Transtorno obsessivo compulsivo é comum em mães de primeira viagem
A cena não é estranha: uma nova mamãe verificando repetidamente a respiração de seu recém-nascido, limpando sua mamadeira ou chupeta compulsivamente por causa de germes, etc.
Se você acha que essas atitudes são completamente loucas, não é bem por aí. Um novo estudo da Universidade Northwestern (EUA) sugere que esses pensamentos e comportamentos são mais comuns do que pensávamos.
Os resultados da pesquisa mostram que cerca de 11% das mães experimentam sintomas temporários de transtorno obsessivo compulsivo (TOC) durante alguns meses após o parto.
Pode parecer pouco, mas é um número muito maior do que os 2 a 3% de pessoas que experimentam sintomas de TOC na população em geral.
TOC pós-parto: normal ou perigoso?
Sintomas de TOC incluem pensamentos repetidos e indesejados (obsessões) que criam ansiedade, bem como comportamentos ritualísticos que tentam afastar esses pensamentos (compulsões).
Por exemplo, uma mãe pode repetidamente se preocupar com germes e esterilizar as mamadeiras de seu bebê. Ou ela pode se preocupar que o bebê não está seguro em seu berço, e verificar repetidamente para ver se ele está travado corretamente.
O quanto estes pensamentos e comportamentos são “normais”, ou se “cruzam a linha” para algo nocivo, ainda não está totalmente claro.
Segundo a Dra. Dana Gossett, professora de obstetrícia e ginecologia da Universidade, é adequado para uma mãe se preocupar com a segurança e a saúde de seu bebê. No entanto, se esses pensamentos e comportamentos forem angustiantes demais para a mulher, e interferirem com sua habilidade de cuidar de si mesma e de seu bebê, podem representar perigo à saúde.
Por exemplo, uma mãe se preocupar tanto com o seu bebê durante a noite que acaba não dormindo nenhum pouco, ou verificar o assento da criança no carro tantas vezes antes de dirigir que não sai de casa, são casos em que o comportamento cruza a linha da patologia, explica Gossett.
“Pode ser que certos tipos de obsessões e compulsões sejam adaptáveis e apropriadas para uma nova mãe, por exemplo, as com limpeza e higiene”, disse Gossett. “Mas quando interferem com seu funcionamento do dia-a-dia ou com o atendimento adequado para o bebê, tornam-se mal adaptativos e patológicos”.
A pesquisa
Estudos anteriores já haviam sugerido que mulheres experimentam sintomas de TOC durante o período pós-parto.
Porém, a maioria desses estudos pediu às mulheres para lembrar quais foram seus pensamentos e comportamentos durante os meses depois que deram à luz. Esse método não é confiável porque elas podem não se lembrar corretamente do que sentiram.
O novo estudo, por sua vez, acompanhou as mulheres a partir do momento em que deram à luz no hospital até seus bebês completarem seis meses de idade, pedindo às novas mamães que preenchessem uma pesquisa que avaliava seus sintomas do TOC.
Duas semanas após o parto, 51 das 461 mulheres no estudo relataram ter sintomas de TOC. Depois de seis meses (quando menos mulheres responderam à pesquisa), 35 das 329 participantes relataram sintomas.
Cerca de metade das mulheres que relataram sintomas com duas semanas haviam melhorado aos seis meses. Mas algumas mulheres tinham apenas começado a sentir os sintomas de TOC aos seis meses.
“Se os sintomas se desenvolvem mais tarde após o parto, é menos provável de ser hormonal ou adaptativo”, explica Gossett. “O risco para distúrbios psicológicos persiste por até um ano após o parto”.
Causas e dúvidas
Segundo os pesquisadores, estresse é um fator desencadeador de TOC conhecido, por isso é possível que o estresse da gravidez e de ter que cuidar de um bebê possa predispor as mulheres à condição.
Os níveis hormonais antes e após a gravidez e as mudanças no cérebro após o parto também podem contribuir para os sintomas.
Por fim, como as participantes não foram entrevistadas por um psiquiatra profissional, é possível que algumas já tivessem experimentado TOC antes do parto, mas não sabiam que tinham a doença. Cerca de 0,4% delas relataram ter sido diagnosticadas com TOC por um médico antes de dar à luz.
Cerca de 70% das mulheres que tiveram diagnóstico positivo para sintomas obsessivo-compulsivos também eram propensas à depressão.
Essa sobreposição e o subconjunto único de obsessões e compulsões podem indicar que o TOC pós-parto representa uma doença mental pós-parto distinta que ainda não é bem classificada.
“Há algum debate sobre se a depressão pós-parto é simplesmente um episódio depressivo maior que acontece após o nascimento, ou uma doença própria, com suas características próprias”, disse Emily Miller, principal autora da pesquisa. “Nosso estudo apoia a ideia de que pode ser uma doença própria, com sintomas mais de ansiedade e transtorno obsessivo compulsivo do que seria típico em um episódio depressivo maior”.
O estudo envolveu principalmente mulheres com ensino superior que ganhavam mais de US$ 100.000 (cerca de R$ 200.000) por ano, por isso os resultados podem não se aplicar às mulheres de outros grupos socioeconômicos.
O trabalho científico foi publicado na edição de março/abril do The Journal of Reproductive Medicine.[LiveScience, ScienceDaily]