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“Energia mental”: como melhorar seu desempenho cognitivo através da dieta

Se você costuma tomar um cafezinho para acordar, pode obter, sem saber, outras vantagens a partir dele.

Segundo uma nova pesquisa, certas comidas não despertam e impulsionam só a atenção, mas também o desempenho cognitivo. A afirmação vem de vários estudos, alguns deles com rações militares com cafeína, que fazem mais do que evitar a sonolência.

As forças armadas americanas pretendiam aumentar a capacidade de seus soldados de manter longos períodos de intensa vigilância e atenção, bem como aumentar o que certos cientistas chamam de energia mental, que inclui não só a vigília, mas também o humor, a motivação e a capacidade para realizar tarefas-chave mentais.

Aumentar a energia mental é importante para aqueles cujo trabalho exige vigilância mesmo em face da privação do sono.

Ao que parece, certos compostos podem fazer mais do que manter alguém acordado: também podem aumentar outros aspectos do desempenho mental. Mas os dados podem ser difíceis de interpretar, principalmente porque não existe nenhum teste para medir diretamente a energia mental, que deve ser inferida a partir de outros indicadores.

Existem mais dados sobre a cafeína na promoção da energia mental do que qualquer outro componente da dieta. Ela estimula a atividade da adenosina, molécula que diminui a frequência cardíaca e induz a sonolência. Ou seja, a cafeína lhe acelera bloqueando algo que normalmente lhe retardaria.

Pesquisas indicam que menos de 32 miligramas de cafeína – o inferior a uma xícara de café normal – já melhora a atenção visual e auditiva.

A cafeína ajuda sempre – as pessoas estando cansadas ou não, com sono ou não. Os trabalhos mais recentes testaram os efeitos da cafeína em tarefas especialmente relevantes para os militares. Por exemplo, um estudo realizado durante um treinamento analisou os efeitos da cafeína após 72 horas de privação de sono e exposição ao frio e outros fatores de estresse.

Mesmo esgotados, aqueles que beberam entre 100 e 300 miligramas de cafeína uma hora antes de uma bateria de testes mentais erraram menos e responderam mais rapidamente. Quando tiveram que procurar imagens que apareciam por alguns segundos numa tela, os sem cafeína apresentaram uma média de 7,9 corretos de 20, enquanto os com cafeína fizeram em média 10,6 a 12,2 acertos. Os sem cafeína também tiveram um tempo de resposta quase 30% menor. Outras tarefas, incluindo teste de pontaria, não foram afetadas.

O chá, que as pessoas tomam por todo o mundo mais do que qualquer outra bebida, exceto água, é a maior fonte alimentar de cafeína. Ao contrário do café, o chá contém um ingrediente potencialmente poderoso para a atividade do cérebro: L-teanina, um aminoácido que pode alterar os ritmos de ondas alfa do cérebro, induzindo o relaxamento alerta.

Pesquisadores observaram que a atividade de ondas alfa tem sido associada a um melhor desempenho sob estresse e melhor aprendizado e concentração, bem como redução da ansiedade.

Estudos indicam que o chá não aumenta o desempenho em todos os tipos de testes mentais. Os maiores impactos estão no que é conhecida como função executiva: a capacidade de executar tarefas complexas que dependem de planejamento e tomada de decisão.

Em uma pesquisa recente, 26 voluntários beberam ou chá forte ou um placebo antes de realizar testes. Um teste pediu aos participantes para ouvir as regras sobre a forma de reagir a sons ou imagens em uma tela de computador, e as regras mudavam a cada poucos segundos durante cada sessão de cinco minutos.

Os homens e mulheres responderam corretamente no teste auditivo quase duas vezes mais depois de beber chá em vez de placebo. Os participantes também foram mais precisos depois do chá em um teste que observou a capacidade de planejar e executar decisões.

E tarefas mentais não consomem muita energia? Pensar, calcular, planejar, aprender, lembrar; tudo gasta muita caloria do nosso corpo. Como a glicose, ou açúcar, é o combustível do corpo e do cérebro, pode parecer que uma boa dose de doces seria ideal para abastecer a mente. No entanto, pessoas com diabetes e níveis elevados de açúcar no sangue podem sofrer de deficiências cognitivas. O que acontece?

Estudos começaram a sondar essa aparente contradição. Alguns relataram uma melhora no desempenho mental quando pessoas saudáveis tomavam bebidas fortificadas com pelo menos 50 gramas de glicose. Beber glicose 15 minutos antes do início de testes levou à melhores resultados. A glicose pareceu especialmente benéfica em tarefas que exigem mudança e divisão de atenção. Outra pesquisa mostrou que o açúcar melhorou a recordação imediata de palavras e cálculos.

Ainda existem outras substâncias energizantes, como o guaraná. As sementes desta planta da Amazônia são uma fonte especialmente potente de cafeína – porém, os pesquisadores ainda não sabem como a cafeína age no guaraná.
Ainda assim, cientistas já descreveram os benefícios cognitivos de pequenas quantidades de guaraná – mais benefícios em doses pequenas do que elevadas: 4 a 9 miligramas de cafeína são suficientes.

Além disso, outros produtos naturais podem elevar a energia, atenção e desempenho mental, entre eles, o ginseng chinês (Panax ginseng). Jovens apresentaram melhor desempenho em uma bateria de testes mentais, incluindo a subtração de números de série em suas cabeças, e exibiram menos fadiga mental após receber este suplemento à base de plantas ao invés de um placebo. O ginseng americano (P. quinquefolius) também se mostra promissor. Os efeitos de algumas dessas plantas podem ter a ver com a glicose no sangue e com o fluxo sanguíneo.

Mesmo com todas essas recentes descobertas, o conceito é novo e os pesquisadores da área alertam os consumidores: não acreditem em rótulos e propagandas. De fato, muitos produtos clamam estimular a energia mental, porém, tais alegações são raramente apoiadas por provas imparciais e científicas. De qualquer forma, muitos testes foram feitos e uma nova geração de pesquisas mais focadas e comprometidas devem surtir resultados mais definitivos sobre as vantagens dos alimentos no desempenho das pessoas.

Ainda assim, alguns estudos mais antigos já concluíram que certas substâncias alimentares (mencionadas no texto) podem estimular habilidades mentais. Confira o resumo:

Cafeína: aumenta vigilância visual e auditiva; aumenta a velocidade de reação; melhora a precisão e limites de falsos positivos em tarefas de vigilância; aumenta a aprendizagem e memória de curto prazo em testes de computador que exigem respostas-chave.

L-teanina: aumenta a velocidade e precisão de reconhecimento de padrões que mudam de forma arbitrária ao longo do tempo; aumenta o relaxamento; aumenta a precisão do processamento de informações visuais rapidamente entregues; reduz a suscetibilidade à informação; distrai durante testes de memória. Pode melhorar aspectos do desempenho cognitivo quando tomada com cafeína, como no chá.
Glicose: melhora a memória de palavras ou imagens recentes; aumenta fluência verbal; melhora o ritmo de alguns tipos de subtração de série; aumenta velocidade de decisão; aumenta o reconhecimento facial; e, entre as crianças, aumenta os limites da vulnerabilidade à distração quando se trabalha sozinho.
Guaraná: aumenta a vigilância e a capacidade de recordar palavras e imagens a longo prazo. [ScienceNews]

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