Dois grandes inimigos humanos: o HIV, vírus que causa a AIDS e mata 2 milhões de pessoas por ano no mundo, e a malária, propagação de parasitas difundida por mosquitos, que infecta 225 milhões de pessoas e mata 781.000 por ano.
A AIDS tem devastado nossa espécie desde que se espalhou de macacos meros 40 anos atrás. A malária tem sido um “pé no saco” por tanto tempo, que nossos corpos até evoluíram formas de combatê-la.
Os dois assassinos, novo e velho, têm algumas semelhanças moleculares. Devido a isso, novas pesquisas estão desenvolvendo uma “superdroga” que poderá combater as duas doenças de uma vez.
Essa droga é inibidora da protease do HIV, um medicamento que os cientistas projetaram especificamente para tratar o HIV. Proteases são enzimas que cortam as proteínas em sua forma correta, permitindo que se tornem ativas.
Inibidores da protease do HIV impedem o vírus HIV de fazer esse trabalho. Assim, as proteínas do HIV permanecem intactas e inativas, e as unidades de HIV, chamadas vírions, não podem criar novos vírions.
O corpo possui mecanismos naturais para matar os vírions do HIV, mas só consegue matar um certo número ao mesmo tempo; quando a droga impede a replicação do vírus, mantém a população de células do HIV a um nível que o corpo consegue lidar.
Segundo os pesquisadores, os inibidores da protease do HIV estão em uso clínico agora e são uma droga líder. Eles mudaram completamente a face do tratamento do HIV nos últimos anos: graças a esse medicamento, as pessoas não morrem mais de AIDS.
Ao longo dos últimos anos, alguns pesquisadores descobriram que a droga também tem propriedades anti-malária. Eles acreditam que os inibidores da protease do HIV também desligam uma protease presente no parasita da malária.
Um estudo descobriu que as drogas anti-HIV impedem que o parasita se replique em ratos. Nenhum teste foi realizado em humanos, mas os resultados iniciais em ratos fazem pesquisadores defenderem o uso exclusivo de inibidores de protease para o tratamento do HIV na África.
Segundo eles, na África, onde o HIV e a malária se sobrepõem muito, as drogas anti-HIV funcionam, inibindo as duas doenças ao mesmo tempo. No momento, os inibidores da protease só são úteis para combater a malária em pessoas que já têm o HIV.
Eles são mais tóxicos do que muitos dos medicamentos usados para combater a malária por si só, e assim não seria um remédio dado a uma pessoa apenas para tratar a malária. Mas, se os inibidores da protease puderem ser ajustados para serem menos tóxicos, se tornam viáveis como remédio apenas contra malária.
E quando isso acontecer, vai ser uma arma útil contra a doença, porque a malária desenvolve rapidamente imunidade a medicamentos anti-malária. Novas drogas são sempre extremamente necessárias.
No entanto, a fim de desenvolver uma droga anti-malária baseada na droga anti-HIV, a protease específica da malária que é alvo de inibidores da protease do HIV deve ser encontrada.
Até agora, os cientistas têm reduzido a classe de proteases que podem conter a protease alvo, mas não acharam a específica. Por causa do ciclo de vida complicado da malária, e seu genoma incomum, é muito difícil expressar as proteínas da doença em laboratório, o que torna o trabalho lento.
Contudo, a resposta pode ter acabado de chegar. Cientistas britânicos podem ter encontrado uma protease inibida pelo inibidor da protease do HIV no parasita Leishmania, um parente da malária.
Embora a protease, chamada Ddi 1, não tenha sido identificada nos casos de malária, os pesquisadores acreditam que pode muito bem ser a protease alvo que todos procuram. E quando ela for encontrada, a “droga maravilha” anti-HIV pode ser reformulada para fazer maravilhas contra a malária também.