2010 viu grandes avanços na ciência e medicina: médicos alemães curaram a AIDS pela primeira vez em um homem; uma droga chamada PLX4032 “derreteu” os tumores de pacientes com melanoma que não tinham mais opções de tratamento; e cientistas criaram a primeira “vida sintética”. Quais avanços significativos devemos esperar para 2011? Confira essa lista baseada no que dizem os especialistas:
Esse ano, médicos alemães anunciaram que tinham curado um paciente norte-americano do vírus da AIDS. O homem também sofria de leucemia mielóide aguda, um câncer de sangue mortal, e em 2007 os médicos realizaram um transplante de medula óssea para tratar a doença. Eles tiveram a sorte de encontrar um doador de medula óssea com uma mutação rara, chamada Delta 32, que oferece resistência natural ao vírus da AIDS. Três anos após o transplante, o paciente continua sem mostrar sinais de HIV. Além desse caso, outro avanço científico deve ajudar as pessoas a combater o HIV em 2011. Em 2009, estudos tailandeses mostraram uma vacina que poderia reduzir o risco de contrair HIV em cerca de 30%. Refletindo sobre o caso da conquista alemã, apenas uma pequena fração de pacientes com HIV seriam capazes de encontrar um doador compatível naturalmente resistente, e, mesmo assim, os pacientes correriam o risco de morrer a partir do transplante de medula óssea. Em teoria, transplantes de medula óssea podem curar a AIDS. Mas certamente não é algo que pode ser aplicado mesmo em pequena escala. Sendo assim, resultados baseados na vacina experimental estão previstos para serem anunciados em meados de 2011 e devem mais úteis no combate a doença.
Milhões de pessoas sofrem de fibrilação atrial. Em 2011, um dispositivo que congela o tecido do coração poderá ser a solução para a condição. Um coração saudável se contrai a um padrão cronometrado de sinais elétricos, mas pessoas com fibrilação atrial têm sinais elétricos irregulares, que fazem com que as câmaras superiores do coração tremam em vez de baterem. Isso pode levar à fadiga, falta de ar, e até mesmo derrame. Um novo dispositivo de sistema de cateter, que congela seções do tecido do coração, foi aprovado recentemente. Os médicos podem usar o novo dispositivo para bloquear os sinais irregulares que criam a fibrilação atrial, o que cura a doença em 70% dos pacientes. A técnica antiga usada para tratar a condição queimava o tecido do coração com a energia de rádio-frequência. Apesar de ter uma faixa semelhante de sucesso, a nova técnica é mais fácil e dará chance a mais pessoas de receber a terapia.
Cirurgias estomacais para perda de peso são, por vezes, o tratamento mais eficaz para a obesidade, embora sejam uma das soluções mais controversas. Este ano a possibilidade da perda de peso através da cirurgia laparoscópica, ou bariátrica, vai chegar a milhões de pessoas nos EUA, onde a obesidade atingiu status de epidemia.
Até recentemente, apenas as pessoas com índice de massa corporal (IMC) de pelo menos 40, ou com IMC de 35 ou mais e outros problemas de saúde sérios relacionados a obesidade, eram candidatos para essa cirurgia. O procedimento consiste em colocar um anel de silicone inflável ao redor da porção superior do estômago e o contrair. Agora, a Administração de Alimentos e Drogas dos EUA aprovou a mudança desses critérios: a maioria das pessoas com IMC de 35 ou superior, e pacientes com um IMC de 30 ou superior que também tenham outra condição médica grave podem se submeter à operação.
Muitos especialistas consideram a cirurgia o melhor tratamento. Elas certamente têm uma taxa de sucesso maior do que a dieta e o exercício. Mas os médicos alertam sobre os perigos de abrir o corpo de um paciente, quando há outras opções. O problema com qualquer tipo de cirurgia é que elas são invasivas e têm riscos associados. Apenas 2% dos pacientes que preenchem os critérios para a cirurgia de perda de peso realmente se submetem ao procedimento, em parte por causa dos riscos. Devido a isso, abaixar o critério em 5 pontos no IMC talvez não mude drasticamente as chances de uma pessoa obesa se submeter ao procedimento. Ainda assim, as cirurgias, mesmo que não sejam frequentes, têm contribuído para o entendimento de como o corpo pode perder ou manter peso. Os médicos costumavam pensar que a cirurgia funcionava porque tornava o estômago menor, mas cientistas descobriram evidências de que a cirurgia realmente muda mecanismos fisiológicos do corpo que, eventualmente, determinam se uma pessoa engordará ou não.
