Você deve gesticular enquanto fala?

Por , em 23.04.2014

Gesticular enquanto fala parece tão natural que a gente faz isto sem nem se perguntar por quê Gesticulamos para enfatizar uma ideia, para recusar um cumprimento, para apontar um ponto obscuro, e para ajudar quem está nos ouvindo a seguir o fio da meada.

Mas também fazemos gestos quando não tem ninguém olhando, como no telefone ou quando estamos no escuro, ou até mesmo quando falamos sozinhos. Até cegos gesticulam ao falar com outros cegos.

Eu falei que não nos perguntávamos o por quê? Bom, os cientistas são curiosos de nascença e notaram este comportamento. E quando um cientista se interessa por algo, pode contar com uma pesquisa e resultados interessantes.

No caso dos gestos, aparentemente eles beneficiam muito mais a quem está falando do que quem está ouvindo. Mais do que ajudar a compreender uma ideia, os gestos ajudam a organizar os pensamentos e alinhavar as palavras de acordo com as ideias, segundo estudos recentes.

Quer um exemplo? Peça para alguém falar sem usar uma letra qualquer, ou adotar um vocabulário obscuro, e as mãos vão voar para lá e para cá. Já existem evidências científicas desta relação entre gestos e formação das frases. Um estudo, por exemplo, mostrou desenhos do Tom e Jerry, e depois pediu que os participantes descrevessem as cenas que viram. Os que tinham uma memória verbal mais pobre, mesmo tendo um bom vocabulário, eram os que mais tinham mais tendência a usar gestos ao recontar os trechos do desenho.

E por que isto? Os psicólogos chamam o processo de produção da fala de “pensar para falar”, ou seja, organizar uma ideia em frases e palavras e em sons. Os gestos ajudam a organizar os pensamentos, e quanto mais complicado o “pensamento para falar”, mais “batemos as asas”.

Mas se gesticular é tão útil, por que não gesticulamos o tempo todo? Maureen Gillespie, uma das pesquisadoras do assunto, relata que o motivo não é claro. Parece que, a certo ponto, nós atingimos um limite, a partir do qual as mãos não conseguem mais recuperar informações.

E isto não quer dizer que não é possível treinar para usar gestos e se tornar mais eficiente nisso. Crianças, por exemplo, podem aprender a usar gestos para lhes ajudar a resolver problemas de matemática ou criar novas estratégias de resolução de problemas. Ainda não houveram estudos sobre o assunto em relação a adultos.

O campo ainda está aberto a pesquisas, e talvez um dia alguém descubra que a gesticulação influencia nosso pensamento, já que alguns estudos mostraram que há relação entre a gesticulação e a memorização de informação espacial ou visual, ou até mesmo que nos ajuda a ter empatia. [The American Scholar]

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