Tetracromatismo permite que essa artista veja 100 milhões de cores

Por , em 20.10.2014

Azul esverdeado ou verde azulado? Vermelho alaranjado ou laranja avermelhado?

Essas são algumas questões que, dependendo dos envolvidos, geram mais debate do que a milenar questão sobre o sexo dos anjos. A teimosia alheia é sempre muito divertida e até complicada, porque a nossa fisiologia abre precedentes para discutirmos se as pessoas percebem ou não as cores da mesma maneira.

Mas se isso já é complicado o suficiente quando estamos entre indivíduos com percepção de cor normal, imagina quantas saideiras seriam necessárias para levar essa questão adiante com pessoas que têm um alcance visual acima da média.

Tetracromatismo

O olho humano contém milhões de células em forma de cone que permitem que cor seja percebida. Para aqueles com visão normal, que são a grande maioria das pessoas, os três tipos de cones que temos nos olhos permitem a percepção de cerca de um milhão de cores distintas. Algumas espécies de animais, incluindo certas aves, insetos, peixes e répteis, têm um quarto tipo de célula cone em seus olhos, o que estende sua percepção de cores para a faixa UV.

Embora a evolução tenha praticamente liquidado esse quarto tipo de cone da linhagem dos mamíferos, existem evidências de que um pequeno grupo de pessoas podem ter uma variação genética que os deixa ver mais que os olhos normais. Essa vantagem genética é o que os cientistas chamam de tetracromatismo.

Um exemplo de pessoa tetracromata é Concetta Antico, uma artista australiana que teve seu diagnóstico comprovado em 2012. Antico, que agora vive na Califórnia (nos Estados Unidos), é uma impressionista que usa essa vantagem evolutiva do tetracromatismo para acrescentar toques de cor em suas obras. Isso reflete a forma como ela vê o mundo: segunda ela, mesmo se um objeto for monocromático, ela consegue ver uma variedade de outras cores nele, formando uma espécie de mosaico.

A biologia do tetracromatismo

Para que essa característica se manifeste, é necessário que ocorra uma variação genética duplicada no cromossomo X, onde estão os genes responsáveis pelos cones vermelhos e verdes. Então, como os homens só têm um cromossomo X, presume-se que apenas as mulheres têm chances de ser tetracromatas.

Por outro lado, também é por isso que os homens são mais propensos a ser daltônicos do que as mulheres. Os homens não têm para onde correr no caso de receber uma cópia defeituosa desses genes. Já as mulheres, por outro lado, para serem daltônicas, teriam que herdar duas cópias de código genético para o daltonismo – o que é extremamente improvável de acontecer.

Tetracromatismo 2

Uma curiosidade

Mesmo que os olhos dos tetracromatas sejam capazes de interpretar uma gama muito mais ampla do espectro de cores eletromagnético, a maior parte da visão realmente acontece no cérebro. O olho capta informações e as envia para que órgão as processe. O curioso é que esse sistema de processamento de informações é basicamente o mesmo entre tetracromatas e pessoas com visão normal, embora haja evidências de que um treinamento focado possa permitir que essa percepção seja sensivelmente aumentada.

Talvez por isso, além de ter essa vantagem genética, o fato de que Antico treinou e aguçou sua percepção do mundo como um artista pode ter contribuído para que ela perceba uma gama maior de cores. É claro que essa condição em seres humanos é muito rara e pouco estudada, então é difícil saber seu potencial sem identificar e estudar mais tetracromatas.

Como descobrir se uma pessoa é tetracromata?

Testes para descobrir o tetracromatismo em pessoas podem ser um pouco difíceis, pois a maioria é baseado na visão considerada “normal”. O método mais garantido de diagnosticar a condição é fazendo uma análise genética. Em Antico, essa análise mostrou que ela de fato tem mutações que permitem um quarto tipo de célula cone.

Para ajudar os pesquisadores a entenderem melhor essa condição, a artista tem colaborado com uma equipe de cientistas que tenta desvendar os mistérios do tetracromatismo humano. Ao entender mais sobre como as vias neurais envolvidas com a percepção das cores podem ser treinadas, o estudo pode ser capaz de descobrir um caminho para que todas as pessoas aumentem a quantidade de cores que enxergam.[iflscience]

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