Muitos países estão preocupados com a obesidade a ponto de tomar decisões mais práticas. Nos EUA, uma nova legislação aumenta a taxa de reembolso federal para a merenda escolar em 6 centavos (de dólar) por refeição. Além do aumento do orçamento, o Departamento de Agricultura dos EUA deve criar padrões de nutrição para os alimentos vendidos através de máquinas automáticas nas escolas. O objetivo é ensinar crianças de 5 ou 6 anos que os alimentos naturais podem ser muito gostosos. As crianças com 10 ou 12 anos que já são gordas provavelmente não pararão de comer no MC Donald’s. Mas a próxima geração talvez tenha uma alimentação mais saudável. Especialistas comentam que, quando a merenda escolar foi desenvolvida, há 50 anos, o foco era na desnutrição. Hoje, a obesidade é um problema maior, de forma que a mudança da legislação é excelente e adequada.
Nos EUA, uma lei exige que cadeias de restaurante indiquem as calorias de seus pratos ao lado dos itens correspondentes no menu padrão. Os médicos dizem que a iniciativa pode ajudar algumas pessoas que não percebem que o seu café com leite tem 300 calorias, ou que o seu prato favorito pode lhe adicionar mais de 1.000 calorias. Da mesma forma, pode não fazer diferença nenhuma. As pessoas que frequentam fast foods, por exemplo, já vão a esses estabelecimentos porque não se importam. As calorias também devem ser anunciadas em máquinas de venda automática e similares. O risco da lei é essencialmente zero, e o benefício é indeterminado. Sendo assim, teremos que esperar 2011 acabar para saber se a consciência ajudou – ou não – as pessoas.
Uma década atrás, o sequenciamento de um genoma humano custava cerca de R$ 5 bilhões. Ano passado custou cerca de R$ 16.000. Em 2011, o preço deve cair novamente, para cerca de R$ 7.000. E com menos entraves financeiros, mais avanços médicos a partir da investigação genômica devem surgir. Por exemplo, a análise dos genes de pacientes que utilizavam amplamente a droga cardíaca Plavix mostrou que dois genes – PON1 e CYP2C19 – determinavam como uma pessoa iria responder ao Plavix. Esses dois genes explicaram por que essa droga, a segunda maior do mundo, é tão inconsistente. Dois terços dos pacientes de Plavix têm benefícios, mas os outros ou não vem os efeitos da droga ou sofrem de efeitos colaterais. A genotipagem também já encontrou mutações que determinam a resposta de uma pessoa para outros medicamentos e terapias. Sendo assim, a análise genética ajuda os pacientes vai ajudar os pacientes a economizar muito dinheiro e a não tomar medicamentos que não lhe são benéficos.
O baixo custo do sequenciamento do genoma também trará boas notícias na pesquisa do câncer. Com tecnologias mais rápidas e avançadas, é cada vez mais viável para os pesquisadores de câncer comparar o genoma uma pessoa ao genoma mutado de um paciente com tumores a fim de encontrar os genes que estão “dirigindo” o câncer. Em outras palavras, os pesquisadores serão capazes de descobrir os genes que tornam as células cancerosas ou as fazem agirem como cancerosas. Esse tipo de pesquisa já beneficiou pacientes com melanoma. Uma pesquisa genômica mostrou que pacientes com melanoma que têm uma certa mutação podem ou não se beneficiar do medicamento para a condição, enquanto outros pacientes cujos tumores não têm essa mutação provavelmente piorarão com a droga. Segundo os especialistas, tais estudos só melhorarão em 2011. [LiveScience]