Vacinas personalizadas somem com câncer em estudo piloto

Por , em 6.07.2017
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Um estudo piloto levantou esperanças de que vacinas personalizadas contra o câncer possam ser mais seguras e mais eficazes em relação às imunoterapias, já em uso ou em estágio avançado de desenvolvimento. Em um artigo publicado no site da Nature, cientistas relataram que todos os seus seis pacientes com melanoma, que receberam uma vacina experimental e customizada, apresentaram melhoras: seus tumores não retornaram após o tratamento.

Pesquisadores que não participaram do estudo elogiaram os resultados.”Os cientistas fizeram um belo trabalho”, disse Greg Lizee, especialista em imunologia tumoral do Anderson Cancer Center. “Os resultados são muito encorajadores”, completou. Mas, como o estudo não incluiu um grupo para compará-los a pacientes que receberam o tratamento padrão e não a vacina, ele advertiu: “Ainda não está comprovado que a falta de recorrência do câncer se deva à vacina”.

Procedimento científico

As primeiras imunoterapias contra o câncer utilizaram medicamentos como pembrolizumab (Keytruda) e ipilimumab (Yervoy), que atuam para que moléculas de bloqueio a células imunes não ataquem um tumor. Essa, porém, é uma estratégia efetiva somente se alguma das células tentar alcançá-lo; caso contrário, limpar o caminho para algo que não está em lugar algum e não pode ser encontrado não ajuda em nada. Essa é a razão pela qual remédios de imunoterapia só ajudam em uma pequena parte dos casos de câncer; para muitos tipos de tumores, eles não funcionam enquanto tratamento.

Espera-se que a próxima geração de imunoterapias contra o câncer sejam constituídas de células vivas. Chamadas de células T de receptor de antígeno quimérico (ou CAR-T, na sigla em inglês), elas são geneticamente modificadas para equilibrar uma molécula que lhes permite agarrar uma molécula correspondente numa célula tumoral e matá-la. Mas essas células CAR-T podem incitar tamanho descontrole na imunidade que acabaram por tirar a vida de pacientes em ensaios clínicos. E, embora seja possível englobá-las de modo que se conectem a mais de uma molécula correspondente, ou antígeno, a maioria dos CAR-Ts em desenvolvimento almeja apenas uma. Como resultado, se as células tumorais descartarem esse antigênico, elas poderiam ser capazes de desviar das células CAR-T.

Alternativas para as limitações

As deficiências de drogas imunomedicinais e CAR-Ts têm persuadido alguns cientistas a buscar um melhor caminho. Isso os levou a estudar vacinas neoantigênicas, que são criadas por células tumorais e sequenciam seu DNA. Depois, os cientistas buscaram por mutações no DNA do tumor que não existem em células saudáveis. Eles usam algoritmos para identificar quais mutações produzem antígenos (as moléculas da superfície) mais propensos a ser agarrados por células imunes, e que carregam a vacina com partes dos antígenos, denominados de peptídeos longos.

No estudo piloto, cientistas liderados pela Dra. Catherine Wu, do Dana-Farber Cancer Institute, em Boston, embalaram milhões de cópias de 13 a 20 péptidos diferentes em uma vacina. O número dependeu de quantos antígenos susceptíveis de atrair as células T que o tumor do paciente possuísse.

Embora, na teoria, o sistema imunológico atacaria esses antígenos sem ajuda externa, na realidade isso não ocorre. Mas inundar o corpo com péptidos semelhantes a antígenos estimulou o sistema imunológico a produzir células T que produzem enxames de células tumorais como zangões irritados.

Os pacientes receberam cinco doses no primeiro mês e doses de reforço entre 12 e 20 semanas. A estratégia de seleção de antígenos em células tumorais, não em células saudáveis, pareceu funcionar: as células T não atacaram células saudáveis. Os efeitos colaterais incluíram sintomas semelhantes à gripe, vermelhidão no local da injeção, erupção cutânea e fadiga.

Após dois anos, quatro pacientes, cujo melanoma se espalhou para os gânglios linfáticos (em estágio IIIB / C) antes de serem vacinados, estavam livres do câncer. Em dois pacientes cujo melanoma se espalhou para os pulmões (estágio IVM1b), os tumores retornaram, mas, após o tratamento seguinte com Keytruda, o câncer não foi detectado.

Dois anos depois, o sangue dos pacientes ainda carregava células T antimelanoma, sugerindo que os benefícios da vacina resistiram em seus organismos. “A especificidade das células T foi mantida”, disse Wu.

“Seis pacientes não são um número grande o suficiente para declarar vitória; às vezes, o melanoma retorna por conta própria”, afirmou Lizee. Além disso, dois pacientes inicialmente inscritos no estudo tinham tumores com tão poucas mutações que não era possível elaborar uma vacina para eles. Isso sugere que nem todo paciente com câncer pode ter a chance de se beneficiar de uma vacina neoantigênica.

“Os resultados apresentados pelos outros pacientes foram, no entanto, encorajadores o suficiente para justificar um ensaio clínico mais abrangente e profundo”, justificou em um documento que acompanha o trabalho o Dr. Cornelius Melief, do Centro Médico da Universidade de Leiden, na Holanda. “Esse estudo deve ser conduzido em qualquer tipo de câncer que tenha mutações o bastante para fornecer alvos de neoantigênicos em número suficiente”, escreveu ele.

Sequência das pesquisas

A Neon Therapeutics, uma empresa localizada em Cambridge, fundada em 2015 por Wu e alguns de seus co-autores, está executando um ensaio clínico maior da vacina neoantigênica NEO-PV-01, usada no estudo de melanoma e em casos de câncer de bexiga e pulmão. Com US$ 125 milhões de investidores privados, inclusive da Third Rock Ventures, a empresa “está bem financiada para concluir esse trabalho”, disse um porta-voz.

Muitos co-autores também são funcionários ou conselheiros da Neon e apresentaram patentes sobre diferentes elementos das vacinas neoantigênicas. Dana-Farber está realizando ensaios clínicos independentes em vacinas neoantigênicas contra glioblastoma (câncer cerebral) e câncer de ovário, dentre outros.

A produção de uma vacina neoantigênica para um único paciente, incluindo o sequenciamento e a análise do DNA do tumor, deverá custar cerca de US$ 60.000, o que significa que a vacina provavelmente terá um preço alto. Wu, porém, disse que está otimista: à medida que os custos de sequenciação de DNA e produção de antígenos caírem, os custos globais também cairão. Se alguns pacientes também solicitarem remédios como o Keytruda, isso acrescentaria mais U$ 150.000 por um ano de tratamento. [StatNews]

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