzana procurou a origem deste número frequentemente citado, não encontrou nada. Sendo assim, ela decidiu contar por si mesma.

Segundo Suzana, o cérebro humano não tem nada de especial, não utiliza qualquer “nível especial de energia”, e tem “o número de neurônios que você esperaria”.

Seu método de dissolução das membranas celulares para fazer uma sopa, usando simples detergente, destrói as membranas das células, mas deixa os núcleos intactos. Isso permite que pesquisadores contem facilmente as células cerebrais através de um microscópio. As sopas cerebrais estudadas por Suzana foram preparadas a partir de cérebros doados.

A brasileira concluiu que o cérebro humano tem 86 bilhões de neurônios. Como os nossos cérebros são os maiores entre os primatas, temos o maior número de neurônios.

E a diferença de 14 bilhões de neurônios importa, em relação ao que pensávamos da nossa capacidade cerebral?

Durante muito tempo, os cientistas acharam que todos os cérebros de mamíferos eram feitos dos mesmos materiais. Mas se isso fosse verdade, mamíferos com cérebros maiores seriam os mais cognitivamente capazes. Isso não ocorre.

Além disso, o cérebro humano revela algumas curiosidades. Por exemplo, temos um córtex cerebral maior do que nós deveríamos ter, dado o tamanho do nosso corpo. Enquanto isso, nosso cérebro usa uma quantidade enorme de energia. Enquanto ele representa 2% do nosso corpo, utiliza 25% das calorias diárias para funcionar.

Isso nos traz de volta a descoberta de Herculano-Houzel de que, na verdade, o cérebro humano contém 86 bilhões de neurônios. Ao fazer comparações com o cérebro de outros animais, ela descobriu que os cérebros humanos são proporcionais em termos do número de neurônios e uso de energia a outros cérebros de primatas – eles são apenas maiores.

Resta a pergunta: por que nós temos um cérebro maior do que um grande macaco que tem um corpo muito maior? A resposta se resume ao custo de energia extrema do cérebro dos primatas.

Parece haver algum tipo de “troca evolutiva” entre o tamanho do cérebro e o tamanho do corpo – há uma limitação metabólica, e primatas podem apenas consumir calorias suficientes para suportar um ou o outro – exceto humanos, que podem suportar ambos.
Como? O que nos permitiu ultrapassar esta limitação e apoiar este grande cérebro?

A resposta é simples: nós cozinhamos. Esta teoria, já discutida no Hype antes, diz que, essencialmente, cozinhar (o ato de usar o fogo para pré-digerir os alimentos) nos ajuda a obter mais energia a partir da mesma quantidade de comida.

Cozinhar os alimentos rende três vezes mais calorias. Nosso córtex cerebral é especialmente denso, contendo 16 bilhões de neurônios. Cozinhar foi a chave para apoiar esta grande córtex, que por sua vez suporta o pensamento complexo.

Ou seja, em resumo, Suzana acredita que o grande tamanho de nossos cérebros e suas capacidades cognitivas notáveis se devem ao fato de que nós cozinhamos nossa comida, permitindo que a energia seja melhor digerida e absorvida, em muito menos tempo.[BBC, TED]

9 comentários

  • ¯(°_o)/¯:

    O que efetivamente importa não é o número de neurônios mas sim o número de conexões sinápticas que eles realizam!

  • Dorival Franco:

    Macacos domésticos alimentados por gerações seguidas com alimentos cozidos tornam-se mais inteligentes?

  • Dorival Franco:

    Agora a pergunta é: o Homo Sapiens se tornou mais inteligente do que os outros primatas por que começou cozinhar, ou começou cozinhar por que se tornou mais inteligente do que os outros primatas?

  • Diogo Cavaleira:

    entao se ensinarem primatas a cozinhar iremos notar uma evolução nos seus cerebros?

  • renarruda:

    Eu me pergunto tb, no caso dos japoneses que ingerem muito alimento crú.. como fica?

    • Muriel Choshi:

      wowowowowow…peixe/carne crua no Japão é ocasional rapazinho, não é comida do tipo regular (arroz, feijão, pão, bife, verduras, frutas, etc…coisa que se tem a mesa no cotidiano). Rs! O japonês consome peixe cru em porções pequenas (quando consome) e em ocasiões bem especiais. Diferente da gente, que bota um tolete de carne na brasa e come por uma tarde inteira! Não rola de encher a barriga de peixe cru não, humanamente impossível até pra japoneses!

  • JOTAGAR:

    Falta agora explicar porque fomos os unicos primatas a ter esta “sacada”…além de nossa aparência incomum em relação aos nossos parentes simios.

    • Wilson Lima:

      Ja foi explicado por Richard Dawkins em O Gene Egoísta. Ainda tem muitas outras bibliografias que abordam o assunto.

  • andre_tohuin:

    Seguindo essa linha de raciocínio uma nutrição com nutrientes 100% absorvíveis injetados direto na corrente sanguínea poderia nos levar a outro patamar de desenvolvimento.

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