Stacy Porter, 29, não lembrava o tempo quando não sofria de uma impiedosa enxaqueca antes de fazer uma cirurgia que mudou a vida dela em oito anos. “Fui diagnosticada com enxaqueca quando tinha dois anos de idade. Eu tinha uma dor severa de enxaqueca em cerca de 15 dias por mês”, relembra a executiva de marketing de New Philadelphia, Ohio, EUA.
Os sintomas de Stacy incluíam dor palpitante nas têmporas, náusea e sensibilidade severa a luz, em que ela precisava usar óculos escuro para fazer exame final na escola ou faculdade.
Nenhuma das drogas usadas para prevenir a enxaqueca ajudou. O único alívio para ela vinha de medicamentos que amenizavam a dor, mas a deixava se sentindo drogada e fora de si. Tudo mudou quando, aos 21 anos, Stacy fez uma cirurgia similar daquelas feitas tipicamente para remover rugas. “Depois disso nunca mais tive outra enxaqueca”, conta.
O cirurgião plástico Bahman Guyuron, da Case Western Reserve University, disse que o resultado de Stacy é comum, e um estudo recente dele sobre isso foi publicado.
Lifting da região frontal acaba com a enxaqueca
Na última década, Guyuron tem tratado mais de 400 pacientes que sofrem de enxaqueca com uma versão modificada do tradicional ergumento cirúrgico da região frontal. Ele conta que a maioria do tratamento tem mostrado uma dramática melhoria. Seu novo estudo publicado foi feito para convencer críticos que ainda são céticos no uso da cirurgia plástica para tratar enxaquecas.
O cirurgião e seus colegas selecionaram 75 pacientes aleatoriamente com sintomas iniciados em locais específicos de enxaqueca para fazer cirurgia real ou falsa. Os pacientes não sabiam qual tipo de cirurgia iriam receber.
No grupo da cirurgia real, os nervos foram cortados em lugares específicos da enxaqueca. Em alguns casos, como o de Stacy, o nervo era o mesmo cortado para eliminar rugas. Em outros, o nervo era cortado para aliviar as linhas entre as sobrancelhas (de franzir).
A cirurgia age como as injeções de Botox – agora usado consideravelmente, embora não seja aprovado para tratamento de enxaquecas. De fato, os pacientes do grupo de cirurgia real, receberam antes injeções de Botox para determinar se eles eram bons candidatos para cirurgia. Ao todo, 49 pacientes receberam a cirurgia de verdade, e 26 a cirurgia de mentira.
Um ano depois, 83% do grupo da cirurgia efetiva informaram que houve 50% de redução de enxaqueca, comparado com 57% do outro grupo. Ainda mais surpreso, 57% dos pacientes da efetiva tiveram eliminação completa da enxaqueca, comparada com apenas 4% dos pacientes da cirurgia falsa.
O estudo aparece na edição de agosto na revista Plastic anda Reconstructive Surgery. “Nós não vemos resultados como esses nos estudos da enxaqueca. Até mesmo as pessoas mais céticas terão de aceitar que existe algo nisso”, analisa Guyuron.
A cirurgia não é para todos
Segundo Guyuron, a cirurgia não é uma boa opção para pacientes que tem enxaquecas esporádicas e para aqueles que reagem bem aos tratamentos preventivos. “Nós estamos falando algo entre 10 a 15% de pacientes com enxaqueca que seriam bons candidatos para cirurgia”, completa.
O neurologista, Richard B. Lipton que dirige a unidade de dor de cabeça no Montefiore Medical Center, no Bronx, diz que o projeto do estudo e o resultado dramático ajudou a convencê-lo que a abordagem cirúrgica é legítima. “Eu era cético a respeito disso, mas apesar dos meus melhores esforços para não ser, estou muito animado com os resultados”, conta.
Lipton mostrou preocupação no estudo dos participantes que, deveriam na realidade, saber sobre o tratamento que eles estavam recebendo, o que pode ter afetado nos resultados.
Alexander Mauskop, que dirige o New York Headache Center, teve a mesma reserva sobre o processo. Mauskop foi um dos primeiros especialistas em dor de cabeça nos EUA em usar botox regularmente para enxaqueca, e trata agora cerca de 60 e 70 pacientes por mês com 70% de efeito. Os pacientes injetam tipicamente Botox a cada três meses, custando de $750 a $1,000 por aplicação.
“O problema que tenho com a cirurgia é que as dores de cabeça vêm e vão. Elas [dores] podem acabar com a menopausa (…). A cirurgia é um tratamento permanente para uma condição que raramente é permanente”, explica. Mauskop oferece a seus pacientes, diversas opções de tratamento variando desde as terapias com drogas tradicionais a alternativos como a acupuntura.
O médico Robert Kunkel tem tratado enxaqueca por mais de quatro décadas na Clínica de Cleveland, e serve no conselho da National Headache Foundation. De acordo com Kunkel, ele tem visto muitas abordagens cirúrgicas indo e vindo durante sua carreira. “Existe muita animação, mas nenhuma realmente durou”, diz.
Mas, Stacy Porter diz que não há dúvida que, como ela, muitos pacientes com enxaqueca intratável podem ser ajudados com a cirurgia. “Mudou minha vida completamente. Eu voltei para fazer um checkup com o Dr. Guyuron por sete anos (…). E ele e eu sempre nos emocionamos toda vez que vou lá”, finaliza. [WebMD, agradecimentos ao Dr. Dourado]