Michael Callahan tinha 17 anos quando perdeu sua memória recente, ao bater a cabeça em um acidente de skate. “Os caminhos neurais do meu cérebro ficaram confusos”, lembra o jovem. Em poucas semanas, tudo havia voltado ao normal, mas o incidente fez com que ele pensasse como poderia ajudar pessoas que perderam habilidades corporais importantes. Cinco anos após seu acidente, Callahan encontrou um modo de ajudar: ele criou o Audeo, um pequeno dispositivo que detecta a atividade elétrica entre o cérebro e as cordas vocais e a transforma em um discurso audível.
Quando as pessoas falam, três coisas acontecem: os pulmões liberam ar, as cordas vocais vibram para criar som, e a boca se mexe. O aparelho criado por Callahan ajuda pessoas que sofreram problemas em algum desses processos, devido a doenças, traumas no cérebro ou esclerose, por exemplo. O sistema auxilia as pessoas que têm o cérebro e as cordas vocais intactas, mas que têm problemas para mover os pulmões ou a boca.
Três pequenos eletrodos localizados na garganta captam sinais elétricos gerados entre o cérebro e as cordas vocais. Um processador no aparelho filtra e amplifica os sinais e os manda para um computador conectado ao sistema, onde um software decodifica os sinais e os transforma em palavras, através das caixas de som do computador. Ao colocar os eletrodos no pescoço e “falando” silenciosamente através de movimentos das cordas vocais – sem mover a boca – o usuário do aparelho gera atividades neurais suficientes para desencadear o processo.
Callahan passou quatro anos estudando como filtrar a criação de sons indesejados, como as batidas do coração do usuário do sistema, para detectar apenas os sinais necessários para a síntese da fala. Apesar do processo bem-sucedido do criador do sistema, ele não é o único estudando uma forma de aperfeiçoar a fala “silenciosa”. A Nasa, agência estadunidense de exploração espacial, também está desenvolvendo um sistema semelhante para permitir que astronautas se comuniquem mesmo quando estão muito distantes ou em um local com muito ruído.
A versão do sistema criada pela Nasa, entretanto, utiliza o reconhecimento de padrões para “falar”, e só reconhece palavras pré-programadas. Já o Audeo permite que pessoas utilizem todos os fonemas existentes na língua inglesa, então não há um limite do que o usuário possa dizer.
Apesar de seus resultados animadores, o Audeo ainda necessita de melhorias antes de chegar a ser comercializado. Atualmente o sistema só consegue captar 30 palavras por minuto, o que equivale a apenas 20% da velocidade de fala normal. Além disso, aprender a “linguagem” de falar em fonemas demora alguns dias de treinamento. Porém, uma vez dominado, o sistema do aparelho permite que pessoas conversem sem fazer nenhum som corporal.
A empresa criada por Callahan também está desenvolvendo uma interface para o sistema em celulares, para que o computador possa ser tirado de cena, reduzindo o preço do sistema e aumentando a sua mobilidade. A previsão é que o Audeo esteja disponível comercialmente em cinco anos. [Popsci]