Vespa zumbifica joaninha usando vírus como arma biológica

Por , em 16.02.2015

Um novo estudo descobriu que uma pequena vespa parasita injeta um vírus em joaninhas que as transforma em zumbis guarda-costas para seus filhotes.

A descoberta da arma biológica secreta da Dinocampus coccinellae e seu efeito bizarro na joaninha Coleomegilla maculata revela uma nova e desonesta estratégia de “controle da mente” usada por parasitas. É o “Resident Evil” da vida real.

O vírus paralisante da D. coccinellae (abreviado em inglês para DcPV), depois de ser injetado na joaninha, juntamente com o ovo da vespa, se replica dentro da crescente larva, que se alimenta dos fluidos do inseto. Então, quando ela está pronta para emergir e virar pupa, o vírus infecta a joaninha, causando paralisia, explica Nolwenn Dheilly, bióloga da Stony Brook University, em Nova York.

Embora a equipe de estudo só tenha conseguido detectar o vírus no cérebro da joaninha, os cientistas acreditam que ele é capaz de infectar todo o sistema nervoso. A pesquisa foi publicada na revista “Proceedings Journal of the Royal Society B”.

Guarda permanente

Após a imobilização, a joaninha fica de guarda sobre o casulo de seda que seu antigo hóspede indesejável gerou sob ela. Como joaninhas são predadoras e contém fluidos tóxicos, são ótimos guarda-costas. O vírus ainda pode melhorar o efeito intimidador do inseto, fazendo com que se contorça.

Dheilly, que conduziu sua pesquisa na Universidade de Perpignan, na França, acredita que o vírus é responsável por este comportamento de contrair-se, mesmo que a ligação entre os dois ainda não tenha sido demonstrada. “Tremores são associados a muitas doenças neurodegenerativas”, disse a pesquisadora. “A carga viral poderia participar diretamente da duração da paralisia e dos tremores vistos em joaninhas zumbis”.

Enquanto algumas vespas parasitas são conhecidas por usar vírus como armas, esses chamados polidnavírus são diferentes do DcPV porque acredita-se que eles ajudem a derrubar as defesas imunitárias de lagartas e outros animais hospedeiros. Outra diferença fundamental é que os polidnavírus co-evoluíram com as suas particulares espécies de vespas de uma maneira tão próxima que seu DNA é integrado no genoma do animal. Diante disso, alguns cientistas questionam se esses “vírus” podem até ser chamados de vírus.

Segundo Michael Strand, professor de entomologia do Departamento de Genética da Universidade da Geórgia, em Atlanta, o DcPV, em contraste, é um “vírus livre” e pertence a um grupo que até então não era conhecido por manipular anfitriões para o benefício de seu parasita.

Mistérios zumbis

Strand, que não estava envolvido no novo estudo, descreveu os resultados como “fascinantes” e disse que ele suspeita que estes vírus podem ser bastante difundidos. Porém, advertiu, os dados apresentados “não mostram definitivamente que as alterações no comportamento do hospedeiro são estritamente devido ao DcPV”.

Dheilly admite que são necessários mais estudos para determinar as funções exatas do vírus e da vespa no controle das joaninhas. “É provável que tanto o DcPV quanto a D. coccinellae sejam necessários para acionar com sucesso o comportamento de guarda-costas”, explica.

Também não está claro se as vespas são capazes de se reproduzir com sucesso sem o DcPV, ou se a sua aliança sinistra é uma da qual a vespa e o vírus precisam igualmente, a fim de prosperar. Tampouco se sabe se o vírus tem qualquer impacto negativo sobre as vespas. Uma vez que todas no estudo testaram positivo para o DcPV, não se sabe como seria este inseto sem o vírus.

Quanto às joaninhas, nem tudo é má notícia. Surpreendentemente, apesar de terem seu interior devorado e então serem zumbificadas, cerca de um terço se recupera de seu calvário. [National Geographic]

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